Dos automóveis aos computadores, várias empresas estão a ser afetadas pela escassez de chips
Várias empresas estão a ser afetadas pelos escassez de microchips. Da indústria automóvel aos computadores, sem esquecer os instrumentos óticos, são vários os setores que enfrentam constrangimentos.
O mundo está a assistir a uma crise mundial na oferta de chips, incluindo processadores e outros componentes semicondutores para a indústria automóvel e até para os computadores portáteis. Dos automóveis aos computadores, existem várias empresas portuguesas de diversos setores que estão a ser afetadas pela escassez de chips como o caso da Autoeuropa, Bosch, Inforlandia e JP Sá Couto.
A fábrica da Autoeuropa, uma das empresas que mais pesa no Produto Interno Bruto português, viu-se obrigada a parar a produção devido à escassez de chips. Irá produzir menos 5.700 automóveis devido à falta destes componentes eletrónicos. À semelhança da Bosch que também está a enfrentar constrangimentos devido a esta crise mundial na oferta de chips.
“Em Portugal há um conjunto de empresas de componentes que já vê as suas produções afetadas por falta de componentes eletrónicos e não conseguem abastecer as linhas de produção, quer dos construtores, quer dos fornecedores de primeira linha”, diz o presidente da AFIA, José Couto, em declarações à RTP3.
A Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA) explica ao ECO que o aumento da procura de chips da indústria automóvel começou quando as linhas de fornecimento de semicondutores (localizadas essencialmente na Ásia, nomeadamente em Taiwan) já estavam sobrecarregadas por uma procura significativa de chips do setor da eletrónica de consumo, para telefones e infraestruturas 5G, novas plataformas de videojogos, e equipamento informático.
Na ótica da AFIA, a Europa tem que apostar no fabrico e investigação & desenvolvimento de chips, para não estar tão dependente da Ásia. “O setor automóvel a nível mundial é responsável por cerca de 10% da procura de semicondutores, na Europa esse valor sobe para 37%, adianta, explica o secretário-geral da AFIA, Adão Ferreira. Uma opinião partilhada pelo ministro da economia, Pedro Siza Viera, que destacou que “esta crise mostrou aos Estados-membros, empresas europeias e cidadãos de que estamos dependentes de cadeias de valor muito alargadas”.
Numa altura em que a falta de “chips” já está a pesar na economia, o ministro da economia Pedro Siza Vieira vai debater com outros ministros da UE sobre reduzir a dependência europeia de fornecedores externos. Pedro Siza Vieira, questionado pelo ECO acerca da escassez mundial de chips, disse que a UE deve encarar não só a falta imediata como deve promover a produção destes componentes no mercado interno.
Jorge Cabral, administrador do Ceiia e professor universitário do departamento Eletrónica Industrial da Universidade do Minho, corrobora a ideia do ministro da economia e destaca que “o maior problema, prende-se com o facto de não termos produção na Europa deste tipo de material, não temos um backup que possamos usar porque as fábricas estão quase todas na Ásia. Essa dependência sai muito mais caro à Europa que ter uma ou duas fábricas em condições para este chips que necessitamos”, destaca.
Ainda no setor automóvel, ao contrário da Autoeuropa e da Bosch, a PSA e a Fuso – fábrica do Tramagal – não estão a ser afetadas por essa mesma escassez de chips. “Temos consciência que existe uma crise global, mas neste momento, na nossa fábrica em Mangualde, não estamos a ser impactados por essa escassez. A nossa produção está a correr nominalmente e a produção prevista para este mês está a ser feita”, explica ao ECO fonte oficial da PSA.
“Os nossos fornecedores estão a conseguir fornecer todas as peças que nós precisamos para fazer os automóveis. Não temos nenhuma visão de paragem de produção, estamos a trabalhar normalmente”, destaca a mesma fonte da PSA.
À semelhança da PSA, a fábrica do Tramagal não está a ser afetada “severamente” por esta escassez. “Não estamos a ser afetados de forma severa, pelo que nos tem sido possível até ao momento evitar qualquer paragem”, explica ao ECO, presidente e CEO da Fuso, Jorge Rosa.
Empresa que produz os “Magalhães” está a ser afetada pela escassez de chips
A pandemia da Covid-19 fez disparar a procura por telemóveis e computadores face à necessidade de trabalhar remotamente. Com esta adesão em massa, vários componentes eletrónicos começaram a ficar escassos o que dificulta a produção e a montagem de equipamentos eletrónicos. Esta escassez está a afetar empresas da área de produção e montagem de computadores, como é o caso da JP Sá Couto e da Inforlandia.
A JP Sá Couto, empresa que produziu há mais de uma década os computadores “Magalhães”, está a sentir o impacto da escassez de chips. A empresa que conta já com 31 anos de existência conta ao ECO, que no jp group, à semelhança do que acontece com o mercado, estão a sentir o impacto desta escassez de “forma muito acentuada e com tendência de agravamento“. A dimensão deste problema “é, de facto, preocupante. Estamos há mais de 30 anos neste mercado e nunca tínhamos assistido a uma falta generalizada de componentes como agora“, destaca Jorge Sá Couto, presidente do grupo JP.
