Conversas com Energia: José Eduardo Martins apela à mobilização pelo planeta

Da mobilização internacional dos países privilegiados à dos mais jovens com um simples apagar a luz, Eduardo Martins dá uma “aula” centrada no desafio de mudar os sistemas energéticos globais.

Nesta nova “aula” do programa “Conversas com Energia”, José Eduardo Martins, ex-secretário de Estado do Ambiente, dirigiu-se com boa disposição aos 31 alunos do 9.º ano do Agrupamento de Escolas D. Pedro I, em Vila Nova de Gaia, em parte por ter filhos na mesma faixa etária, confessa. O ex-secretário abre a sessão de maneira solene, alertando que os jovens “vão ter aos ombros mais responsabilidade” que as gerações anteriores.

Voltando atrás na história mundial, o ex-secretário comenta que há 200 anos não havia preocupação com temas como o bullying ou o abastecimento de energia, mas sim com necessidades básicas como a alimentação. Por sua vez, com o início da revolução industrial começou a usar-se energia fóssil para acelerar a produção e o conhecimento científico, esclarece. O resultado foi um período de “progresso” que parecia “não ter fim”, tal como aconteceu em paralelo com o crescimento global, “a vida nos primeiros anos do séc. XX parecia ser uma vida de progresso ilimitado”, esclarece.

“Há um momento que temos de assumir que a Terra é finita. E o planeta é só um”, diz Eduardo Martins. No início da aula o ex-secretário sublinhou que quando ele nasceu havia 3 mil milhões de pessoas no mundo, uma figura que duplicou face à geração em sua frente, mas este crescimento “que nem loucos” colocou imensas pressões sobre o clima, confessa.

Uma das grandes questões suscitadas pelo “professor” é “como é que se alimentam 9 mil milhões de pessoas em 2050 sem gastar muita energia”, e sem esta energia ter efeitos prejudiciais sobre o ambiente? A pergunta não tem uma resposta e a questão ganha novos contornos quando consideramos que a energia barata permitiu um nível de luxo que antes não era possível, desde a climatização interior das casas à produção industrial de materiais, até à plantação de fruta fora da respetiva época, admite Eduardo Martins.

Um mundo globalizado e o caminho para um novo sistema energético

Fazendo menção a um período onde o uso de CFC’s – um composto nocivo para a atmosfera e proibido em vários países – era comum, o ex-secretário revela que atualmente “cada tonelada de carbono na atmosfera corresponde a 24 mil toneladas de CFC”. Sendo que ainda existem “um conjunto de atividades” a usar este composto químico, além da “esmagadora maioria” da energia produzida não ser limpa, Eduardo Martins alerta que os jovens têm de ser “a mola que obriga os políticos a fazer as coisas de maneira diferente”.

Para o ex-secretário, quando se fala da tomada de decisões que envolvam mudança, “os políticos tomam-nas com dificuldade porque significa um sacrifício para as pessoas”, e como tal, “se não houver uma opinião pública muito forte”, a mudança não acontece. Apelando os jovens a rebelarem-se contra um futuro onde o planeta não seja como estes o conheceram, Eduardo Martins admite que as preocupações climáticas só suscitaram o interesse internacional há relativamente pouco tempo, 30 anos.

Transformando a conversa numa pequena aula de história, o “professor” menciona como desde a criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas tem havido sucessivos acordos destinados a abordar a questão ambiental, mas de sucesso variável. Só recentemente, desde 2015, é que os países apresentaram metas até 2050 no âmbito de atingir o “sonho difícil” de criar um novo sistema energético; um sistema que não coloque em causa o conforto e o crescimento económico conseguido, mas que produza energia sem emissões de gases com efeito de estufa.

Esta jornada parecia estar em progresso, confessa Eduardo Martins, mas com a guerra na Ucrânia os esforços conseguidos estão a ser revertidos. Com a necessidade russa de se financiar através da venda de petróleo, existem países como a Índia e a China que aumentaram as suas compras energéticas, e sendo estes países os maiores emissores de gases para a atmosfera, isto coloca em causa os esforços mundiais, esclarece o ex-secretário.

“O que vai acontecer ao acordo de Paris e às alterações climáticas numa altura de maior escassez e inflação?”, questiona Eduardo Martins. O mesmo admite que vivemos atualmente “dias históricos”, marcados pela tentação de “encolher os ombros” dos principais emissores de CO2. Para evitar o agravamento deste cenário, o ex-secretário sublinha a importância do desafio de mudar o paradigma energético, para que deste modo não se perca o conforto, e para que a “desigualdade não dê cabo da paz”.

Concluindo com a ideia que os países privilegiados devem liderar pelo exemplo, e que o “procurar o conforto está certo, mas o desperdício é crime”, Eduardo Martins atenta também que os campeões da mudança não são os políticos, mas sim cada um de nós. Por este motivo, o ex-secretário encerra a aula com um apelo a gestos simples, como desligar a luz quando não é precisa, pois defende que quando se desperdiça recursos, alguém já com poucos fica ainda com menos.

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