BRANDS' CAPITAL VERDE Armazenamento – o Santo Graal da eletricidade verde
Imagine que, um dia, toda a eletricidade de origem solar ou eólica produzida nas centrais elétricas poderia ser armazenada e usada mais tarde, de acordo com as necessidades ditadas pela procura.
Esse dia já esteve mais longe. Chegará quando a tecnologia de armazenamento a grande escala estiver operacionalizada, e quando os países puderem tirar todo o partido das vantagens das renováveis, armazenando eletricidade quando as centrais estiverem a registar picos de produção para injetar essa energia verde na rede quando a procura o exigir.
Nesse dia deixaremos de usar palavras como “variabilidade” e “volatilidade” no que toca às renováveis porque toda a eletricidade verde produzida poderá passar a ser aproveitada a 100%. Nada se perderá.
Esta mudança, associada a um elevado nível de eletrificação direta e indireta da economia, permitirá acelerar as estratégias de descarbonização. Terá também impactos financeiros muito significativos para os consumidores, que verão potenciadas as vantagens que as renováveis já oferecem atualmente.
O Governo Português já anunciou que quer melhorar a capacidade de bombagem como uma das contribuições para a garantia de fiabilidade e segurança do sistema. A bombagem, que maximiza os aproveitamentos hidroelétricos, já funciona como uma gigante bateria em Portugal – representou 4,2% da eletricidade renovável consumida em Portugal em janeiro de 2023 – mas é preciso apostar noutro tipo de tecnologias de armazenamento, como as baterias de lítio, o hidrogénio ou mesmo os combustíveis renováveis de origem não biológica, por exemplo.
No entanto, um problema subsiste: os sistemas de armazenamento não estão ainda no ponto de rendibilidade mínima exigida face ao atual modelo de mercado. Equacionar uma remuneração adequada dos serviços de armazenagem a longo prazo para assegurar o desenvolvimento e a bancabilidade dos projetos necessários, incentivando ao mesmo tempo o investimento em renováveis na produção de eletricidade, poderá ser um caminho a traçar no âmbito do futuro desenho de mercado.
Certo é que, sem a implementação de tecnologias de armazenamento, os objetivos de descarbonização dificilmente serão atingidos apenas com base naquele que é o preço grossista de mercado da energia.
Não nos esqueçamos de que a ambição é grande: o Governo pretende aumentar, até 2026, o peso das renováveis na produção de eletricidade, chegando aos 80% e antecipando quatro anos a meta estabelecida no Plano Nacional de Energia e Clima submetido à Comissão Europeia em 2020. A meta para a neutralidade carbónica é 2045.
Mais cedo do que tarde, os sistemas de armazenamento terão de surgir em massa para conferir maior eficiência, segurança e robustez ao sistema elétrico, facilitando a integração de mais energias renováveis, despacháveis e não despacháveis. Contribuirão, dessa forma, para reforçar a segurança e autonomia energética, uma meta essencial, não só por questões de soberania, mas também por questões económicas.
Pedro Amaral Jorge, CEO da APREN
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Armazenamento – o Santo Graal da eletricidade verde
{{ noCommentsLabel }}