No primeiro trimestre do ano, a JP Sá Couto tinha em stock os componentes necessários para produção, uma realidade diferente dos dois semestres que se seguem. “Os próximos dois trimestres preveem-se muito complexos, uma vez que a escassez de diversos chips na indústria é bastante significativa, sendo expectável que o impacto tenha reflexos tanto a nível de vendas, como a nível de preços – cuja crescente subida é já superior a 25% do preço normal de mercado”, explica ao ECO, o presidente do grupo JP.
Todavia, mesmo com a “expressiva falta de componentes” a JP Sá Couto não teve qualquer paragem na produção e não prevê uma paragem. “O crescimento do mercado tem sido muito elevado e a nossa previsão para o presente ano é francamente positiva”, destaca Jorge Sá Couto.
A Inforlandia, uma das principais empresas de micro-informática em Portugal, está a sentir a escassez deste tipo de componentes. “É uma escassez a nível mundial e afeta toda a gente. Nós temos conseguido ultrapassar as dificuldades, mas tem sido muito mais difícil encontrar esse tipo de componentes. Está um bocado complicado de facto”, conta ao ECO a diretora de marketing da Inforlandia, Rosário Belchior.
Apesar das dificuldades, a diretora de marketing da Inforlandia, empresa que conta com 25 anos de história, adianta que essa escassez de chips, “não está a afetar a produção, neste momento”. “Nós temos muitos parceiros, como já estamos há muitos anos no mercado, e vamos procurando fontes alternativas e jogando com todos os fabricantes que temos em carteira. Vamos conseguindo colmatar dessa forma”, afirma Rosário Belchior.
Numa entrevista ao ECO, o secretário de Estado para a Transição Digital, André de Aragão Azevedo, repetiu o argumento que tem vindo a ser dado pelo Governo: há uma “escassez não só de computadores prontos como de componentes”. O governante explicou ainda que o problema é “internacional” e decorre da “procura mundial”.
No fim de semana, a imprensa internacional deu também conta da ocorrência de um incêndio numa importante fábrica de chips para a indústria automóvel, perspetivando-se o agravamento da crise de oferta face a uma acelerada procura.
Estamos a sentir o impacto desta escassez de forma muito acentuada e com tendência de agravamento (…) Estamos há mais de 30 anos neste mercado e nunca tínhamos assistido a uma falta generalizada de componentes como agora.
Para além da indústria automóvel e da informática, existem outras empresas de eletrónica que estão a sentir alguma escassez neste tipo de componentes, mas por agora estão a conseguir contornar a situação, como por exemplo a Konica Minolta, a Continental Advanced Antenna e o Ceiia.
“Esta escassez é algo global e acaba por afetar todas as empresas. Nós temos produção no Japão, na China e na Malásia e há um problema em trazer as coisas para o lado de cá porque existem outras prioridades. São problemas que temos que gerir, mas neste momento as cadeias de abastecimento estão normalizadas. Para já temos conseguido suprir aquilo que são as necessidades dos nossos clientes, sem dificuldades“, explica Vasco Falcão, diretor geral da Konica Minolta Portugal e Espanha. Acrescenta que, como têm uma gama de produtos muito extensa, conseguem “substituir determinado componente que esteja em falta por outro”.
Na Continental Advanced Antenna Portugal, o cenário é semelhante. Estão a conseguir fornecer as necessidades dos clientes, mas estão a notar que alguns fornecedores da indústria eletrónica, principalmente na Ásia estão com dificuldades em fornecer as quantidades todas. “Neste momento não temos nenhum impacto, temos conseguido com algum esforço e flexibilidade, mas temos conseguido fornecer os nossos clientes todos. Na fábrica em Portugal temos conseguido fazer face às necessidades dos nossos clientes”, conta Miguel Pinto, managing director da Continental Advanced Antenna.
À semelhança de Vasco Falcão, Miguel Pinto considera que esta escassez deve-se essencialmente ao aumento da procura e de alguma dificuldade logística em trazer esses componentes da Ásia para a Europa.
No Centro de Engenharia e Desenvolvimento – Ceiia, o cenário é diferente, não estão a sentir os efeitos da escassez de chips porque prepararam-se atempadamente. “Nós planeámos antes, sobretudo há um ano. Tínhamos um planeamento das necessidades e conseguimos esses componentes em fornecedores locais. Para o mercado em Portugal temos três ou quatro armazenistas que vendem online e esses ainda tinham stock para o que o Ceiia pretendia nesta fase pandémica. Tivemos que fazer uma preparação atempada na altura da produção do nosso ventilador e neste momento não vamos ser afetados por essa escassez”, explica o administrador Jorge Cabral.
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