“Mais do que investir em profissões, há que investir nas competências”, afirma Durão Barroso

O "Estado da Nação", da FJN, aponta em direção a um novo paradigma, em que as pessoas olham para o mercado de trabalho à procura de um cluster de profissões que partilham um conjunto de competências.

Os dados confirmam-no: Portugal tem um problema “sério” no que toca a qualificações. Apesar de termos a geração mais qualificada de sempre, o ritmo de aumento das qualificações é significativamente mais acelerado do que a evolução da produtividade do país, o que determina os baixos salários, revela o relatório de 2022 “Estado da Nação”, elaborado pela Fundação José Neves (FJN). E no que toca aos empregadores, Portugal é dos países da União Europeia onde mais empregadores não terminaram o ensino secundário (47,5%), número que é três vezes superior à média europeia. Investir em competências, em vez de profissões, é fundamental para fazer frente a estes desafios, considera a fundação e reforça Durão Barroso.

“Mais do que investir em profissões, os jovens — e não só, porque a educação também se deve fazer ao longo da vida — devem investir nas competências”, diz Durão Barroso, ex-presidente da Comissão Europeia, durante o evento anual de apresentação das conclusões do relatório deste ano.

O documento da FJN aponta, precisamente, em direção a um novo paradigma no mercado de trabalho, mais voltado para as competências, em vez das profissões. “Num mundo em que as profissões que aos mais jovens vão ter ainda não foram, muito provavelmente, criadas, estarmos fixados num modelo em que as pessoas olham para o seu futuro baseadas na correlação ‘formação de base e uma profissão’ ou com um grupo de profissões muito adjacente, já não é mais a forma de se olhar para o futuro”, defende Carlos Oliveira, presidente executivo da Fundação José Neves, em conversa com a Pessoas.

Neste novo paradigma que propomos o importante são as competências e a aprendizagem que cada um dos indivíduos faz. Isso permite-lhes, depois, olhar para o mercado de trabalho, não à procura de uma profissão específica, mas de um grupo de profissões que partilham, em grande medida, um conjunto de competências.

Carlos Oliveira

Presidente executivo da Fundação José Neves

“Neste novo paradigma que propomos o importante são as competências e a aprendizagem que cada um dos indivíduos faz. Isso permite-lhes, depois, olhar para o mercado de trabalho, não à procura de uma profissão específica, mas de um grupo de profissões — aquilo que chamamos cluster de profissões — que partilham, em grande medida, um conjunto de competências.”

Com esta visão, as pessoas podem olhar para o mundo do trabalho e para a transição para o mercado laboral, ou para a sua própria progressão de carreira, nesta perspetiva de olhar para um cluster, “sabendo que, se desenvolverem algumas competências ao longo da vida adjacentes às que já têm de base, vão conseguir fazer transições de carreira, seja na mesma empresa ou noutra empresa”, bem como “ter um perspetiva muito mais futurista do mercado de trabalho”.

Consulte aqui a entrevista exclusiva de José Manuel Durão Barroso ao ECO/Pessoas.

Competências na área da digitalização são, para Durão Barroso, “essenciais”. “Aliás, a União Europeia colocou este tema numa das suas prioridades, e bem!”

“Além disso, tudo o que tem a ver com novas tecnologias e tecnologias desde a inteligência artificial, porque é uma tecnologia horizontal, não é um setor. É algo que já está a mudar toda a nossa produção de bens e serviços”, continua o também ex-primeiro-ministro de Portugal.

O ideal, na sua opinião, seria combinar a formação técnica com o investimento nas humanidades, na capacidade de compreender, analisar e criticar o mundo. “Temos de adaptar os modelos de educação a um mundo que está em cada vez maior transformação. É um grande desafio, e em há Portugal ainda há muito por fazer.”

Na Fundação José Neves, a tendência observada tem sido já nesse sentido: um aumento da procura por todo o tipo de competências, mas, sobretudo, pelas skills digitais. Ao mesmo tempo, “há um aumento importante da procura por competências mais transversais, isto é, competências como a comunicação, criatividade, adaptabilidade e também de trabalho em equipa”, detalha Carlos Oliveira.

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