Aumentos salariais até 2% não geram pressões inflacionistas, diz Centeno
O governador do Banco de Portugal admitiu que subir os salários até 2%, mais os ganhos de produtividade, não deverá gerar pressões inflacionistas. A previsão para a inflação em 2022 é de 5,9%.
O governador do Banco de Portugal voltou a recomendar “cautela” nas negociações salariais dos próximos meses, mas desta vez, na apresentação do boletim económico de junho, acrescentou um número. Para Mário Centeno, aumentar os salários até 2% – o objetivo de médio prazo do Banco de Portugal –, somando ainda os ganhos de produtividade, não deverá gerar pressões inflacionistas em Portugal.
“Não gera pressões inflacionistas subidas de salários que sejam no máximo idênticas ao nosso objetivo de inflação de médio prazo (2%), idealmente acrescido dos ganhos de produtividade“, afirmou Mário Centeno esta quarta-feira em conferência de imprensa, assinalando que esta é “a resposta analiticamente correta”, a qual “pode não ter uma tradução política nas negociações concretas”.
Momentos antes, o governador do Banco de Portugal tinha reforçado a ideia que tem repetido nas suas últimas intervenções públicas: “A minha posição é a mesma: deve-se ter alguma cautela nessa transposição“, isto é, nos aumentos salariais iguais à taxa de inflação registada este ano. O banco central reviu em alta a projeção de inflação de 4% para 5,9% em 2022.
A principal preocupação de Mário Centeno ao fazer este alerta é evitar que haja efeitos de segunda ordem em Portugal, ou seja, que a inflação acelere ao ser alimentada pelas subidas dos salários dos trabalhadores, o que pode levar a uma procura acrescida face a uma oferta constrangida pelas dificuldades vividas no momento.
“Evitar efeitos de segunda ordem é uma pré-condição importante para que este fenómeno não se torne endógeno“, afirmou o governador do Banco de Portugal. Ora, se a regra dos aumentos salariais até 2% for cumprida, “não há razão para que os efeitos de segunda ordem se façam sentir no mercado de trabalho, traduzidos nos preços”.
O governador manteve a avaliação de que em Portugal e na Zona Euro “não são visíveis” os efeitos de segunda ordem, “ao contrário do que acontece nos Estados Unido e no Reino Unido”. E “há razões estruturais para que assim seja”, disse Centeno, referindo-se à “natureza muito distinta do mercado de trabalho” em que na Europa se é mais lento a fazer ajustamentos, o que neste caso em concreto “torna-se uma vantagem”. “Ainda que não se possam excluir estes efeitos de segunda ordem“, ressalvou logo de seguida.
Para Mário Centeno, que já teve responsabilidades governativas nesta área, é preciso “manter bastante presente” nas negociações salariais a ideia de que houve um “enorme sucesso na retenção e na contenção do emprego” durante a pandemia, ao contrário dos EUA onde houve “desemprego maciço”. “Todas as negociações salariais foram tidas com este quadro presente de que houve uma manutenção dos mesmos empregos ao longo desta crise. Isso é muito importante para os trabalhadores porque gera estabilidade“, acrescentou.
O ex-ministro das Finanças aproveitou esta oportunidade para elogiar o desemprego do mercado de trabalho em Portugal e na Zona Euro, tendo “surpreendido na sua capacidade de reagir a episódios de uma dureza económica muito significativa”. Aliás, para Centeno, “o que mais nos afasta de um cenário de estagflação é a resiliência do mercado de trabalho“, ou seja, “a economia real”, acrescentou.
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