Fernando Amorim (Melior): “mercado de aquisições nos seguros está efervescente”
Depois de comprada pela espanhola Concentra no ano passado, foi a vez desta ser comprada pela BlackFin, fortalecendo a Melior, 10ª maior corretora de seguros em Portugal. O presidente fala do futuro.
Para Fernando Gomes de Amorim, presidente da Comissão Executiva da corretora Melior, o futuro voltou a mudar esta semana após a formalização da compra da maioria do capital da espanhola Concentra Inversiones – que em junho de 2021 havia adquirido 90% da portuguesa Melior, pela BlackFin Capital Partners, uma gestora de fundos com sede em Paris. O novo grupo ibérico vai faturar 22 milhões de euros em 2022 prevê a BlackFin e quase 6 milhões deste valor vem da Melior, colocando-se o conjunto no top 3 da corretagem independente na península.
Os planos são agora crescer. Fernando Amorim sublinha que “Espanha e Portugal são mercados diferentes mas estamos a construir um projeto ibérico em que há uma forma sinérgica cooperar”, acrescentando que “estamos muito estabilizados, suportados por acionistas espanhóis e franceses, mas queremos construir, crescer”.
O crescimento será sempre também orgânico e Fernando Amorim destaca que a Melior – que em 2021 obteve receitas de 5,4 milhões de euros, sendo a 10ª maior corretora em Portugal – aumentou até agosto deste ano o seu negócio em 6,32%, em linha com o mercado.
No entanto, o crescimento também será feito por aquisições. A Melior está interessada em tudo o que seja distribuição, corretores e mediadores, e onde não tem presença geográfica. Neste momento a corretora tem presença em Lisboa, Porto, Funchal e Anadia. Segundo Fernando Amorim “o mercado está efervescente em todo o lado, há imensos processos consolidação e queremos estar nesse desafio”.
“As aquisições a que estamos a olhar – e temos algumas já perspetivadas – são para o mercado nacional onde todos se compram todos se vendem”. Todas as hipóteses são estudadas “desde que sejam rentáveis e encaixem na estratégia” e os caminhos podem ser diversos: “ao ter de fundir empresas simétricas ficamos a olhar mais para dentro, mas há o caminho de operações granulares em que temos de acumular mais que uma adquirida ao mesmo tempo para ganhar escala e entrar em novos mercados”.
Nas aquisições “a grande preocupação é se o ativo, os clientes, se vai manter por isso queremos manter as equipas nas entidades adquiridas, é o modelo preferível, envolver as pessoas no nosso projeto”, refere Fernando Amorim.
Mercado caminha para oligopólio
Embora com uma carteira significativa de particulares, a vocação da Melior é empresas e riscos complexos. E nesse aspeto Fernando Amorim está apreensivo “o mercado está a caminhar para o oligopólio, para certos riscos apenas 2 ou 3 operadores vão a jogo”. Queixa-se da pouca apetência por certas coberturas por parte das seguradoras a operar em Portugal, tanto mais que o departamento internacional da Melior tem conseguido arranjar soluções para Portugal que não são de cá. “Preferia que esta área fizesse negócio noutros países em vez de seguradoras baseadas no estrangeiro cobrirem riscos em Portugal”, diz.
Tem interesse nas PME pelo seu potencial estratégico de crescimento devido à sua taxa de consumo de seguros face ao risco que as empresas enfrentam ser baixo, o que leva Fernando Amorim a colocar este segmento como um dos mais interessantes.
A subida de preços é outro fator que está a ocupar o diretor da Melior: “o custo com seguros está a crescer muito significativamente e temo que as empresas sintam um desinteresse económico pelo seguro”. As renovações de seguros já estão a refletir a inflação e vai ser um problema geral do setor segurador.
Quanto a oportunidades ainda por explorar mais, considera os seguros Vida Risco como área a desenvolver, para além da subcobertura de riscos nas empresas. Também vê com bons olhos, nos seguros financeiros, produtos Vida que juntem planos de reforma. Defende intervenção do Estado para os riscos ciber “é um problema em rede, pode exigir uma política pública que estimule a contratação de seguros”, afirma.
Também a cultura preventiva está ainda muito atrasada em Portugal, considera Fernando Amorim, “ou o seguro é obrigatório ou estão sinistros de um determinado tipo a acontecer muito e faz-se no momento”, concluindo que “o incidente é um bom pedagogo, mas pode sair muito caro”.
Fernando Amorim é filho de mediador, gestor de empresas de formação, começou nos seguros em 1994 e percorreu a Tranquilidade, a Açoreana e a Caravela antes de ingressar na mediação. Conserva a ideia social da atividade seguradora: “o setor não se pode libertar do seu meio social” – refere – “os seguradores estão a desertar de certos riscos empresariais. Naturalmente têm a visão de lucro mas não devem perder a visão social”.
O que é o que vai fazer a BlackFin
Fernando Amorim está confiante na valia que o novo acionista vai trazer, para juntar ao que a Concentra já estava a adicionar: “o modelo de governance é muito claro e estrito e está tudo harmonizado com Espanha e França e nós temos de respeitar o direito português”. A relação com a ASF, entidade reguladora, foi intensa para viabilizar esta operação e o gestor considerou um processo que decorreu dentro dos prazos e em bom ambiente. “A BlackFin é um potenciador de capacidade, são pessoas mais novas mas que têm conhecimento de um setor “muito atraente para quem tem excedentes de capital”, conclui Fernando Amorim.
A BlackFin explica que o novo grupo ibérico continuará a atuar em três linhas de negócios compostas por diversas marcas que atuarão de forma independente: retalho, wholesale e extensão de garantias. As corretoras Gescobert, Segurfer e UBL Brokers são especializadas em soluções de seguros de ramos pessoais e empresas em Espanha, enquanto a Melior faz o mesmo em Portugal. Em wholesale atuará com a marca Hispania. No segmento de extensão de garantia, a Concentra Garantias oferece cobertura para reparações de veículos usados.
“A nossa ambição de ser líder indiscutível na região ibérica (Espanha e Portugal), tanto em termos de clientes como de receitas, ambição sustentada por um plano de negócios ambicioso mas viável”, disse Javier López Linares, presidente executivo do renovado Grupo Concentra, a propósito desta operação.
Especializada em investimentos em serviços financeiros, fintechs e insurtechs, a BlackFin Capital Partners gere ativos no valor de 2,4 mil milhões de euros. O seu fundo Tech 2 de 350 milhões de euros apoia fintechs e insurtechs B2B de alto crescimento. Fundada em 2009 é uma empresa independente de private equity liderada por nove sócios que trabalham juntos como gestores e empreendedores no setor financeiro há décadas. A equipe conta com mais de 45 colaboradores nos seus escritórios em Paris, Londres, Bruxelas e Frankfurt.
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