Pedro Nuno Santos “esteve” na comissão de inquérito à TAP mesmo antes de ser ouvido

Pedro Nuno Santos comparece hoje na comissão parlamentar de inquérito, mas o seu nome foi o mais ouvido na audição do seu ex-secretário de Estado, na quarta-feira.

Pedro Nuno Santos vai estar esta quinta-feira na comissão parlamentar de inquérito à TAP, mas o antigo ministro foi várias vezes o tema na audição da véspera, em que foi ouvido o seu antigo braço-direito, Hugo Mendes, ex-secretário de Estado das Infraestruturas. Logo na sua intervenção inicial, Hugo Mendes fez questão de deixar uma “palavra de agradecimento a Pedro Nuno Santos”. O nome seria repetido várias vezes ao longo da audição.

Foi mesmo o motivo do momento mais tenso da tarde, quando, após estar a mexer no telemóvel, o ex-secretário de Estado foi questionado se estava a trocar mensagens com o antigo ministro. “Não estou a falar com Pedro Nuno Santos. Estou a falar com outras pessoas”, insurgiu-se, acrescentando, no entanto, que não há nada que o proíba de o fazer se assim quisesse. “Eu não estou proibido de falar com Pedro Nuno Santos. Isso está escrito onde?”

Antes, Paulo Moniz, do PSD, já tinha questionado o ex-governante sobre se tinha conversado com o antigo ministro antes de vir ao Parlamento. “Conversei ontem com o Dr. Pedro Nuno Santos”, respondeu.

O antigo ministro das Infraestruturas, que esta quinta-feira será ouvido pelos deputados, veio também à baila a propósito de um email enviado por Christine Ourmières-Widener a Hugo Mendes, em janeiro de 2022, onde cita uma conversa com Pedro Nuno Santos em que este lhe terá dito que aprovava a atribuição de um bónus referente ao exercício anterior.

Hugo Mendes respondeu que não esteve na reunião, mas que terá sido a mesma em que a ex-CEO abordou o desejo da saída da antiga administradora Alexandra Reis. “O Dr. Pedro Nuno Santos é que tem de confirmar em que termos decorreu a conversa com a CEO. Tem de inquirir o Dr. Pedro Nuno Santos”, afirmou.

O ex-ministro foi também invocado na resposta a Bruno Dias, do PCP, sobre os fundos Airbus usados pela Atlantic Gateway para capitalizar a TAP na reprivatização de 2015. “Se há alguém que não escondeu nada a ninguém foram Pedro Nuno Santos e Fernando Medina, que enviaram os elementos para o Ministério Público”, na sequência das diligências feitas pela companhia aérea em 2022 para apurar se havia “diferenças nos custos” face a operadoras concorrentes.

As linhas de argumentação usadas por Hugo Mendes não deverão diferir muito das que serão utilizadas por Pedro Nuno Santos, de alguma forma preparando terreno para a sua audição. O acordo de rescisão da antiga administradora Alexandra Reis passou em grande medida ao lado da audição na Comissão de Economia, a semana passada, mas o mesmo não deverá acontecer na CPI.

O ex-secretário de Estado sustentou que o ministério das Infraestruturas fez apenas uma apreciação política sobre a indemnização bruta de 500 mil euros, afirmando que o valor foi o equilíbrio encontrado, respeitando os direitos da antiga administradora, correspondendo a um terço do valor inicial exigido. Questionado sobre se o ministro sabia das divergências entre a ex-CEO e Alexandra Reis, voltou a recomendar que a pergunta fosse feita ao próprio.

De resto, Hugo Mendes colocou toda a responsabilidade do processo nos ombros da ex-CEO, do antigo presidente do conselho de administração e dos assessores jurídicos que participaram no processo, em particular o que aconselhou a TAP. “Aquelas pessoas ganham muito dinheiro justamente para isso”, atirou.

