Dos despedimentos à frota, como a aviação enfrenta a crise

Companhias aéreas tentam reduzir custos com pessoal e frota, numa altura de incerteza sobre o futuro do setor. TAP segue estratégia internacional enquanto recebe apoio financeiro do Estado.

A TAP nunca teve resultados tão negativos. Devido à pandemia, a companhia aérea portuguesa registou prejuízos de 582 milhões de euros no primeiro semestre do ano e adotou uma estratégia de combate à crise focada em cortar custos (especialmente despesa com salários) e travar a fundo nos investimentos. Lá fora, a tendência entre as companhias aéreas internacionais não é muito diferente.

A empresa anunciou, esta segunda-feira, o resultado negativo no período em que transportou menos 4,9 milhões de passageiros (ou 62%) do que no período homólogo, o que significou uma quebra de 730 milhões em receitas com passagens. Os custos de excesso de cobertura (overhedge) de jet fuel custaram 136,3 milhões de euros e as diferenças cambiais outros 58 milhões.

A deterioração da liquidez foi travada por uma diminuição nos gastos operacionais de 460 milhões de euros, o que representa um corte de 30% na despesa. Em lay-off desde o início de abril, os trabalhadores da TAP continuam com horário (e remuneração) reduzido no âmbito do regime de apoio extraordinário à retoma progressiva. A situação, que permite à empresa reduzir custos com salários e impostos, deverá manter-se pelo menos até ao fim de outubro.

Em simultâneo, a TAP renegociou o plano de renovação da frota que estava definido para os próximos anos por causa da quebra de atividade. Nesse sentido, foram adiadas as aquisições de 15 aviões, que iam ser entregues até 2025 (e passam agora para 2027), atirando para mais tarde o pagamento de cerca de mil milhões de dólares.

O impacto da pandemia na TAP é conhecido numa altura em que os Estados estão a recuar no desconfinamento devido ao agravamento do número de casos de coronavírus. Com os países a desaconselharem viagens e obrigarem, nalguns casos, a um período de quarentena para quem viaje, as perspetivas para o setor não são positivas.

A organização internacional de aviação Eurocontrol reviu recentemente em baixa as projeções para o tráfego aéreo em 2021, estimando que o número de voos na Europa se situe, em fevereiro de 2021, em níveis 55% abaixo dos registados em 2019. A Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA, na sigla em inglês) espera que este seja o pior ano de sempre para a aviação mundial com perdas de 84,3 mil milhões de dólares só em 2020.

“As receitas deverão cair ainda mais do que a procura com as companhias aéreas a descontarem significativamente os preços dos bilhetes para estimular o turismo. A profunda queda nas receitas está a levar a elevadas perdas monetárias devido aos custos fixos e semi-fixos. As companhias aéreas estão sob pressão para reduzir custos operacionais e 32 milhões de postos de trabalho relacionados com a aviação (incluindo turismo) estão em risco“, alerta a IATA.

Companhias cortam força de trabalho

Várias companhias áreas anunciaram despedimentos, com destaque para os 22 mil que vão abandonar a Lufthansa, os 12 mil da British Airways ou os 7.500 da Air France. Entre as low cost, a escandinava SAS lidera com o anúncio de um corte de 5.000 postos de trabalho, mas também a EasyJet (4.500) ou a Ryanair (4.000).

Às reduções no número de trabalhadores, acrescem os cortes salariais. É o caso dos pilotos da Lufthansa ou da cabin crew da British Airways. Nalgumas situações é mesmo apresentado de forma condicionada, como é o caso da Ryanair que tentou que os pilotos aceitassem a diminuição nos rendimentos em troca de manter aberta a base em Frankfurt, na Alemanha. Mas acabou por fracassar. A Icelandair ameaçou despedir a tripulação de cabine, passando as funções para os pilotos.

Com a IATA a projetar que o setor só regresse a níveis pré-pandemia dentro de quatro anos, as companhias cortam custos não só com pessoal mas também com a frota. Entre os maiores grupos europeus, há cortes que chegam a 20% no total de aviões, como é o caso da Iberia e que vai retirar 17 aeronaves dos ares. A tendência é transversal desde gigantes do setor como Lufthansa (que vai reduzir 150 aviões) a low cost como a easyJet (que pretende cortar 51 aviões).

Estas são apenas algumas das formas que as empresas do setor procuram enquanto tentam, simultaneamente, aumentar a liquidez para manter a operação, através de emissões de dívida, aumentos de capital ou outras operações de mercado. De acordo com as contas da agência Fitch, os apoios dos Estados europeus já fechados às companhias aéreas ultrapassavam, no final de junho, os 25 mil milhões de euros.

Os valores mais elevados cabem à Lufthansa e à Air France, mas também a portuguesa TAP está neste grupo. Após o reforço da participação do Estado no capital, a companhia aérea já recebeu 500 milhões de euros, podendo ainda vir a receber mais até um máximo de 1,2 mil milhões de euros.

Frotas ficam paradas em terra

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