Indústria europeia arrisca perda “estrutural” de competitividade face ao aumento dos custos de produção

BCG alerta que setores químico, siderúrgico, de construção e automóvel, na Europa, enfrentam todos uma "perda estrutural" de competitividade devido ao aumento "significativo" dos custos de produção.

Ainda que a Europa tenha conseguido sobreviver à crise energética — graças às temperaturas amenas e aos armazenamentos cheios — existem receios e incertezas relativamente ao próximo inverno. Uma das preocupações, além de um possível aumento do preço do gás devido à “reabertura” da economia da China, são as repercussões que isso terá na indústria intensiva de gás.

Com o fim dos envios de gás russo, em setembro de 2022, a União Europeia viu-se obrigada a procurar outras fontes de gás natural liquefeito (GNL) que são, em média, mais caras do que o combustível que chegava ao espaço europeu por gasoduto, a partir de Moscovo. Isto influencia a sustentabilidade da indústria europeia, que poderá tornar-se menos competitiva nos próximos anos, alerta o Boston Consulting Group num artigo de análise.

Segundo a consultora, os setores químico, siderúrgico, de materiais de construção e automóvel no bloco europeu enfrentam todos uma “perda estrutural em termos de competitividade” devido ao aumento “significativo” dos custos de produção. Até 2030, esse aumento deverá ser de 10% quando comparado com 2020, segundo as contas da BCG.

Por exemplo, no caso dos materiais de construção, a consultora antecipa uma subida de 100% nos custos de produção, que irão “depender da intensidade energética e do cabaz energético utilizado para cada material”. “Isto resultará em múltiplas mudanças estruturais na indústria”, alertam os especialistas.

No caso do aço, um possível aumento dos preços do gás conduzirão a um diferencial de custos de cerca de 12% entre, por exemplo, a Alemanha e os EUA, tornando a produção alemã menos competitiva quando comparado com o aço importado. Quanto ao recurso ao hidrogénio verde para acelerar a produção, esta solução confere, na verdade, mais custos no espaço europeu. A BCG antecipa uma subida de cerca 35% uma vez que, nos Estados Unidos, o hidrogénio passará a ser subsidiado no âmbito da Lei de Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês).

Quanto ao setor automóvel, a consultora norte-americana estima que no caso da produção de carro típico do segmento C do motor de combustão interna, os aumentos serão de cerca 1.500 euros, ao longo de toda a cadeia de valor, em 2030, quando comparado com 2020.

“Muitos fornecedores terão dificuldade em compensar os elevados custos energéticos apenas através de medidas de redução de custos e eficiência. Uma vez que também enfrentam outros desafios, tais como a disponibilidade de mão-de-obra qualificada, é provável que algumas empresas transfiram a produção para países menos dispendiosos“, sublinha a consultora.

Os dados chegam numa altura em que os incentivos à indústria dos Estados Unidos continuam a ameaçar a indústria europeia. Através da Lei de Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês), Joe Biden disponibilizou quase 370 mil milhões de dólares para impulsionar o desenvolvimento de tecnologias limpas e “verdes”, incentivo que não só irá acelerar a descarbonização daquele país, mas também pode aliciar a indústria europeia a mudar-se para terras norte-americanas.

A Volkswagen já admitiu estar a ponderar inaugurar nos Estados Unidos uma fábrica de baterias para carros elétricos, ao invés de na Europa do Leste. A razão para tal opção é que a construtora alemã de automóveis, a maior da Europa, poderá receber entre 9 mil milhões e 10 mil milhões de euros em subsídios do Estado norte-americano no âmbito dos pacotes de ajuda à indústria “verde” aprovados pela administração do presidente Joe Biden.

A construtora aguardava pela resposta de Bruxelas aos EUA para tomar uma decisão, que entretanto chegou, embora com poucos detalhes. Certo, é que a Comissão Europeia, no âmbito do Net Zero Industry Act, quer que 40% da tecnologia “net-zero” seja fabricada na Europa.

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