ASF aconselha companhias com seguros de Vida a realinhar estratégia
Turbulência nos mercados financeiros, aumento de resgates e redução da poupança das famílias levam o Supervisor a sugerir realinhamentos às seguradoras com negócio no ramo Vida.
O Painel de Riscos do Setor Segurador relativo a dezembro último, agora divulgado pela ASF, entidade supervisora dos seguros e fundos de pensões, alerta as seguradoras com produtos do Ramo Vida para um reforço da necessidade de realinhamento das estratégias de negócio das empresas. O sinal foi dado pelo contexto de elevada incerteza e volatilidade nos mercados financeiros que a ASF deteta poder estar na origem da quebra de vendas dos seguros de Vida ligados a fundos de investimento.
O painel de riscos de dezembro mantém os semáforos sem nenhuma luz verde, a que indica baixo risco, em todas as 8 categorias de risco analisadas pela ASF, que servem de referência para as decisões de gestão das seguradoras em Portugal.
A ASF comenta a sua análise com os seguintes destaques:
Os riscos macroeconómicos mantém-se no nível alto. As pressões inflacionistas adquiriram um caráter de maior durabilidade, motivando uma normalização mais acelerada da política monetária, e, consequentemente, o aumento dos custos de financiamento dos soberanos e agentes económicos. Há perspetivas de abrandamento da atividade económica.
Riscos de Crédito e de Mercado mantêm as respetivas avaliações em médio-alto e alto. A incerteza em torno do contexto macroeconómico originou períodos de maior volatilidade nos mercados financeiros, assistindo-se ainda a um acentuar do risco de reavaliação dos prémios de risco dos emitentes soberanos e privados, dado o aumento das respetivas yields, ainda que sujeitas a correções descendentes durante o período mais recente.
Risco de liquidez permanece como médio-baixo. Está ainda num nível relativamente confortável, embora com tendência ascendente, dado o progressivo decréscimo do rácio de liquidez de ativos desde o início do ano, comum à generalidade das empresas.
Os riscos de Rendibilidade e Solvabilidade permanecem avaliados em médio-baixo. O rácio de cobertura do Requisito de Capital de Solvência (SCR) fixou-se em 200,8%, mantendo-se em níveis materialmente acima dos registados no período pré-pandemia, apesar de uma ligeira descida, que reflete a quebra nos ativos, parcialmente mitigada pelos efeitos da subida das taxas de juro no desconto das responsabilidades.
No que respeita aos riscos específicos de seguros de Vida assistiu-se, no terceiro trimestre de 2022, a um decréscimo do valor anualizado da produção. Esta evolução retrata, em larga medida, a quebra ao nível dos produtos Vida Ligados, e que deverá estar relacionada com o contexto de elevada incerteza e volatilidade nos mercados financeiros, passível de incentivar uma redução da procura deste tipo de produtos, e, simultaneamente, de reforçar a necessidade de realinhamento das estratégias de negócio das empresas.
Adicionalmente, diz a ASF, acentuam-se os riscos associados ao ramo Vida que se podem materializar através de um eventual aumento de resgates, num contexto de aumento geral dos custos de vida – decorrente da elevada inflação – e de menor capacidade de poupança dos particulares.
Analisando os riscos específicos dos ramos Não Vida, o valor anualizado da produção manteve uma tendência ascendente em setembro de 2022, a qual foi acompanhada por uma variação dos custos com sinistros no mesmo sentido, resultando na manutenção da taxa de sinistralidade anualizada num nível semelhante ao verificado no trimestre anterior.
A evolução não foi transversal a todos os principais ramos, destacando-se o aumento mais acentuado da taxa de sinistralidade do ramo Automóvel e, em sentido contrário, um decréscimo na modalidade de Acidentes de Trabalho. Em termos de evolução futura, a ASF destaca os riscos decorrentes do aumento da inflação, que poderão afetar a rendibilidade do segmento Não Vida, por via do aumento dos custos com sinistros, caso não se verifique a adoção de medidas de compensação adequadas. No caso de Incêndio e Outros Danos, há um potencial agravamento da sinistralidade até ao final do ano, atendendo à ocorrência de eventos climáticos que têm assolado o território nacional nos últimos meses.
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