Banca portuguesa já devolveu 26 mil milhões de empréstimos baratos ao BCE

Subida das taxas de juro levou bancos a reduzirem financiamento do banco central. Amortizaram antecipadamente 26 mil milhões após BCE ter apertado as condições do TLTRO para acabar com borlas à banca.

Nos últimos anos, os bancos aproveitaram as condições excecionais dadas pelo Banco Central Europeu (BCE) para obterem financiamento barato e assim manter o crédito a fluir para a economia.

Em outubro, contudo, o banco central apertou as condições destes empréstimos baratos para evitar que a subida dos juros acabasse por subsidiar o sistema bancário. Isto levou a que as instituições portuguesas devolvessem um valor sem precedentes de 26 mil milhões de euros a Frankfurt no ano passado, revela o Banco de Portugal.

A história conta-se em dois momentos. Por causa da pandemia, o BCE emprestou dinheiro aos bancos comerciais da Zona Euro com juros zero ou mesmo negativos através das chamadas operações de refinanciamento de prazo alargado direcionadas (TLTRO), para garantir liquidez na economia num período muito crítico. Ao todo, as operações de TLTRO atingiram os 2,1 biliões de euros.

Porém, a escalada da inflação que se seguiu à crise pandémica, amplificada pela guerra na Ucrânia, levou o banco central a subir as suas taxas de referência, incluindo a taxa de depósito – aquela a que remunera os bancos comerciais que deixam lá os excedentes de liquidez e que já está nos 2%.

Assim, depois de terem pedido emprestado a taxas zero ou mesmo negativas junto do BCE, os bancos podiam parquear os fundos baratos nos cofres do banco central e tirarem partido de um retorno sem risco com a subida da taxa de depósito.

Perante este cenário, o BCE alterou as regras do jogo em outubro, decidiu “recalibrar” o esquema das TLTRO para evitar dar borlas aos bancos, que estão agora a devolver dinheiro ao banco central num ritmo frenético.

Em Portugal, as operações de refinanciamento de prazo alargado chegaram a atingir os 41,8 mil milhões de euros em grande parte do 2022, mas os bancos fecharam o ano passado já com apenas 16,1 mil milhões de euros do BCE nos seus balanços. Tratou-se de uma redução de 25,9 mil milhões.

Grande parte das amortizações teve lugar nos últimos dois meses do ano, como evidencia o gráfico, já depois dos “desincentivos” lançados pelo BCE: os bancos portugueses devolveram mais de 13,5 mil milhões em novembro e a que se seguiram outros 11,2 mil milhões em dezembro, segundo o Banco de Portugal.

Fonte: Banco de Portugal

Famílias já têm metade dos depósitos à ordem

O supervisor português divulgou esta terça-feira uma fotografia global do sistema bancário no final de 2022, dando conta, por exemplo, que os depósitos subiram 9,6 mil milhões de euros para 182,4 mil milhões de euros no ano passado; e que os depósitos à ordem representam quase metade (49,5%) dos depósitos das famílias nos bancos – em 2015 representavam apenas 26,1%.

Por seu turno, o crédito concedido à economia caiu em 2022, depois de três anos de crescimento. Reduziu-se em 4,6 milhões de euros para 301,2 mil milhões. “Para esta redução contribuíram o decréscimo das aplicações junto do Banco de Portugal, a diminuição dos empréstimos a empresas não financeiras e o abrandamento do crescimento dos empréstimos a particulares, nomeadamente nos empréstimos à habitação”, contextualiza.

Em termos de capital e reservas, os bancos detinham fundos na ordem dos 44,7 mil milhões de euros no final de 2022, o que representa uma queda de 2,1 mil milhões face ao ano anterior.

O peso do capital e reservas no total do balanço tem vindo a reduzir-se nos últimos anos, acrescenta o Banco de Portugal: passou de 11% em 2020 para 9,9% em 2021 e para 9,6% em 2022. “A redução em 2022 é, em grande parte, reflexo de desvalorizações de títulos em carteira, saída de balanço de créditos abatidos ao ativo e de vendas de crédito”, explica a instituição liderada por Mário Centeno.

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