Talento com dislexia. Uma fonte subestimada, mas com elevado potencial
Os processos de contratação não permitem aos candidatos com dislexia mostrar as suas valências. Os responsáveis pelo recrutamento pouco sabem sobre esta condição. É preciso desconstruir preconceitos.
Na competição pelos melhores profissionais, há uma fonte de talento que, até agora, tem sido pouco explorada e até mesmo subestimada: as pessoas com dislexia. Possuem algumas das competências mais procuradas pelas organizações — têm “uma visão helicóptero dos problemas”, o que no mundo do trabalho é uma skill poderosa —, mas, na maioria dos casos, as práticas de contratação e avaliação ainda não lhes permitem mostrar as suas verdadeiras fortalezas. Estas são as principais conclusões de um estudo elaborado pela organização Made by Dyslexia e pela Talent Solutions, marca do ManpowerGroup.
“É realmente importante perceber a dislexia e redefini-la, eliminando ideias preconcebidas e preconceitos, para criar espaços seguros. A dislexia não deve ser encarada estritamente como uma dificuldade de aprendizagem, mas sim como uma forma diferente de pensar e de ver o mundo”, comentou Kate Griggs, fundadora e CEO da Made by Dyslexia, durante o webinar “The Dyslexic Dynamic: The Power of Soft Skills”, que fez parte do “Transform Talent Event”, um evento organizado pela ManpowerGroup Talent Solutions.
Essa forma diferente de ver e pensar o mundo de que Kate Griggs fala pode mesmo ser a solução para os atuais desafios das organizações. “As empresas precisam de talento com dislexia”, afirmou, acrescentando que estas pessoas estão muito bem posicionadas para brilhar no mundo do trabalho.
De acordo com o estudo “Dyslexic Dynamic”, as principais habilidades que as organizações procuram hoje em dia correspondem precisamente com aquelas que são algumas das soft skills das pessoas disléxicas. Falamos de responsabilidade, resiliência, espírito de iniciativa, resolução de problemas, liderança, pensamento crítico, colaboração, criatividade, aprendizagem ativa e sentido de adaptação. E Kate Griggs, também autora do livro “This is Dyslexia”, destaca uma em particular: a resolução de problemas. “Somos realmente bons a olhar para a big picture. Temos uma visão helicóptero dos problemas, o que no mundo real é uma skill muito poderosa”, comentou.
Laura Powell, global head of human resources wealth and personal banking da HSBC, partilha da opinião de Kate Griggs. Mas, mais do que soft skills, a líder de pessoas prefere falar de foundation skills. “Muitas das skills de que vamos precisar são skills que as pessoas com dislexia têm. Pôr a dislexia numa posição mais positiva é uma responsabilidade das organizações e das instituições de ensino”, defende Laura Powell, dando como exemplo a necessidade de revisão de assessments e metodologias utilizadas nos processos de contratação, que “são do passado” e “pouco inclusivos”.
O potencial está lá. Só falta as organizações olharem para ele. E a maioria das organizações ainda não reconhece o talento disléxico quando procuram novos colaboradores. Mais de quatro em cada cinco pessoas disléxicas (79%) pensam que o processo de contratação não lhes permite mostrar as suas verdadeiras habilidades, e 75% pensa que o coloca mesmo em desvantagem. Além disso, mais de metade dos profissionais responsáveis pela contratação têm um conhecimento escasso ou nulo das mais-valias das pessoas com dislexia.
O papel da educação e formação é também crucial. “Como empregadores, precisamos que as instituições de ensino preparem os jovens para as skills do futuro, e o quanto antes”, finaliza Laura Powell.
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