“A esperança do turismo era o Reino Unido. É um desastre”, dizem as agências de viagens

À espera do Natal e passagem de ano para dar um impulso ao negócio, hotéis e agências de viagens levam novo embate. Madeira e Algarve serão as regiões mais afetadas pela onda de cancelamentos.

Num ano em que o turismo ficou praticamente paralisado pela pandemia, o Natal e fim de ano traziam algum alento de recuperação antes do fecho das contas. Alento esse que foi atirado por terra quando, este fim de semana. Portugal decidiu vedar a entrada de passageiros vindos do Reino Unido para travar a disseminação da nova estirpe do coronavírus. O Algarve e a Madeira são as regiões mais afetadas.

O setor do turismo está a atravessar o pior momento da sua história. A grande esperança era o mercado britânico e isto é um desastre“, diz Duarte Correia, vice-presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) ao ECO sobre a decisão do Governo português de fechar fronteiras a passageiros vindos do Reino Unido (deixando apenas de fora nacionais ou residentes) que entrou em vigor esta segunda-feira. As restrições devem-se ao alerta feito pelas autoridades britânicas à Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a descoberta da nova variante do SARS-CoV-2, que é mais facilmente transmissível.

"O setor do turismo está a atravessar o pior momento da sua história. A grande esperança era o mercado britânico e isto é um desastre. Esta questão do Reino Unido tem impacto especialmente nos destinos de resort, como é o caso da Madeira e do Algarve.”

Duarte Correia

Vice-presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT)

“Esta questão do Reino Unido tem impacto especialmente nos destinos de resort, como é o caso da Madeira e do Algarve”, afirma o madeirense, que é acionista e administrador da plataforma W2M em Portugal, após ter sido CEO da Tui no país. “Na Madeira, havia uma grande expectativa quanto ao mercado britânico por causa da easyJet, da Tui e da Jet2 para o Natal e passagem de ano. Agora vêm dizer-nos que essas expectativas caíram por terra”.

As três companhias estão entre as que cancelaram voos ao longo desta segunda-feira. Só para a ilha da Madeira, foram cancelados cinco dos sete voos previstos para o dia todo vindos do Reino Unido. O governo regional esperava a chegada de 21.300 visitantes provenientes do Reino Unido para o arquipélago, segundo dados do secretário regional do turismo, à Lusa. Eduardo Jesus alerta que “naturalmente, o impacto será muito grande no Natal e no Fim de Ano”.

"Naturalmente, o impacto será muito grande no Natal e no Fim de Ano. Excluir todos os estrangeiros oriundos do Reino Unido fará uma grande diferença no que diz respeito à operação turística da Madeira.

Eduardo Jesus

Secretário Regional do Turismo

“O mesmo acontece com o Algarve”, considera Duarte Correia. O representante das agências de viagens lembra que, mesmo não sendo um destino tradicionalmente de inverno, o Algarve estava a trabalhar em campanhas turísticas para se afirmar como enquanto local para férias todo o ano. “Estava como destino de inverno e o mercado britânico vai desaparecer no Algarve. O mercado morre até que se saiba a abrangência desta nova estirpe“.

Os passageiros vindos do Reino Unido representam cerca de 50% das chegadas ao aeroporto de Faro e de 35% ao do Funchal. Além destas restrições, no caso de Portugal continental, os operadores turísticos já enfrentavam o desafio adicional de o Governo ter anunciado, na semana passada, que haverá afinal recolher obrigatório na passagem de ano, cancelando qualquer possibilidade de festejos e levando a restauração a encerrar às 22h30.

“Este é um ano em que tudo acontece e em que o fim de ano já estava muito condicionado quer pelas regras que se observa um pouco por toda a Europa, que são os nossos principais mercados emissores [de turistas para o Algarve], mas também no mercado nacional. E esta é mais uma adversidade, que obviamente também tem efeitos na região, que é a principal porta de entrada de britânicos no território nacional“, disse o presidente da Região de Turismo do Algarve, João Fernandes, à Lusa.

"Esta é mais uma adversidade, que obviamente também tem efeitos na região, que é a principal porta de entrada de britânicos no território nacional.”

João Fernandes

Presidente da Região de Turismo do Algarve

Ainda não é possível estimar as perdas que as novas restrições têm para o setor, mas Duarte Correia adianta que as reservas estavam a aumentar face ao mês passado. Apontando para a plataforma W2M que gere (que agrega dados a nível nacional) explica que a faturação total de novembro para a hotelaria se situava à volta dos 7 mil euros, o que compara com 150 mil euros por dia no mesmo mês do ano passado.

“Em dezembro já estava a aumentar por causa da vacina. Notámos um grande crescimento, mas agora pode acabar tudo”, diz. O vice-presidente APAVT considera que — além das consequências financeiras — há também um efeito negativo sobre a incerteza que traz. “Há muita imprevisibilidade e, por isso, é extremamente difícil tomar qualquer decisão quanto à abertura de hotéis ou agências de viagens. Toda a atividade turística está a trabalhar à semana ou até ao dia”, acrescenta.

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