BCE mantém juros e fim dos estímulos no terceiro trimestre
Apesar da escalada da inflação, banco central deixou tudo como está: compras de ativos terminam algures no terceiro trimestre e "algum tempo" depois começa a subir juros na Zona Euro.
Com a inflação a fazer soar os alarmes em todo o lado, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu manter a sua política monetária em modo de “esperar para ver” o que acontece a seguir. O dividido conselho de governadores confirmou esta quinta-feira a decisão tomada na anterior reunião de março: as compras de ativos no âmbito do programa APP vão terminar algures no terceiro trimestre e “algum tempo depois” a taxa de juro vai começar a subir.
Mas quando exatamente? Em conferência de imprensa, presidente Christine Lagarde não quis determinar um calendário específico em relação à “normalização” da política monetária que está definitivamente em curso no BCE, deixando todas as opções em cima da mesa. Ainda assim, deixou pistas mais claras do que tinham sido deixadas até agora. O fim das compras do APP é “muito provável” que ocorra no terceiro trimestre, “podendo acontecer mais cedo ou mais tarde” nesse período de três meses. A seguir a isso, o tempo que levará a subir as taxas poderá ser de “uma semana ou vários meses”.
O banco central já tinha apontado o fim das compras líquidas no âmbito do programa APP (asset purchase programme) – que veio substituir o PEPP, que terminou em março — para o terceiro trimestre e agora surge a confirmação: “Os dados que passaram a estar disponíveis desde a última reunião reforçam a sua expectativa de que as aquisições líquidas de ativos ao abrigo do seu programa de compra de ativos APP sejam concluídas no terceiro trimestre”.
Assim, as aquisições líquidas mensais no âmbito do APP ascenderão a 40 mil milhões de euros em abril, 30 mil milhões de euros em maio e 20 mil milhões de euros em junho, adiantou. Depois disso, o ritmo de compras “dependerá dos dados e refletirá a evolução da avaliação das perspetivas” pelos responsáveis do BCE.
Já os juros de referência não sofreram alterações e mantêm-se em mínimos históricos, deixando o BCE para trás em relação a outros bancos centrais que já começaram a subir as taxas, incluindo a Reserva Federal americana e o Banco de Inglaterra. Nos últimos dois dias, foram os bancos centrais do Canadá, Coreia do Sul e Nova Zelândia a subir os juros.
Ao aumentar os juros, as autoridades monetárias agravam o preço do dinheiro, com impacto nomeadamente nos empréstimos às empresas e famílias, e assim travam a atividade económica para conseguir fazer baixar os preços.
O que o BCE reitera é que as taxas vão começar a subir “algum tempo” depois do fim do APP: “Quaisquer ajustamentos das taxas de juro diretoras do BCE ocorrerão algum tempo após o termo das aquisições líquidas ao abrigo do APP e serão graduais”.
Assista à conferência de Lagarde
Lagarde também não adiantou muito mais aos jornalistas em relação ao que foi dito no comunicado. Disse que os juros poderão subir na semana seguinte ao fim do APP ou vários meses depois. “Vamos lidar com as taxas de juro quando chegarmos lá”, desabafou. Por outro lado, também considerou que comparar as políticas monetárias na Zona Euro e nos EUA era como comparar “laranjas a maçãs”. “A Zona Euro está mais exposta e vai provavelmente sofrer mais consequências da guerra do que os EUA”.
A taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento e as taxas de juro aplicáveis à facilidade permanente de cedência de liquidez e à facilidade permanente de depósito permanecerão inalteradas em 0,00%, 0,25% e −0,50%, respetivamente.
Lagarde também disse que o BCE está pronto para adicionar um instrumento de “flexibilidade” para evitar um cenário de “fragmentação” nos mercados de dívida com um eventual disparo dos spreads dos títulos dos Governos da Zona Euro. “A flexibilidade serviu-nos bem nos últimos anos. É importante que a fragmentação injustificada seja evitada. Se necessário, agiremos prontamente e desenharemos qualquer instrumento adicional apropriado para oferecer essa flexibilidade. A política de reinvestimento do PEPP é cunhada com essa possibilidade de flexibilidade”, admitiu.
As decisões anunciadas pelo BCE eram amplamente esperadas pelos analistas, apesar da pressão que se vem acumulando nos mercados em relação a um aperto agressivo das condições financeiras para travar a escalada dos preços e cujas expectativas têm sido temperadas por receios de recessão na Zona Euro por causa das implicações da guerra da Rússia contra a Ucrânia.
A inflação na Zona Euro acelerou para 7,5% em março e o próprio BCE admite que “permanecerá elevada nos próximos meses” e que “vários setores” da economia assistiram a uma intensificação das pressões inflacionistas, muito por conta da guerra na Ucrânia que está a pesar “fortemente sobre a confiança das empresas e dos consumidores”.
(Notícia atualizada às 15h00)
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