Portugal desce no ranking de qualidade das elites

Um trambolhão de oito posições, em relação ao ano passado, num ano marcado por um aumento sem precedentes da inflação e pela guerra na Europa.

Portugal está a cair no que toca ao Índice de Qualidade das Elites, tendo este ano figurado em 30.º lugar, de um total de 151 países analisados em 134 parâmetros. Um trambolhão de oito posições, em relação ao ano passado, num ano marcado por um aumento sem precedentes da inflação e pela guerra na Europa, conclui o Índice de Qualidade das Elites (EQx) 2023, realizado pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) e pela Universidade de Saint Gallen (Suíça).

“Os dados revelam que, em Portugal, as elites continuam a revelar uma tendência crescentemente extrativa, que importa corrigir, mantendo-se um país pouco competitivo, muito aberto ao exterior, muito dependente da situação económica dos seus principais parceiros, endividado e centralista, estando fortemente dependente do turismo”, comenta o diretor da FEP, Óscar Afonso, em comunicado.

“Portugal é um país com uma divida pública expressiva, obrigando a uma austeridade significativa, como revela a enorme carga fiscal. Os constrangimentos que o endividamento impõe impedem que o governo tenha capacidade para promover a atividade económica, mesmo com a ajuda de fundos comunitários. É preciso ainda reconhecer que a inflação tem vindo a dificultar, e muito, a atividade económica, pois os custos dos investimentos programados aumentaram face aos orçamentos iniciais”, acrescenta ainda a professora Cláudia Ribeiro, que, juntamente com Óscar Afonso, é responsável pelo estudo.

Face ao ranking anterior, Portugal manteve a posição ao nível do poder político (19.º lugar), mas viu deteriorado o respetivo valor criado (37.ª posição em 2023 e 11.ª posição em 2022). Já em termos económicos, o país registou uma maior concentração do poder económico (42.ª posição em 2023 e 25.ª posição em 2022), sem reflexo no valor económico criado (39.ª posição em 2023 e 37.ª posição em 2022).

Em Portugal, as elites continuam a revelar uma tendência crescentemente extrativa, que importa corrigir, mantendo-se um país pouco competitivo, muito aberto ao exterior, muito dependente da situação económica dos seus principais parceiros, endividado e centralista, estando fortemente dependente do turismo.

Óscar Afonso

Diretor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto

O índice — que analisa 151 países — baseia-se em 134 indicadores e em quatro áreas conceptuais – poder económico, valor económico, poder político e valor político – categorizando as elites em “muito alta qualidade” (posição de 1 a 10), “elites de alta qualidade” (posição de 11 a 25), “elites de qualidade” (posição de 26 a 75), “elites de qualidade média” (posição de 76 a 124) e “elites atrasadas” (posição superior a 125).

A classificação obtida por Portugal de “elite de qualidade” resulta do desempenho positivo obtido em diferentes indicadores, que se traduzem na tolerância à inclusão de minorias, liberdade académica e liberdade religiosa (poder político), bem como na facilidade de encerramento de negócios, na dispersão das exportações pelas firmas e na dispersão do valor acrescentado pelo universo das empresas (poder económico).

No valor político destacaram-se pela positiva o desempenho na segurança alimentar, a fraca diferença salarial entre os setores público e privado e a qualidade ambiental, enquanto no valor económico há que salientar a ausência de barreiras ao Investimento Direto Estrangeiro e a taxa de crescimento da produtividade do trabalho.

Mudança no topo do ranking

Pela primeira vez na história do índice, a Suíça ultrapassou Singapura, passando assim a liderar em termos de qualidade de elites, em reflexo da capacidade de criação de valor e crescimento económico.

O Japão (4.º lugar, subida de 14 posições) e a Alemanha (8.º lugar, subida de três posições) registaram progressos muito positivos. O mesmo se aplica à Índia (59.º lugar, subida de 38 lugares), ao Brasil (69.º lugar, subida de 12 lugares) e à África do Sul (83º lugar, subida de 16 lugares). Estas conquistas contrastam fortemente com a Rússia (103.º lugar, descida de 36 lugares).

Os Estados Unidos (21.º lugar, descida de seis posições) e a China (22.º lugar, subida de cinco posições) estão agora lado a lado. “Em tempos de rivalidade geopolítica crescente entre as duas potências, este facto torna-se uma questão de interesse internacional, uma vez que a criação sustentável de valor pelas elites é a base da força e competitividade nacionais futuras”, conclui Óscar Afonso.

O índice está disponível aqui.

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