Renováveis significam “euros a mais nos bolsos dos portugueses”, diz CEO da WindEurope

Na conferência da APREN, o CEO da WindEurope, Giles Dickson, garantiu que "quanto mais energia renovável, menos os portugueses vão pagar nas faturas". A APREN quer "dinheiro barato e prazos alargados"

Dinheiro barato e prazos mais alargados. Estes deverão ser os dois pontos-chave da estratégia de investimento nas energias renováveis em Portugal na opinião de Pedro Amaral Jorge, presidente da Associação Portuguesa das Energias renováveis (APREN): um melhor acesso ao financiamento e a custos reduzidos, por parte dos promotores dos projetos que estão a nascer no país, sobretudo no solar; e também mais tempo para a concretização desses mesmos projetos renováveis, muito devido aos imprevistos criados pela pandemia de Covid-19.

O cenário para a expansão das energias renováveis em Portugal num cenário de neutralidade carbónica na Europa até 2050 foi traçado na abertura da conferência anual da APREN Portugal Renewable Energy Summit 2020, que tem lugar esta terça e quarta-feira, 6 e 7 de outubro, na Culturgest, em Lisboa.

Numa mensagem gravada e exibida no início da conferência, Kadri Simson, comissária europeia da Energia, elogiou Portugal como “um dos países líderes das renováveis na Europa e no mundo”, já com 30% de energia limpa no seu consumo, uma percentagem que deverá crescer para os 47% já em 2030. “Desta forma estabeleceram um objetivo muito ambicioso para todos os outros países”, disse, elogiando também os projetos de Portugal para o hidrogénio verde. Kadri Simson está atenta e espera “ouvir mais no futuro” sobre a criação de um mega polo industrial para a produção de hidrogénio em Sines.

A responsável da Comissão Europeia pediu ainda a Portugal para “aproveitar os fundos comunitários para fazer fazer os investimentos estratégicos necessários” e sublinhou o enorme potencial para o país e para a Europa da energia eólica. Para novembro, Kadri Simson anunciou a apresentação de uma Estratégia Europeia para o Eólico Offshore.

Giles Dickson, CEO da WindEurope, confirmou a importância da energia eólica para a Europa, numa altura em que 17% da energia consumida no continente provém do vento. Sobre Portugal, Dickson disse que as energias renováveis vão cada vez mais significar “euros a mais nos bolsos dos consumidores portugueses”. Isto porque a eletricidade de origem limpa será produzida no país, evitando gastos com a importação de combustíveis fósseis.

“Quanto mais energia renovável, menos os portugueses vão pagar nas faturas”, antecipou o responsável da WindEurope, deixando dois conselhos ao país: fazer mais para investir todo o dinheiro que virá de Bruxelas para a transição energética e taxar de forma igual a eletricidade e o gás, para que os consumidores possam ajudar a promover a eletrificação. “Neste momento aquecer uma casa em Portugal com energia elétrica ainda é mais caro do que recorrer ao gás, e isso está errado”, defendeu.

Sobre as renováveis, Dickson defende que já provaram que são resilientes e isso vê-se pelo facto de as indústrias que consomem muita energia elétrica — que antes não gostavam das renováveis por serem intermitentes e mais caras — “agora batem-nos à porta porque querem as suas próprias centrais solares ou eólicas”.

“Temos de promover a procura de mais energia renovável. A indústria, as empresas e as famílias devem ter acesso a eletricidade limpa”, disse. Para isso é preciso: apoiar a cadeia de valor das renováveis, investir em inovação, evitar tarifas nas importações, permitir ao Banco Europeu de Investimento que apoie cada vez mais projetos, simplificar a atribuição das licenças de produção, investir em mão de obra especializada e promover o investimento privado.

“Se queremos atingir as metas de descarbonização e chegar a 60% de eletrificação, a próxima década vai ser a década do investimento nas renováveis. É preciso dinheiro para investir, mas com custos de capital baixos. E os bancos só emprestam esses mesmo dinheiro se existirem perspetivas de rendimentos garantidos, por isso a importância dos leilões”, acrescentou ainda Giles Dickson.

O CEO da WindEurope aproveitou para deixar vários recados à Comissão Europeia: apoiar mais o BEI; desenvolver o seu Plano de Recuperação Económica ao máximo; ser mais dura com os Planos Nacionais de Energia e Clima (PNEC) dos vários Estados-membros e exigir a sua “implementação rigorosa”.

“Para já, os PNEC são fracos nos detalhes, em como vão fazer a eletrificação, os leilões, a simplificação das licenças de renováveis”, rematou.

Do lado de Bruxelas, Paula Abreu Marques, chefe de unidade de Política de Renováveis e CCS da Comissão Europeia, garantiu que será publicado em breve o relatório das renováveis a nível europeu e que o mesmo mostrará quehá situações preocupantes em alguns países membros, por causa da pandemia”. Apesar disso, a UE quer duplicar a ambição das renováveis para 40%. Muito importante, sublinhou, é que nenhum Estado-membro seja esquecido: “A transição para a energia verde não pode deixar ninguém para trás”.

Já Walburga Hemetsberger, responsável da SolarPower Europe, frisou que “temos de ser mais ambiciosos com os objetivos das renováveis” e para isso faz falta investimento, defendendo que a Europa não deve fechar as fronteiras e negar parcerias na transição energética com grandes pot~encias como a China ou os EUA. No entanto, argumentou: “A pandemia de Covid-19 mostrou que é sensato termos a nossa própria indústria de renováveis”.

Mais ao nível ibérico, Juan Virgilio Márquez, da Associação Empresarial Eólica (AEE) de Espanha deixou claro que “sem a Península Ibérica o Green Deal europeu não se faz”, mas faltam ainda construir as “auto-estradas de energia entre Portugal e Espanha”. No ar deixou a possibilidade de serem realizados leilões comuns entre os dois países para as energias.

Em Bruxelas, e minutos antes de de votar a Lei do Clima, a eurodeputada portuguesa Maria da Graça Carvalho, sublinhou que “o Green Deal é a agenda de crescimento económico desta Comissão Europeia”. “Se a lei do Clima for aprovada, as diretivas das renováveis e eficiência energética, além de muitas outras, terão de ser revistas”, concluiu.

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