Powell contido ameaça tirar protagonismo a Jackson Hole

É "uma das decisões mais esperadas na história dos bancos centrais": saber quando a Fed vai começar a reduzir estímulos. Conferência de Jackson Hole arranca hoje, Powell discursa esta sexta.

Jerome Powell foi o nome escolhido por Donald Trump para suceder a Janet Yellen na presidência da Reserva da Federal norte-americana.Kirkpatrick/Bloomberg

Pelo segundo ano seguido, a conferência anual que reúne a elite da política monetária e económica de todo o mundo em Jackson Hole, nos EUA, vai ocorrer apenas no formato online, por causa da pandemia. Mas mesmo antes de se saber que a reunião de três dias ia ter lugar apenas por via digital já os investidores deixavam as suas apostas: vai ser um não-evento que pouco ou nada trará de novo ainda que em cima da mesa esteja “uma das decisões mais aguardadas da história dos bancos centrais”: saber quando a Reserva Federal norte-americana (Fed) vai começar a reduzir estímulos.

Christine Lagarde (Banco Central Europeu) e Andrew Bailey (Banco de Inglaterra) são ausências confirmadas na conferência que arranca esta quinta-feira e se prolonga até domingo, dedicada ao tema “Política macroeconómica numa Economia Desigual”.

As atenções que sobram estão assim direcionadas para o anfitrião Jerome Powell. O presidente da Fed tem discurso agendado para esta sexta-feira, as suas palavras são aguardadas com expectativa, sobretudo se deixar a entender quando é que o banco central vai começar a apertar a torneira à economia.

A Fed continua a comprar 120 mil milhões de dólares em obrigações do governo americano todos os meses, no sentido de apoiar a retoma económica perante o impacto causado pelo surto de Covid-19. Quando é que vai começar a recuar?

“Decisão mais aguardada da história”

Essa é a pergunta dos biliões de dólares. Franck Dixmier, da Allianz Global Investors, situava as coisas desta forma: “A comunicação em torno do tapering é uma das decisões mais esperadas na história dos bancos centrais”, escrevia numa nota aos clientes.

Os investidores não estão iludidos. Powell não vai ser tão assertivo quanto ao timing para o início do fim dos estímulos, tendo em conta os riscos que a economia americana ainda atravessa. Aliás, o verão trouxe desenvolvimentos desfavoráveis com o recrudescimento da pandemia, à boleia da variante Delta, que torna mais difícil antecipar as movimentações da Fed.

"A comunicação em torno do tapering é uma das decisões mais esperadas na história dos bancos centrais.”

Franck Dixmier

Allianz Global Investors

Neste cenário, o presidente da Fed deverá manter o tom vago no seu discurso, embora haja quem – como Mohamed El-Erian, antigo gestor da Pimco, num artigo no Financial Times (conteúdo em inglês/acesso pago) – defenda que Powell devia aproveitar o palco de Jackson Hole para sinalizar uma mudança na política monetária. El-Erian lembrou mesmo que foi nesta conferência que Ben Bernanke abriu a porta a uma nova ronda de estímulos em 2010, na sequência da grave crise financeira mundial. Desta vez, Powell deverá jogar mais na defensiva.

“Os investidores estão à espera de informação sobre o timing de redução dos estímulos, mas suspeitamos que o presidente da Fed vai deixar margem para ambiguidade, assegurando a flexibilidade da política, perante os receios que continuam a aumentar com a mais recente vaga da pandemia”, vaticinam os analistas Ian Lyngen e Benjamin Jeffery, da BMO Capital Markets.

Completam McGuire e Lyn Graham-Taylor, do RaboBank: “A elevada ameaça da variante Delta dá argumentos para se esperar, no máximo, que Powell reconheça que a discussão de aperto dos estímulos vai continuar viva nos próximos meses, em vez de dar um pré-compromisso informal sobre a redução de compras de ativos”.

Decisões em breve

Se tudo correr como o esperado, e Powell não trouxer novidades a Jackson Hole, elas também não deverão demorar muito a ser anunciadas, apontando-se a reunião da Fed do próximo mês ou até final do ano como o momento mais aguardado de todos os tempos na história dos bancos centrais, como considera Dixmier. O que para os investidores nem aquece nem arrefece se for uma questão de meses, segundo o diretor do Allianz Global Investors.

“A nossa visão de que é improvável que haja um grande anúncio de política monetária na conferência de Jackson Hole e que o anúncio de redução dos estímulos surja algures no próximo trimestre“, apontam os analistas do JPMorgan Chase.

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