Exclusivo Grupo Montepio reestrutura dívida das seguradoras e estuda venda de ativos

Mutualista converte empréstimos subordinados de 30 milhões em prestações acessórias de capital para aliviar peso da dívida das Lusitânias. Venda de ativos – seguradora em Moçambique – em cima da mesa.

Face à turbulência das bolsas que tem afetado o setor segurador nos últimos meses, a Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) tem em curso uma intervenção de fundo nas duas seguradoras do grupo, incluindo uma reestruturação parcial da dívida com vista a reforçar as almofadas financeiras da Lusitânia e Lusitânia Vida, e ainda a possibilidade de vender ativos, como a participação na seguradora em Moçambique, de acordo com as informações recolhidas pelo ECO. A mutualista admite “dimensionamento” do quadro de mais 500 trabalhadores das duas companhias.

A intervenção mais profunda será feita na Lusitânia, onde se procederá a uma operação financeira que, sem afetar o valor da companhia, irá eliminar os resultados transitados negativos — que se situavam em -115,9 milhões de euros no final do ano passado –, abrindo a porta à distribuição de dividendos no futuro.

Até setembro, a Lusitânia registava um lucro de 7,7 milhões de euros e cumpria os níveis de solvência do regulador. Contudo, a seguradora do ramo não vida – que tenta evitar no tribunal uma coima de 20 milhões aplicada pela Autoridade da Concorrência — apresenta uma situação de capitais próprios desequilibrada, razão pela qual a AMMG tem em vista realizar até final do ano uma operação para aliviar o passivo e equilibrar a situação líquida da empresa: vai avançar com o reembolso antecipado de empréstimos subordinados de 2015 e 2019 no valor de 14,5 milhões de euros e, simultaneamente, reforçar os capitais próprios no mesmo montante através de prestações acessórias de capital.

Em cima da mesa está ainda a possibilidade realizar uma operação semelhante em relação a um empréstimo subordinado de nove milhões de euros, e também a alienação de várias participações que a Lusitânia detém, nomeadamente na Companhia de Seguros de Moçambique (cerca de 20%).

Quanto à Lusitânia Vida, o grupo mutualista procedeu a uma operação de transformação de um empréstimo subordinado no valor de 7,5 milhões de euros em prestações acessórias de capital, enquanto prepara uma reformulação da oferta comercial. O plano visa recuperar os níveis de solvência da companhia que registava um resultado positivo de seis milhões de euros nos primeiros nove meses do ano. A seguradora chegou a registar um incumprimento do requisito de capital de solvência em fevereiro – o rácio atingiu os 80%, abaixo do requisito regulamentar de 100% –, levando a Autoridade de Supervisão dos Seguros e Fundos de Pensões (ASF) a fazer uma monitorização mais apertada e a pedir medidas no sentido de responder à insuficiência de capitais.

Apresentação de resultados da Associação Mutualista Montepio - 01JUL20
Virgílio Lima, presidente da Associação Mutualista Montepio GeralHugo Amaral/ECO

Instabilidade nas bolsas leva a intervenção

Fonte oficial do grupo liderado por Virgílio Lima explicou ao ECO que “as intervenções ao nível da estrutura de capital foram avaliadas e definidas com o objetivo de criar almofadas financeiras adequadas para a elevada instabilidade nos mercados financeiros a que estão sujeitas as duas empresas de seguros”.

“A situação ao nível dos fundos próprios tem vindo a ser gerida no sentido de um maior equilíbrio na estrutura de capital das companhias, o que permite também a evolução dos seus planos estratégicos, em linha com os objetivos que o grupo definiu para a área seguradora”, acrescentou a mesma fonte.

Desde o início do ano que o setor segurador tem sido afetado pela turbulência nas bolsas devido a vários fatores, como a guerra da Rússia na Ucrânia e as sanções aplicadas a Moscovo ou a subida das taxas de juro para conter a escalada da inflação. As duas seguradoras do Montepio não escapam a esta pressão. As dificuldades sentidas este ano refletiam também, em parte, as perdas de quase 16 milhões de euros da exposição à dívida da companhia de gás Gazprom e da metalomecânica Novolipetsk – perdas que o grupo já disse que espera recuperar, pelo menos, em parte.

"As intervenções ao nível da estrutura de capital foram avaliadas e definidas com o objetivo de criar almofadas financeiras adequadas para a elevada instabilidade nos mercados financeiros a que estão sujeitas as duas empresas de seguros.”

Associação Mutualista Montepio Geral

Quadro de pessoal “será dimensionado às necessidades”

Para a AMMG, as operações nas seguradoras também têm em vista outro aspeto: que se traduzam numa correta avaliação das empresas no balanço “pressionado” do grupo. O negócio segurador está avaliado em cerca de 224 milhões de euros, respondendo por 6% do balanço da maior mutualista do país, com mais de 600 mil associados e que tem no Banco Montepio o maior ativo.

Em relação à Lusitânia, a mutualista esclarece que a intervenção permitirá uma “gestão adequada dos níveis de endividamento, fator muito importante para a determinação da taxa de desconto na avaliação da empresa”.

“Contudo, tanto a evolução da rendibilidade da empresa como a melhoria da estrutura de capital são fatores que influenciam positivamente essa avaliação”, prossegue a mesma fonte, notando, porém, que se regista também uma “situação menos positiva ao nível da evolução da taxa de juro sem risco, que é uma variável importante no processo de avaliação do valor da empresa (baseado no modelo de dividendos)”.

Questionada se se perspetiva a redução do número de trabalhadores nas seguradoras – são mais de 500 entre Lusitânia e Lusitânia Vida — no âmbito da reformulação levada a cabo na área seguradora, a AMMG deixou a porta aberta: “O quadro de pessoal das duas empresas será dimensionado em função das suas necessidades e irá ter em conta a execução dos seus planos estratégicos.”

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