Dona da Meo abre a porta a rescisões unilaterais com trabalhadores

CEO da Altice Portugal enviou ontem um email aos trabalhadores onde revela que a empresa aceitou perto de 1.100 rescisões por acordo no Programa Pessoa. Situação difícil do setor obriga a mais saídas.

O CEO da Altice Portugal enviou esta quinta-feira um email aos colaboradores da empresa onde admite avançar com rescisões unilaterais para fazer face ao “momento complexo” que as telecomunicações atravessam no país, responsabilizando o “ambiente regulatório conturbado e hostil e a falta de visão estratégica nacional”. Fala mesmo numa “tremenda pressão” sobre a “sustentabilidade do setor a curto/médio prazo”.

Na missiva a que o ECO teve acesso, Alexandre Fonseca começa por dar conta dos resultados do Programa Pessoa, relançado este ano e onde a empresa admitia a saída de até 2.000 trabalhadores. A Altice Portugal chegou a acordo com perto de 1.100 colaboradores, das cerca de 1.700 candidaturas recebidas. O presidente executivo explica que “por razões de gestão”, não foi possível atender a todos os pedidos.

Mas as saídas não vão ficar por aqui. Devido à situação difícil do setor, Alexandre Fonseca escreve que “todas as opções estão em aberto de forma a que possamos dar resposta a este momento complexo, que não criámos e que tem responsáveis claros que identificámos em tempo”. Nas próximas semanas a empresa chegará a “conclusões sobre as medidas adicionais a tomar quanto ao investimento e ao mercado”.

Entre essas opções, está a possibilidade de avançar com rescisões unilaterais. “A componente de Recursos Humanos é fundamental, pelo que continuará a ser uma área de análise e onde estamos a avaliar todos os cenários possíveis, onde se incluem medidas adicionais de reorganização, que podem passar por medidas de caráter unilateral, que nos permitam atingir os objetivos traçados para a estratégia de crescimento e sustentabilidade, no atual contexto nacional do setor”, pode ler-se no email.

Alexandra Fonseca atribui a responsabilidade pelo “contexto adverso” aos reguladores e ao Governo. “O ambiente regulatório conturbado e hostil, a falta de visão estratégica nacional para o setor, a lamentável e preocupante situação de atraso do 5G, bem como as suas obrigações de cobertura e ilegítima proteção de novos entrantes, ou ainda as múltiplas decisões unilaterais graves, irrefletidas e infundadas de entidades como a ANACOM, a AdC e a própria tutela (de que são exemplos a transposição do CECE, a Tarifa Social de Internet ou a temática das fidelizações), colocam uma inigualável e tremenda pressão sobre o nosso futuro, no negócio e na sustentabilidade do mesmo a curto/médio prazo”.

Um ambiente de negócio que deixa à empresa “um caminho cada vez mais estreito e instável, que obriga a medidas ainda mais exigentes”, justifica o presidente executivo da Altice Portugal, dizendo que quer manter “as apostas no investimento, na inovação, no talento e na diversificação do negócio”.

Meo ficará com 6.500 trabalhadores

Com a saída de mais 1.100 trabalhadores no âmbito do Programa Pessoa, a Meo ficará com 6.500 trabalhadores, o que segundo a empresa é mais do dobro do que a Vodafone e a Nos juntas. O grupo Altice Portugal soma cerca de 12 mil postos de trabalho diretos e mais 15 mil indiretos. A empresa explica que “esta segunda fase do programa de saídas voluntárias está inserido num plano organizacional integrado da empresa, que teve início em janeiro deste ano com a reorganização do comité executivo e linhas de direção, bem como com a simplificação da estrutura orgânica da empresa”.

Na sua modalidade principal, o Programa Pessoa previa pré-reformas para trabalhadores com 55 ou mais anos de idade com o pagamento de 80% do vencimento-base e diuturnidades, acrescido de 40% de outras rubricas remuneratórias, caso existam. Permite ainda a garantia e manutenção dos planos de saúde e benefícios de comunicações aplicáveis a cada momento.

A terminar o email, Alexandre Fonseca afirma que “o futuro de Portugal passa, inevitavelmente, pela Altice Portugal como Grupo, com uma visão e valores que contribuem para o desenvolvimento equitativo do País, com uma cultura e identidade fortes e com sólidos objetivos alinhados com os nossos seis pilares estratégicos”.

O Expresso avança na edição de hoje que a Altice Europe está a preparar a venda do negócio em Portugal, tendo já mandatado uma instituição financeira. Ao que o ECO apurou, foi mesmo escolhido o banco francês Lazard, que já tem colaborado com a empresa de Patrick Drahi noutros negócios, incluindo na venda de ativos da antiga Portugal Telecom.

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