“Apesar do desconfinamento, ainda há incerteza”, avisa Centeno

Governador do BdP considera que apoios só poderão ser retirados quando "todos os setores" recuperarem. Sublinha que o momento traz oportunidades para investir numa economia mais verde e digital.

A economia portuguesa está a sofrer menos que o esperado com a pandemia e o segundo confinamento poderá ter um impacto até mais moderado, mas o governador do Banco de Portugal avisa que a incerteza é ainda demasiado elevada para retirar apoios. Mário Centeno sublinha que a retoma será uma oportunidade de adaptação às alterações da digitalização e finanças verdes.

Centeno explica que o desempenho da economia portuguesa acabou por revelar uma “recessão menos severa que o esperado” e que “é esperado que a contração nos primeiros meses de 2021 seja menor” do que a vivida no arranque do ano passado. O economista falava no Webinar “Investment, digitalization and green financing: The Portuguese case” organizado pelo Banco de Portugal em conjunto com o Banco Europeu de Investimento.

Após uma queda no produto interno bruto (PIB) do país de 7,6% em 2020, o Banco de Portugal espera um crescimento de 3,9% este ano. Já a taxa de desemprego deverá deteriorar-se de 6,8% em 2020 para 8,8% em 2021. Segundo o governador do Banco de Portugal, medidas como as moratórias bancárias ou as linhas de crédito com garantias do Estado foram responsáveis pelo desempenho.

Estas medidas explicam porque é que as empresas conseguiram manter trabalhadores“, considera, apontando as diferenças face à última crise, na qual houve uma intensa destruição de empregos. Avisa, no entanto, que há uma “linha fina” entre os dois cenários. “É por isso que é tão importante que estas medidas se mantenham até que todos os setores recuperem”.

Apesar do desconfinamento, “ainda há um certo nível de incerteza”, sublinhou Centeno, lembrando que o plano de reabertura por fases — que arrancou esta segunda-feira e que é acompanhado por um novo pacote de estímulos com 7 mil milhões de euros é condicionado à evolução da situação epidemiológica e da vacinação. “Não há descanso na luta contra esta crise“.

Covid-19 acelera investimento verde e digital

A par de reafirmar os alertas que já vinha a fazer sobre os riscos de uma retirada demasiado rápida de estímulos orçamentais e fiscais, Centeno apontou igualmente a importância da bazuca europeia na retoma da economia. Em especial, numa retoma focada na transição digital e verde. “O nosso desafio será não só recuperar, mas adaptar-nos a estas alterações“, disse o governador do Banco de Portugal.

O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) prevê 36 reformas e 77 investimentos, num total de perto de 14 mil milhões de euros de subvenções a fundo perdido, bem como 2,7 mil milhões de euros em empréstimos. À digitalização de empresas, administração pública e escolas irão caber cerca de 2,5 mil milhões de euros em subvenções. Já a economia verde deverá receber 2,9 mil milhões de euros.

Dado o elevado montante, Centeno alertou para a necessidade de escrutínio quanto aos investimentos, sublinhando que é especialmente difícil de controlar os investimentos verdes já que, em parte, podem fundir-se com investimentos tradicionais. Já a Comissária Europeia para a Coesão e Reformas, Elisa Ferreira, concorda com a importância dos fundos comunitários na aceleração da digitalização e neutralidade carbónica, colocando o foco na redução de desigualdades.

“Temos de olhar para a frente e para o futuro num mundo que está à beira de uma transformação fundamental. O Covid-19 foi um grande acelerador de tendência que já estavam a emergir: a transição tanto para uma economia digital como para uma nova organização da economia mais verde e neutra em carbono“, acrescentou Elisa Ferreira no mesmo webinar.

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