Descontos no 1 de Maio, abertura às 6h30 e uma “música irritante”, as polémicas à volta do Pingo Doce

Não é de agora, com a polémica da abertura às 6h30. Ao longo dos últimos anos, foram algumas as controvérsias a envolver a marca Pingo Doce. Da corrida aos descontos à música "irritante".

O Pingo Doce decidiu alargar o horário de funcionamento nos próximos dois fins de semana, abrindo as portas às 6h30 e encerrando às 22h00. Mas a decisão da marca do grupo Jerónimo Martins, que visa diluir a afluência de público, está a gerar polémica.

São várias as críticas nas redes sociais, com alguns utilizadores a considerarem que o horário é demasiado cedo e castiga os trabalhadores. O assunto já chegou também ao plano político, com o Bloco de Esquerda a classificar a medida de “um abuso” e de “concorrência desleal” para com o pequeno comércio. E algumas autarquias já avançaram unilateralmente com um travão à intenção da empresa.

Esta não é, porém, a primeira polémica a envolver a marca Pingo Doce. Ao longo dos anos, a cadeia retalhista da Jerónimo Martins tem-se visto envolvida noutras situações mediáticas, que incluíram descontos agressivos e até multas. O ECO recorda algumas delas.

Corrida ao Pingo Doce de 2012

A corrida ao Pingo Doce no Dia do Trabalhador de 2012, bem como a polémica que se gerou à volta dela, foi de tal dimensão que até mereceu a sua própria página na Wikipédia. Além disso, envolveu o antes, o durante e o depois.

No antes: os sindicatos do setor avançaram com um pré-aviso de greve para 1 de maio, para que “todos os trabalhadores pudessem comemorar o Dia Internacional do Trabalhador”. A Jerónimo Martins, mas também a Sonae, foram então acusadas de não respeitarem o direito à greve, por manterem a decisão de abrir portas no feriado de 1 de maio de 2012.

No durante: o Pingo Doce decidiu não só abrir portas como lançar uma mega campanha de descontos de 50% para todos os clientes que adquirissem mais de 100 euros em compras. A promoção atraiu milhares de clientes para as centenas de lojas do grupo por todo o país, gerando confusão e vários confrontos entre clientes.

Segundo noticiou o Expresso na altura, a Polícia de Segurança Pública (PSP) tomou nota de 40 ocorrências só nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto. Mas foram registadas “ocorrências em quase todos os distritos do país” relacionadas com a campanha de descontos do Pingo Doce.

Concretamente, um desentendimento entre dois clientes no Pingo Doce da Senhora da Hora, no Norte do país, levou mesmo a que ambos tivessem de ser transportados para o hospital.

Milhares de clientes aproveitaram os 50% de desconto do Pingo Doce em compras acima de 100 euros a 1 de maio de 2012. As autoridades registaram ocorrências em todos os distritos do país.PAULO NOVAIS/LUSA

No depois, o tema manteve-se nas notícias, esteve na base de sketches humorísticos e até chegou ao Parlamento. Nesse mesmo mês, Alexandre Soares dos Santos, então presidente do grupo Jerónimo Martins, explicou que a campanha visava recuperar “vendas perdidas” e que teria rendido entre 25 milhões e 27 milhões de euros.

Uma investigação da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) concluiu terem havido ilegalidades nessa campanha promocional do Pingo Doce. O processo foi então remetido à Autoridade da Concorrência (AdC), que multou a Jerónimo Martins em menos de 30 mil euros.

Um ano depois, a 1 de maio de 2013, as lojas do Pingo Doce ainda abriram com filas de clientes e policiamento reforçado, na expectativa de mais descontos. Mas a marca não avançou com qualquer campanha, noticiou o Sol.

Descontos de 50%, mas em light

A 1 de maio de 2014, o Pingo Doce voltou a aparecer nas notícias por causa das promoções durante o Dia do Trabalhador, mas agora numa versão mais light.

Segundo escreveu o Diário de Notícias nessa altura, a marca voltou a enviar uma mensagem aos clientes a dar conta de descontos de 50%, mas num conjunto limitado de 50 produtos. A promoção era acumulável com os descontos da semana.

Também por esta promoção o Pingo Doce foi multado. A ASAE aplicou uma coima de 500 mil euros por vendas com prejuízo (dumping) durante a campanha, já ao abrigo de uma nova lei sobre as práticas individuais restritivas de comércio que tinha entrado em vigor em fevereiro desse mesmo ano.

“Pingo Doce, venha cá”

A polémica remonta a outubro de 2009 e envolveu o então novo anúncio da marca, realizado pela agência brasileira Duda Propaganda, envolvendo o slogan “Pingo Doce, venha cá”. Muitos portugueses consideraram que o anúncio estava repleto de clichês e que a música, cantada por Cuca Roseta (Venha ao Pingo Doce de janeiro a janeiro / o preço é sempre baixo a loja toda, o ano inteiro), era “irritante”.

Um utilizador do Facebook decidiu criar o grupo “Gente que não grama o anúncio do Pingo Doce do Duda”, que chegou a contar com mais de 4.000 membros e a vender t-shirts contra a campanha. Outros se sucederam, nomeadamente o “Acabar com a Música do Pingo Doce” e “Movimento Fartinhos da Música do Pingo Doce”.

Segundo o Jornal de Negócios, um cliente dirigiu uma carta aberta ao Pingo Doce, pedindo à Jerónimo Martins e à agência que parassem de “maltratar” a marca. Na altura, a agência reagiu e afirmou: “Falem bem ou falem mal, o importante é que falem de mim.”

Contudo, apesar da polémica, aquele que o Diário de Notícias considerou “um dos anúncios mais irritantes do ano” foi também “o preferido de 70% dos consumidores”, de acordo com um estudo da GfK. O jornal noticiava, em dezembro, que a notoriedade da marca estava “no máximo, apesar das críticas”.

A controversa campanha foi imortalizada neste vídeo no YouTube. Mas abra por sua própria conta e risco: provavelmente, ficará com a música na memória durante alguns dias.

Abertura de lojas às 6h30

É a nova polémica a envolver o Pingo Doce: a empresa decidiu que, nos próximos dois fins de semana, por causa do estado de emergência, abrirá as lojas às 6h30 e encerrá-las-á às 22h00. O objetivo, segundo a marca, é o de diluir a afluência dos clientes para mitigar o risco de contágio pelo novo coronavírus.

Mas o anúncio não caiu bem junto dos sindicados, nem da esquerda nem de alguns portugueses. As Câmaras Municipais de Cascais, Matosinhos e Lisboa já se chegaram à frente e decretaram que as lojas não poderão abrir às 6h30. Vila Nova de Gaia prepara-se para fazer o mesmo.

Depois do apelo da coordenadora bloquista Catarina Martins, que considera a abertura às 6h30 “um abuso” para com os trabalhadores e “concorrência desleal” para com o pequeno comércio, o tema estará a ser debatido no Conselho de Ministros em curso. O partido exigiu a intervenção do Governo para travar a pretensão da empresa de retalho.

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