Alas diferentes ou outras visões. Há socialistas que defendem uma remodelação do Governo

Figuras do PS como o presidente e atuais e antigos deputados têm avançado com apelos à remodelação do Governo. Dentro do partido "é natural que haja alas diferentes", defende politólogo.

Muito tem acontecido na política nos últimos dias e a oposição tem criticado a decisão de António Costa de manter João Galamba como ministro das Infraestruturas. Mas não é só do “outro lado” que têm vindo as reações, sendo que vários socialistas se têm pronunciado, alguns sobre as condições de Galamba para desempenhar o cargo mas a maioria a apelar ou a sugerir uma remodelação mais alargada no Executivo. Pode ser uma demonstração das várias alas do partido ou sinais de diferentes visões sobre a organização do Governo, apontam politólogos.

Um dos apelos veio mesmo do topo: Carlos César, presidente do PS, defendeu uma remodelação do Governo e recomendou ao primeiro-ministro que avalie a necessidade de “algum refrescamento” no seu Executivo, porque “alguns ministros não cumpriram as expectativas”. Declarações que surgiram logo após as explicações de Galamba relativamente à polémica com o seu ex-adjunto.

António Costa decidiu não seguir o conselho do presidente do PS e rejeitou a demissão de Galamba, sem avançar também com mexidas no Governo. Carlos César voltou então a expressar a sua opinião, defendendo neste sábado a necessidade de o partido estar atento à atuação do Governo de maioria socialista para mudar e melhorar, se for preciso, “políticas ou de políticos”.

César não é o único a pensar assim dentro do partido. Poucos dias depois, Vitalino Canas defendeu que “tem de haver alguma coisa que mude um bocadinho o rumo do Governo”, em declarações à Renascença. “Seguramente, haverá já dentro do PS uma forte corrente a pensar que tem de haver alguma coisa que mude aqui um bocadinho o rumo do Governo”, disse mesmo o antigo deputado.

Manifestações dessa corrente têm surgido, por exemplo pela voz de João Soares, ex-presidente da Câmara de Lisboa, que na altura expressou concordância com Carlos César. Entretanto, voltou a pronunciar-se este domingo, na RTP, reiterando que João Galamba devia demitir-se de novo e dizendo que “obviamente tem que haver uma mexida no Governo”. “Eu sou do PS e há coisas que não estão bem”, acrescentou.

A deputada socialista Alexandra Leitão também começou por defender, no programa Princípio da Incerteza, uma “espécie de reset” no Governo. Após os acontecimentos, a antiga ministra avançou ainda com um artigo de opinião no Expresso onde argumenta que após um “braço de ferro”, e sem a “necessária remodelação, o Governo continua politicamente enfraquecido, quer setorialmente, quer pela falta de coesão que tem demonstrado”.

Dentro do PS há também quem não peça especificamente uma remodelação, mas que considera que Galamba não tem condições para continuar no Governo, como é o caso de Álvaro Beleza, presidente da Sedes, Associação para o Desenvolvimento Económico e Social. Em entrevista à TSF, defendeu que o ministro “não tem condições políticas” e por isso “está a prazo”.

Esta demonstração de divergência dentro do partido “pode dever-se a dois fatores principais”, segundo aponta ao ECO Hugo Ferrinho Lopes, investigador de doutoramento em Política Comparada no Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa. Por um lado, às “clivagens dentro do partido, querendo salvaguardar interesses de representação interna”.

Por outro, os apelos podem advir da “própria visão e discordância com a estrutura e funcionamento do governo, o que é relevante, uma vez que nos mandatos anteriores António Costa não só conseguiu ter o partido pacificado, como também os (anteriores) parceiros à esquerda”.

“Neste momento, tem várias frentes de combate: a competição interpartidária, com o BE e o PCP a assumirem uma oposição clara, a competição intrapartidária, quer por interesses no âmbito deste mandato, quer posicionamentos políticos para o futuro do PS no pós-Costa, e ainda a relação de forças com Belém”, acrescenta o investigador.

Já o politólogo José Adelino Maltez destaca ao ECO que “cada um tem o seu estilo, as suas posições políticas e o seu espaço”. Dentro do partido, “é natural que haja a ala esquerda” e até quem tem “saudades da geringonça”, bem como outras, e “tudo pode acontecer: até pode haver ala de gente que quer o PS ancorado ao centro e não se importava de bloco central”, alvitra.

Assim, o politólogo destaca que o PS “é muito plural” e que se tem visto cada vez mais figuras a “assumir-se por uma solução centrista”. “Estão a construir-se alternativas”, aponta, algo que será mais possível perceber em altura de eleições.

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