UE espera “passos concretos” da Rússia, mas vê “sinais contraditórios”

  • Lusa
  • 16 Fevereiro 2022

"Exortamos a Rússia a dar passos concretos e tangíveis rumo à desescalada, porque esta é a condição para um diálogo político sincero", declarou o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.

A União Europeia (UE) exortou esta quarta-feira a Rússia a dar “passos concretos e tangíveis” com vista ao desanuviamento da crise com a Ucrânia, designadamente a retirada de forças militares das zonas fronteiriças, observando que de Moscovo chegam “sinais contraditórios”.

Nos últimos dois dias, a Rússia sinalizou que talvez esteja aberta à diplomacia, e nós exortamos a Rússia a dar passos concretos e tangíveis rumo à desescalada, porque esta é a condição para um diálogo político sincero. Não podemos tentar eternamente a diplomacia de um lado enquanto o outro lado concentra tropas”, declarou o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, num debate no Parlamento Europeu, em Estrasburgo (França).

Charles Michel apontou que “as autoridades russas disseram repetidamente que não têm quaisquer intenções agressivas” relativamente à Ucrânia, isto apesar de “já terem anexado parte do território ucraniano, a Crimeia, em 2014, e constantemente minarem a soberania ucraniana, sobretudo na parte oriental”.

Cercar um país com uma mobilização extraordinária de forças militares nunca antes vista só pode ser visto como um comportamento agressivo e ameaçador. Esta escalada não só coloca em perigo a estabilidade e integridade da Ucrânia, mas ameaça também a paz e segurança da Europa e o sistema internacional baseado na ordem”, observou o presidente do Conselho Europeu.

Por seu lado, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, apontou que, “apesar das notícias” de terça-feira, sobre um suposto início de retirada das tropas russas concentradas junto à Ucrânia, “a NATO não viu ainda sinais de qualquer redução” dos meios militares que Moscovo foi concentrando ao longo das últimas semanas.

“Como todos nesta sala, espero verdadeiramente que o Kremlin não decida desencadear mais violência na Europa. Ontem, a Rússia estava certamente a enviar sinais contraditórios. Por um lado, as autoridades anunciam a retirada das tropas russas. Por outro lado, a Duma votou pelo reconhecimento formal de Donetsk e Luhansk como repúblicas independentes. A diplomacia ainda não pronunciou as suas últimas palavras”, declarou.

Tal como Charles Michel, Ursula von der Leyen aplaudiu a unidade demonstrada pela UE durante esta crise, observando que as tentativas do Kremlin (Presidência russa) de separar os 27 “falhou”.

“No início deste mês, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo [Sergei] Lavrov escreveu 36 cartas a cada um dos Estados-membros da União Europeia e Aliados da NATO, com uma série de exigências. Recebeu duas cartas em troca: uma do Alto Representante Josep Borrell, em nome da União Europeia, e outra de Jens Stoltenberg, em nome da NATO. Mais uma vez, o Governo russo tentou dividir-nos, mas a sua tentativa falhou”, disse.

Voltando também a acenar com a ameaça de sanções sem precedentes em caso de uma nova agressão russa à Ucrânia, a presidente do executivo comunitário garantiu ainda que a UE também está preparada “no caso de a liderança russa decidir usar a questão energética como uma arma”, pois, face a uma diversificação dos seus aprovisionamentos de gás, levada a cabo nas últimas semanas, para resistir até ao final do inverno sem gás russo.

A Rússia anunciou esta quarta-feira o fim das manobras militares e a partida de algumas das suas forças da península da Crimeia anexada da Ucrânia, onde a presença de tropas alimentou os receios de uma invasão.

Na terça-feira, Moscovo anunciou uma retirada “parcial” dos seus soldados destacados durante semanas nas fronteiras da Ucrânia, um sinal de desescalada após dois meses em que se receou uma invasão iminente.

Europeus e norte-americanos continuam à espera de provas de uma importante retirada militar russa, mas estão cautelosamente otimistas. A Rússia não especificou a extensão ou o calendário da retirada.

O Ocidente acusou a Rússia de ter concentrado mais de 100.000 tropas nas fronteiras da Ucrânia para invadir novamente o país vizinho, depois de ter anexado a península ucraniana da Crimeia em 2014.

A Rússia negou sempre o desejo de guerra, mas exigiu garantias para a sua segurança, incluindo uma promessa de que a Ucrânia nunca será membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte.

Esta exigência foi rejeitada pelo Ocidente, que propôs em troca conversações sobre outros assuntos de segurança, como o controlo de armas ou visitas recíprocas a infraestruturas sensíveis.

Os ministros da Defesa da NATO reúnem-se entre esta quarta e quinta-feira, em Bruxelas. Na conferência de imprensa de antecipação do encontro, na terça-feira, o secretário-geral da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg, comentou que os mais recentes “sinais” vindos de Moscovo permitem um “otimismo cauteloso”, mas sublinhou que não se vê ainda uma diminuição da escalada no terreno.

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