Seguradores desconfiam dos bons resultados do ramo automóvel
Números do setor até outubro mostram incremento de prémios emitidos, mas o aumento da sinistralidade com feridos graves nos últimos meses pode levar o seguro automóvel de volta ao vermelho.
O bom desempenho evidenciado no ramo do seguro automóvel ao longo dos primeiros meses de 2021, piorou nos últimos meses do ano em consequência do aumento da sinistralidade rodoviária com feridos graves.
O presidente da Associação Portuguesa de Seguradores (APS) refere um “recrudescimento significativo da sinistralidade automóvel” depois do primeiro trimestre. José Galamba de Oliveira, aponta a ECOseguros quatro motivos para não estar certo de que o ramo automóvel repita os mais de 120 milhões de euros de lucros do ano pandémico de 2020:
- A retoma da atividade económica, laboral e social que acompanhou a fase de desconfinamento da sociedade repercute-se, evidentemente, na circulação rodoviária e, consequentemente, na respetiva sinistralidade.
- Os números mais recentes, seja da ANSR, seja das próprias seguradoras, descolaram claramente dos de 2020 e comparam já com os dos anos pré-covid, pontualmente até os superando.
- Acresce que a gravidade média dos acidentes é agora substancialmente superior à destes anos anteriores ao período covid, com uma carga acrescida de feridos graves.
- Por último também na área do custo de reparação, são já muito evidentes os efeitos inflacionários que estamos a assistir em muitas áreas da atividade económica nomeadamente nos custos dos sobressalentes e custos da mão-de-obra.
Até final de outubro, de acordo com números disponíveis no sítio eletrónico da APS, a taxa de sinistralidade – quociente entre os custos com sinistros e os prémios brutos emitidos – é estimada em 56,8%, um recuo de 0,9 pontos percentuais face ao período homólogo de 2020, beneficiando do efeito incremento de prémios emitidos e uma relativa estabilização dos custos com sinistros.
A taxa de sinistralidade no ramo automóvel tem descido, pelo menos desde 2018, quando se situou em 78,4%, sucedendo 76,9% em 2019, 66,2% em 2020 (ano marcado por menor circulação rodoviária devida à restrições da pandemia). Acresce que o montante de prémios emitidos no seguro automóvel atingiu 1 707 milhões de euros nos primeiros 10 meses do ano, enquanto os custos com sinistros se mantiveram praticamente inalterados em 963 milhões, segundo dados da associação.
Apesar da evolução no volume de prémios até outubro (mais 1,3% face ao período homólogo de 2020), do declínio nos custos de exploração nos últimos 3 anos (de 27,9% em 2018, para 25,8% em 2020) e da melhoria do rácio combinado, que passou de 106,3% em 2018, para 103,8% em 2019 e 92,1% em 2020, o setor desconfia da continuação da tendência no final de 2021.
Face aos indicadores dos seis meses até setembro deste ano, Galamba de Oliveira mostra-se prudente, sublinha o incremento de feridos graves e reitera que “pode ser prematuro assumir já que vamos encerrar 2021 com um rácio combinado abaixo dos 100.”
De acordo com o Panorama do Mercado Segurador 19/20, publicação da série “Seguros em Portugal,” os dados da associação relativamente ao ano passado permitem concluir que “o negócio Não Vida assistiu novamente a um crescimento do seu resultado global para cerca de 402 milhões de euros, ou seja, +71% quando comparado com os valores observados em 2019, consolidando a tendência de crescimento observada já desde 2017”.
“O principal responsável pela evolução positiva nos resultados do segmento Não Vida em 2020 foi, sem dúvida, o ramo Automóvel”, o maior dos ramos não Vida, prossegue o documento indicando que os indicadores do segmento “demonstram um crescimento homólogo absoluto de cerca de +103 milhões de euros (registando assim um resultado total de 122 milhões de euros, em 2020, contra um resultado de 19 milhões de euros, em 2019).” Na mesma publicação, a APS explica que “a quebra de -10,6 p.p. na taxa de sinistralidade do ramo está na génese desta evolução positiva dos resultados e fez com que o rácio combinado do ramo se situasse nos 92,1%, um valor abaixo dos 100% pela primeira vez desde 2008 (ano em registou o valor de 95,8%)”.
O Relatório do Setor Segurador e dos Fundos de Pensões – 2020 (ASF) mostra três empresas de seguros a representarem conjuntamente cerca de 57% da produção (seguro direto) no ramo automóvel, na seguinte proporção: Fidelidade com 24,6%, Generali Seguros com 21,7% e Ageas Seguros 10,6%.
Acidentes rodoviários com menos vítimas mortais, mais mais feridos graves
Entre janeiro e setembro do ano em curso registaram-se 20.476 acidentes rodoviários com vítimas em Portugal continental, dos quais resultaram 284 vítimas mortais, 1.491 feridos graves e 23.938 feridos leves.
Confirmando os motivos apontados pelo presidente da APS, os dados da ANSR (até setembro) indicam uma redução no número de vítimas mortais, menos 18 (-6,0% face ao período homólogo de 2020), mas aumento no número de feridos: mais 120 feridos graves (+8,8%) e mais 1.109 feridos leves (+4,9%), verificando-se também incremento de 4,5% no número de acidentes rodoviários com vítimas (+878), lê-se no mais recente relatório estatístico da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR).
Os dados da sinistralidade rodoviária até setembro (em território continental) permitem comparar as médias destes nove meses com as dos anteriores 5 anos (2016 a 2020). O relatório mostra reduções nos totais de todos os principais indicadores: -14,7% nos acidentes, -18,2% nas vítimas mortais, -6,3% nos feridos graves e -17,3% nos feridos leves.
A colisão foi a natureza de acidente mais frequente (53,3% dos acidentes) apesar de ter estado apenas na origem de 39,8% das vítimas mortais. Por sua vez, os despistes, que representaram 35,2% do total de acidentes, corresponderam a 48,2% das vítimas mortais e a 42,3% dos feridos graves. No que respeita à categoria de utente, considerando as vítimas mortais, 71,1% do total eram condutores, enquanto passageiros e peões corresponderam a 15,5% e 13,4%, respetivamente. Em termos de variação homóloga, verificaram-se reduções de 24,0% nas vítimas mortais com perfil de peão, de 6,4% nos passageiros e de 1,5% nos condutores, correspondendo, respetivamente, a -12 e -3 vítimas mortais (passageiros e condutores) que em 2020.
Ainda, em relação à categoria de veículo interveniente nos acidentes, a ANSR refere que os automóveis ligeiros corresponderam a 70,6% do total, com um aumento de 6,3% relativamente ao período homólogo de 2020, sendo ainda referenciadas subidas verificadas nos velocípedes (+19,7%) e nos veículos pesados (+5,8%).
Considerando as vítimas por categoria de veículo, até setembro de 2021, verificou-se que 54,6% do total de vítimas deslocava-se num veículo ligeiro, enquanto 25,1% circulava em ciclomotores ou motociclos, outros 7,9% em velocípedes.
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