DRH Auchan Portugal: “Falamos muito no teletrabalho, mas não é uma questão para a maioria dos portugueses”
Na Auchan, mais de 90% dos colaboradores estão nas lojas e, para esses, o teletrabalho não é uma opção. A retalhista tem investido noutras formas de promover a flexibilidade destes profissionais.
“Quando entrei na Auchan, há 14 anos, não se falava em teletrabalho. Mas eu, na altura, tinha uma equipa de comunicação, com duas pessoas, e pedi um portátil para as duas. Um portátil a dividir pelas duas. Uma delas morava em Cascais e a outra na Azambuja e ambas tinham filhos pequenos. Sempre que precisavam de ficar em casa, porque tinham qualquer coisa para fazer ou porque o filho estava doente, iam ao sistema e punham ‘dia fora’, e eu dizia para porem nas notas ‘teletrabalho’”, começa por contar Clara Costa. “Eram as únicas duas pessoas na empresa que justificavam ‘teletrabalho’”, acrescenta a diretora de pessoas, cultura e transformação da Auchan Retail Portugal.
Embora ainda hoje lhe faça uma certa confusão o loop de reuniões virtuais, pode dizer-se que Clara Costa foi, de certa forma, pioneira neste modelo de trabalho no retalhista alimentar. Catorze anos depois, esse regime tornou-se mais comum no mundo do trabalho, mas, apesar de admitir ser muito a favor do trabalho à distância, Clara Costa continua a privilegiar as relações presenciais. Ir ao escritório é crucial para manter a cultura da empresa viva e para reforçar os laços entre as pessoas. E relembra: “Falamos muito no teletrabalho, mas, na verdade, não é uma questão para a maioria dos portugueses.”
Na Auchan, mais de 90% dos colaboradores estão nas lojas e, para esses, o teletrabalho não é uma opção. A retalhista tem investido, por isso, noutras formas de potenciar a flexibilidade e o bem-estar destes profissionais.
Os líderes são para estar atrás. A apoiar, a alinhar, a inspirar… Temos de passar a fase da cultura um bocadinho maternal de que o líder tem que ir a puxar a equipa. Não. O sonho de qualquer líder é que a equipa vá à frente, que tenha autonomia e responsabilidade para poder ir à frente. E é por aí que se medem os bons líderes.
“Temos uma série de práticas que são melhores que a própria Lei. Fazemos o planeamento dos horários de trabalho com dois meses de antecedência; não usamos o banco de horas (que cria alguma instabilidade); temos práticas de, quando são casais, poderem escolher as férias e as suas folgas de forma a conciliarem ou não; iniciámos um projeto há uns anos atrás de duas creches, na Amadora e em Alfragide, onde temos mais colaboradores. Estamos também a permitir que os trabalhadores possam trocar os horários entre si, conforme vão necessitando ou surge algum imprevisto”, exemplifica.
E 2023 trouxe uma novidade ao nível dos dias de férias: a passagem para 25 dias de férias. “Este é também o caminho”, afirma Clara Costa.
No centro das duas preocupações está a experiência do colaborador. Encontrar em cada uma das mais de 8.500 pessoas que a companhia emprega em Portugal o talento e, com isso, melhorar a vida de cada uma delas foi o que motivou a profissional a aceitar a direção de pessoas, antes liderada por Jorge Filipe que, entretanto, se reformou.
“O sonho de qualquer diretor de pessoas é pensar que cada colaborador, no tempo que dedica à empresa, quer, de facto, fazer a empresa. Não é uma relação funcional. É a diferença entre comer uma piza e gostar de fazer piza. O maior sonho de um diretor de pessoas, de um CEO ou de qualquer líder de equipa – pelo menos dos líderes que precisamos para amanhã – é liderar uma equipa que, em conjunto, também faz a empresa”, defende.
A gestora recusa-se a olhar para a figura do líder como a pessoa que vai à frente e puxa a equipa consigo. Pelo contrário. “Os líderes são para estar atrás. A apoiar, a alinhar, a inspirar… Temos de passar a fase da cultura um bocadinho maternal de que o líder tem que ir a puxar a equipa. Não. O sonho de qualquer líder é que a equipa vá à frente, que tenha autonomia e responsabilidade para poder ir à frente. E é por aí que se medem os bons líderes.”
Recrutar 1.000 colaboradores até 2024. Imaginar a organização do futuro
Este mindset, focado na melhoria contínua da experiência do colaborador, a par da remuneração, que Clara Costa admite ser “indiscutível”, é o que a diretora de pessoas, transformação e cultura acredita fazer a diferença no recrutamento. “O mercado está a mexer no pós-pandemia”, admite.
Em algumas funções – nomeadamente aquelas em que os concorrentes não são só retalhistas, mas outros setores, startups, unicórnios – está a registar-se uma maior rotatividade. “São as funções habituais para todos os setores. IT, data, digital, também supply chain… Aí as empresas estão numa espécie de mercado de talento em grande competição”, afirma. “Mas também tudo o que é gestão”, salienta. “De uma forma geral, estamos num momento competitivo e onde o maior desafio é a atração e a retenção de talento.”
Estamos sempre muito preocupados com o que vamos propor ao cliente. Usamos todas as técnicas, análises e estudos para o cliente. Na verdade, é isso que temos que fazer também para o colaborador. É adaptar ao indivíduo. Não pensar em massa, mas em perfis, em necessidades, em idades…
A missão é, por isso, propor ao colaborador – exatamente como se tenta fazer com o cliente – uma experiência única. “Estamos sempre muito preocupados com o que vamos propor ao cliente. Usamos todas as técnicas, análises e estudos para o cliente. Na verdade, é isso que temos que fazer também para o colaborador. É adaptar ao indivíduo. Não pensar em massa, mas em perfis, em necessidades, em idades…”
Os planos ao nível de contratações da cadeia passam pela integração de 1.000 novos profissionais até final de 2024. As vagas são, sobretudo, para funções nas futuras lojas. E, sobre o futuro do retalho, Clara Costa adianta: “Destacam-se as equipas de IT, com foco quer no desenvolvimento, quer em tudo o que é segurança, robotização, automatização, tudo o que é web. Há efetivamente uma necessidade de um maior suporte IT.” Mas não só. Manter a humanização no digital – algo do qual a Auchan não pretende abrir mão – implica também o aumento das funções ligadas à comunicação digital. “Não só meramente de análise de dados e de publicidade, mas sim aquilo que é a relação humana nos canais digitais.”
E, mesmo nas lojas, prevê novas funções. “O comércio ou mesmo a venda online, ou tudo o que possam ser novos negócios, tem sempre como base aquilo que é o nosso core, que é a venda de produtos e serviços. Portanto, de alguma forma, quer novas funções no supply chain, quer em loja, também vão aparecer. E esse é, naturalmente, um dos grandes desafios de qualquer diretor de pessoas: imaginar a organização do futuro e pensar como faço reskill ou upskill a todas as pessoas, de forma a conseguir responder a essa organização do futuro. Provavelmente, até vamos precisar de mais pessoas.”
Veja aqui todos os objetos que estão em cima da ‘Mesa do Recrutador’ de Clara Costa:
(Este artigo é parte integrante da Pessoas n.º20, que pode encontrar à venda aqui)
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