Maya quer prolongamento das moratórias: “Só podemos tirar os apoios quando a economia voltar a normalidade”

Numa entrevista ao ECO e TVI24, o presidente do BCP, Miguel Maya, apelou ao prolongamento das moratórias no crédito. Mas avisa que, para tal, terá de existir um "enquadramento regulatório" europeu.

Miguel Maya, CEO do Millennium BCP, em entrevista ao ECO/TVI24 - 03MAR21
Miguel Maya, presidente executivo do BCP, em entrevista ao ECO e à TVI24.Hugo Amaral/ECO

O presidente do BCP fica “estarrecido” com a ideia de que o fim das moratórias é uma “bomba-relógio” para a economia. Numa entrevista ao ECO e TVI24, Miguel Maya disse que “só podemos retirar os apoios à economia quando a economia voltar a alguma normalidade”. “Porque é que estamos preocupados em sair do processo da moratória quando devíamos estar todos focados em resolver o problema da pandemia?”, questionou.

Está previsto que as moratórias públicas no crédito terminem em setembro, enquanto as moratórias privadas da banca devem terminar este mês. Sobre as privadas, o líder do BCP mostrou “convicção” de que “vão desaparecer”, porque “seguramente a APB só vai mexer no tema das moratórias se houver um enquadramento regulamentar a nível europeu”.

Já sobre as públicas, Miguel Maya afirmou: “Defendo muito as moratórias enquanto a pandemia não estiver resolvida.” Mas, aqui, disse ser essencial enquadramento europeu: “As moratórias têm de ter enquadramento regulatório ao nível do espaço em que os bancos hoje trabalham, que não é o espaço doméstico, mas o europeu.” E explicou que, ainda que os bancos, como o BCP, procurem soluções em conjunto com os clientes privados, numa lógica caso a caso, se não houver esse enquadramento, estes clientes vão ficar com um “estigma” e terão dificuldades em obter financiamento durante “muitos anos”.

Se assim for, “vamos importar um problema para o sistema financeiro”, alertou. “Defendo as moratórias enquanto tiverem enquadramento europeu”, acrescentou, salientando que a Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia deveria influenciar nesse sentido.

Se a economia estiver a funcionar com confinamentos [em setembro] como está hoje, é óbvio que [o fim das moratórias] será um problema”, rematou, reforçando, uma vez mais, que a renovação do prazo deve ter “enquadramento regulamentar europeu”. “Caso contrário, é um desastre para a economia portuguesa”, advertiu.

Se a economia estiver a funcionar com confinamentos [em setembro] como está hoje, é óbvio que [o fim das moratórias] será um problema.

Miguel Maya

Presidente executivo do BCP

BCP só precisará de capital em “cenários de inferno na Terra”

O presidente do BCP disse estar “positivo” em relação à possibilidade de a pandemia começar a “dissipar” no final do primeiro semestre. No entanto, sublinhou que “não fica tudo resolvido”. Tem de haver, indicou, um “balanceamento” entre as moratórias e o apoio do Estado.

Ainda assim, apesar das adversidades, Miguel Maya assegurou que o BCP está sólido. “Não tenho nenhuma perspetiva de que o BCP precise de capital. Nenhuma perspetiva… a não ser que a economia desabe, se perdermos o rating da República… cenários de inferno na Terra”, disse o gestor.

Assumindo, assim, um maior otimismo quanto à recuperação da economia portuguesa no segundo semestre, o presidente executivo do BCP anuiu quando questionado se a renovação das moratórias, num cenário de retoma, deverá abranger apenas os setores mais afetados pela crise da Covid-19.

“Muitas empresas estão a trabalhar acima de 2019. Temos que tratar de forma segmentada. Ir acabando com os segmentos que já não precisam de moratória, e, para os setores afetados, ir tendo a responsabilidade de encontrar soluções”, explicou.

Miguel Maya, CEO do Millennium BCP, em entrevista ao ECO/TVI24 - 03MAR21
Miguel Maya defende o prolongamento das moratórias públicas no crédito, desde que haja um enquadramento regulamentar europeu.Hugo Amaral/ECO

BCP trabalha três trimestres por ano, deixa um para pagar Novo Banco

Na entrevista ao ECO e à TVI24, o presidente do BCP voltou a criticar o mecanismo de capital contingente que está na base da capitalização do Novo Banco com dinheiro do Fundo de Resolução, pago pelo setor bancário.

Dizendo reconhecer que quando se deu a venda do Novo Banco ao Lone Star, “já não havia muitas alternativas”, o gestor afirmou: “Não é razoável que o BCP e os seus trabalhadores, no espaço em que estou a captar clientes, que é o espaço europeu, só estar a trabalhar três trimestres [por ano], porque num deles estou a pagar o mecanismo de capital contingente”, ressalvou.

Terminando a reestruturação do Novo Banco, Miguel Maya adverte que não é o fim. A dívida do Fundo de Resolução “está lá para pagar”. “Essa dívida fica um conjunto de contribuintes a pagar”, disse, referindo-se aos principais bancos portugueses. Dito isto, reiterou: “O BCP, contribuinte português, que gera emprego em Portugal, não teve nenhuma responsabilidade naquilo que se passou.”

Instado, por fim, a comentar o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) — e dizendo também não gostar do termo “bazuca” europeia –, Miguel Maya elogiou a escolha do Governo do gestor António Costa e Silva para desenhar o primeiro esboço do plano, assim como o documento ter ido a consulta pública. Aproveito para deixar um alerta: “Não podemos pensar em como gastar o dinheiro. Temos de pensar em como o investir.”

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