Conversas com Energia. Júlia Seixas ensina a reduzir emissões de CO2

A pró-reitora da Universidade Nova de Lisboa deu uma aula na Escola Secundária Marquês de Pombal sobre os efeitos das alterações climáticas e deu algumas dicas para se reduzir o CO2.

De discurso prático e olhos postos no futuro, Júlia Seixas, pró-reitora da Universidade NOVA de Lisboa, dedicou uma aula na Escola Secundária Marquês de Pombal ao tema das alterações climáticas, aos seus efeitos no quotidiano e em como podem os jovens combater este fenómeno.

Começando por ilustrar o excesso de CO2 na atmosfera enquanto um desequilíbrio do balanço energético, Júlia Seixas associa os chamados “eventos extremos”, como os tufões ou as cheias inesperadas, às consequências deste fenómeno. A professora, convidada para a segunda aula do Programa “Conversas com Energia”, promovido pela Fundação EDP, apontou para as consequências deste excesso de CO2 com um caso alemão, “talvez o país mais avançado do mundo”, onde cheias inesperadas no ano passado levaram à perda de 200 pessoas.

Para Seixas, quando um evento desta natureza atinge países menos desenvolvidos, a dimensão de vítimas atinge contornos superiores, pelo que sublinha a necessidade de pensar no futuro. A professora afirma que “já não vamos voltar ao clima dos vossos trisavós”, e como tal, é preciso adaptar o local onde estamos a viver ao “novo normal”, ou seja, viver com ondas de calor ou cheias rápidas.

Júlia Seixas destaca a onda de calor portuguesa de 2003, que evidenciou a falta de ar condicionado nas enfermarias dos hospitais, e também a iniciativa de algumas câmaras municipais que transportavam pessoas de risco para locais refrigerados. No entanto, para a professora, o essencial é “ir à origem do problema” e “acabar com o CO2 definitivamente”.

As “máquinas que sugam CO2” são as árvores

O ambiente refrigerado no interior do MAAT, em Lisboa, local onde decorre a “aula” de Seixas a estudantes do 11º ano, contrasta com o calor do exterior. Júlia Seixas destaca duas estratégias aparentemente simples para atingir a neutralidade carbónica: reduzir as emissões de CO2 e aumentar o número de “máquinas que sugam CO2, as árvores”.

Para a professora, “vocês é que vão tomar conta deste problema”, lamenta dirigindo-se aos jovens, de 17 anos, e por isso apela às novas gerações que coloquem pressão junto dos governos e das empresas. Em reação, um aluno admite não sentir confiança nos governos, de um modo geral, para a resolução da questão climática; já outro reconhece a existência de um diálogo, mas também não acredita que seja encontrada uma solução.

Júlia Seixas remata e aponta para o fecho das centrais elétricas a carvão do Pego e de Sines como um dos primeiros passos rumo à redução das emissões de CO2, mas também aponta para Elon Musk como um dos pioneiros da mobilidade elétrica automóvel. Ainda assim, a professora da Universidade Nova considera que as cidades do futuro vão ser desenhadas para as pessoas, em detrimento dos veículos pessoais, um conceito que estimulou o debate no auditório.

Medindo o pulso aos alunos quanto à sua opinião no que toca à posse de um carro, alguns dos jovens inquiridos mostraram-se adeptos da ideia. Para a pró-reitora o espaço público numa cidade é algo “raro”, e ora este existe para ser usufruído, ora é ocupado com carros. Embora Seixas sublinhe soluções de partilha de transportes, algumas vozes mantêm a preferência pela propriedade de um carro, mas rapidamente as visões voltam a convergir na questão alimentar.

Mais alimentos à base de plantas, menos consumo de carne

Para a pró-reitora, a indústria alimentar, nomeadamente a da carne, levanta questões em diversas frentes – desde a libertação de metano para a atmosfera pelas vacas à perda da biodiversidade causada pela produção intensiva das suas rações, sendo este último aspeto também parte de um problema geral no sistema alimentar global. “A produção de alimentos exige extensões enormes de terra”, esclarece Seixas, acrescentando que nos últimos 50 anos tem havido uma “alteração do solo de florestas e ecossistemas para a produção agrícola” a nível extremo.

Uma das soluções sugeridas pela professora passa pelas opções alimentares baseadas em plantas, visto que a pegada carbónica de um hambúrguer desta natureza difere face a um convencional. “Isto é algo que vocês enquanto consumidores conseguem fazer”, garante Seixas, destacando que as empresas desta área específica são das que registam, atualmente, o maior crescimento económico.

No entanto, antes de encerrar a sessão, a professora da Universidade Nova de Lisboa sublinha ainda soluções adicionais para o combate às emissões de CO2, como a organização de movimentos civis de pressão ao governo e empresas, ou medidas mais simples como hortas urbanas. No caso deste último exemplo, a professora reforça ainda que isto incentiva o modelo das cadeias de abastecimento curtas, em contraste das longas, havendo assim menos encargos de CO2 com a produção e transporte de alimentos.

Jazieli, aluna da escola presente esta terça-feira, mostrou-se sensibilizada em relação à mensagem transmitida pela professora, mas considera que as soluções apresentadas não são fáceis de implementar. Ainda assim, a aluna mostra-se esperançosa quanto ao futuro, e espera encontrar um maior número de pessoas a fazer reciclagem, como a própria já admite fazer, e coloca ainda como objetivo pessoal reduzir o consumo de carne.

Por sua vez, para o professor José Alberto Silva a sessão revelou-se uma oportunidade tanto para alargar perspetivas como para acrescentar informação. Apesar de reconhecer que a escola tem uma horta pedagógica, e que os assuntos alimentares são algo também em destaque no seu clube de ciência, o professor admite a necessidade de uma sensibilização constante dos alunos. José Silva considera que o quotidiano dos alunos nem sempre é propício a alterações nos seus hábitos, mas nota que os jovens mostram uma preocupação pelas questões alimentares, de mobilidade e de energias renováveis.

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