Começou a corrida. Além da EDP, Greenvolt e ENEL também estão “de olho” na central do Pego
Central já não queima carvão e, até 17 de janeiro, está aberto o concurso público para a sua reconversão. Da lista de interessados, constam pesos pesados como a Grennvolt e a ENEL, mas também a EDP.
O fecho de portas oficial só está marcado para 30 de novembro, mas já há alguns dias que a central a carvão do Pego, em Abrantes, deixou de queimar carvão para produzir eletricidade. Simplesmente acabou o stock — e assim, de um dia para o outro, Portugal tornou-se no terceiro país europeu que já não depende da mais poluente das fontes fósseis para geração de energia elétrica. Isto depois da central de Sines ter fechado em janeiro deste ano.
O local não vai ficar vazio e muito menos o valioso ponto de ligação à rede elétrica. Em setembro, o Governo anunciou a abertura de um concurso público para a atribuição do ponto de injeção na Central do Pego, que tem uma capacidade de 628 MW.
Candidatos não faltam, e não apenas nacionais, como a EDP, que também já deu conta do seu interesse.
Ao ECO/Capital Verde, o CEO da Greenvolt, João Manso Neto, admitiu numa conferência sobre Financiamento Sustentável que, “sendo um projeto com alguma dimensão em Portugal, é um projeto para o qual olhamos”. Mas advertiu: “Não vamos fazer só por fazer. Ou somos capazes de fazer alguma coisa distintiva, ou não vamos. Agora, se olhamos para isso? Olhamos claro”, revelou.
Posteriormente, o responsável da empresa reforça agora ao ECO que a “GreenVolt está sempre atenta a oportunidades de investimento que potenciem o crescimento do seu negócio. Neste sentido, a Central do Pego é um projeto para o qual olhamos, mas só fará sentido para a GreenVolt se efetivamente houver oportunidade para fazer um desenvolvimento que seja distintivo e gerador de valor”.
Na semana em que apresentou o plano estratégico para 2022/2024, rumo a 2030, o CEO da italiana ENEL, Francesco Starace, também não deixou o Pego, nem Portugal, de fora do seu discurso.
No caminho para a descarbonização, o grupo italiano espera mobilizar investimentos totais de 210 mil milhões de euros entre 2021 e 2030, dos quais 170 mil milhões de euros investidos diretamente pelo Grupo Enel (+6% em relação ao plano anterior) e 40 mil milhões de euros canalizados através de terceiros.
“A central de carvão do Pego atingiu o fim da sua vida útil. Acreditamos que pode ser substituída por capacidade renovável e foi isso que propusemos ao Governo português. Não participaremos noutros planos que envolvam conversões complexas de biomassa que não façam sentido. Acreditamos que o futuro é desmantelar a central e substituí-la por energias renováveis e armazenamento”, disse Starace em conferência de imprensa.
Dito isso, acrescentou: “Em relação ao mercado português, ainda tem muito potencial de crescimento nas renováveis. Iremos analisar e explorar todas as possibilidades de desenvolvimento. Temos um bom pipeline em Portugal e vamos desenvolvê-lo para servir o mercado ibérico no seu conjunto”, disse o CEO da ENEL, que por sua vez é dona da espanhola Endesa, que detém parte da central do Pego.
A infraestrutura que existe atualmente em Abrantes pertence ao consórcio Tejo Energia, constituído pela TrustEnergy (Engie e Marubeni), que detém 56%, e pela Endesa (com 44%).
EDP só avança e conseguir proposta competitiva
Também esta semana, a EDP anunciou aos jornalistas, à margem da cerimónia de inauguração do primeiro parque eólico da elétrica na Grécia, que está a avaliar concorrer à reconversão da central a carvão do Pego, e que avançará se conseguir uma proposta competitiva, disse o presidente executivo, Miguel Stilwell d’Andrade.
“Estamos também a olhar para a oportunidade da central do Pego. Havendo condições e, se acharmos que conseguimos pôr uma proposta competitiva em cima da mesa, obviamente que o faremos”, avançou. A acontecer, envolveria a componente de energias renováveis e poderia também envolver uma componente de hidrogénio, sublinhou ainda.
No entanto, a decisão não está ainda fechada, uma vez que o concurso público lançado pelo Governo para a reconversão da infraestrutura decorre até 17 de janeiro de 2022, após a prorrogação do prazo para a entrega de propostas por três meses.
Atuais donos não querem desistir do Pego
Mas a principal acionista da central, a Trust Energy, também já veio deixar claro que “não desistiu do projeto” de reconversão apresentado ao Governo para a infraestrutura, para um cluster de energias verdes, mantendo todos os postos de trabalho.
“A Tejo Energia apresentou um [novo] projeto ao ministro do Ambiente em julho, como combinado, e ele nunca se pronunciou sobre o mesmo. Nunca explicou porque mudou de ideias e decidiu avançar para um concurso público, a quatro meses da data determinada [para o fim do carvão]. As explicações iniciais, de que havia um desentendimento entre os acionistas, não têm sentido”, disse José Grácio, que deu conta que “a empresa não desistiu do projeto”.
O projeto da TrustEnergy passa por reconverter a central a carvão do Pego num Centro Renovável de Produção de Energia Verde, projeto que, de forma faseada, implicaria um investimento de 900 milhões de euros.
A TrustEnergy “entende que a melhor opção não será o desmantelamento da estrutura, mas o desenvolvimento de um ambicioso projeto de transição justa da Central Termoelétrica do Pego para um Centro Renovável de Produção de Energia Verde nas suas várias formas”, disse José Grácio.
O presidente executivo da TrustEnergy explicou que o projeto do qual a empresa não desistiu passa pela “eletricidade, hidrogénio e outros gases renováveis a partir de diversas fontes primárias de energia local, como a solar, eólica e resíduos florestais”.
Este projeto, que a empresa quer implementar com apoios do Fundo para um Transição Justa (FJJ) e do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), e aos que disse então que se iria candidatar, “constituirá um caminho sustentável e de futuro” e visa “transformar uma ameaça”, que seria o encerramento da central, “numa grande oportunidade para a região e para o país”, com a sua reconversão funcional em Abrantes.
A Central Termoelétrica do Pego é o maior centro produtor nacional de energia, com uma potência instalada de 628 megawatts (MW) na central a carvão, e de 800 MW na central a gás, que prosseguirá em atividade, com contrato válido até 2035.
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