Usou a mesma argumentação em relação ao comunicado à CMVM a anunciar a saída de Alexandra Reis por renúncia, que mais tarde seria corrigido por determinação do supervisor. “Agimos no princípio da boa-fé e da confiança. A entidade emitente é a TAP. Quem tem responsabilidade pela informação prestada é o emitente”, sublinhou.

Hugo Santos Mendes foi secretário de Estado das Infraestruturas de Pedro Nuno Santos entre 30 de março de 2022 e 4 de janeiro de 2023. Demitiu-se na sequência do caso da indemnização de 500 mil euros à antiga administradora Alexandra Reis. No Executivo anterior, tinha sido Secretário de Estado Adjunto e das Comunicações, também com o ministro das Infraestruturas e Habitação, de quem foi chefe de gabinete entre 2019 e 2020. Licenciado em Sociologia e mestre em Políticas Públicas pelo ISCTE, começou a trabalhar em governos socialistas em 2006, como assessor da Ministra da Educação.

A audição do antigo braço direito de Pedro Nuno Santos é a primeira de uma série de audições de peso esta semana, as últimas da CPI. Amanhã será a vez do antigo ministro das Infraestruturas e na sexta-feira do ministro das Finanças, Fernando Medina.

A comissão parlamentar de inquérito para “avaliar o exercício da tutela política da gestão da TAP” foi proposta pelo Bloco de Esquerda e aprovada pelo Parlamento no início de fevereiro com as abstenções de PS e PCP e o voto a favor dos restantes partidos. Nasceu da polémica sobre a indemnização de 500 mil euros paga a Alexandra Reis para deixar a administração executiva da TAP em fevereiro de 2022, mas vai recuar até à privatização da companhia em 2015. Tomou posse a 22 de fevereiro, estando a votação do relatório final prevista para 13 de julho.

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5 coisas que vão marcar o dia

  • Joana Abrantes Gomes
  • 15 Junho 2023

O dia é marcado pela audição do ex-ministro Pedro Nuno Santos na CPI à TAP e a decisão do BCE sobre as taxas de juro. Há ainda um relatório da OCDE sobre a economia portuguesa.

A decisão que sairá da reunião do conselho de governadores do Banco Central Europeu está em foco esta quinta-feira. Por cá, as atenções estarão também na audição a Pedro Nuno Santos na comissão parlamentar de inquérito à TAP, um dos protagonistas das polémicas que marcaram a gestão da companhia aérea nos últimos anos, bem como num relatório da OCDE sobre a economia portuguesa. Há ainda reunião do Eurogrupo e dados sobre a evolução dos novos créditos aos consumidores.

Reunião do BCE

Um dia depois da Reserva Federal dos EUA, é a vez de o Comité de Política Monetária do Banco Central Europeu (BCE) decidir o próximo passo em relação às taxas de juro diretoras na Zona Euro. Os analistas antecipam uma nova subida de 25 pontos base, o que colocará a taxa dos depósitos em 3,50%, enquanto as taxas de juro aplicáveis às operações de refinanciamento e de cedência de liquidez subirão para 4% e 4,25%, respetivamente. A seguir ao anúncio da decisão, agendado para as 13h15 (hora de Lisboa), a presidente da instituição sediada em Frankfurt, Christine Lagarde, fala em conferência de imprensa.

Pedro Nuno Santos na comissão de inquérito à TAP

Pedro Nuno Santos regressou ao Parlamento na semana passada para ser ouvido na Comissão de Economia sobre a privatização da TAP. Esta quinta-feira, pelas 14 horas, o ex-ministro das Infraestruturas e Habitação é ouvido na comissão parlamentar de inquérito (CPI) à gestão da companhia aérea, com as negociações da saída de Alexandra Reis a voltarem à ribalta. O ministro das Finanças, Fernando Medina, fecha o leque de audições da CPI na sexta-feira.

Economia portuguesa aos olhos da OCDE

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) apresenta esta quinta-feira um novo relatório em que analisa o desempenho da economia portuguesa diante de desafios globais e domésticos. No documento, o organismo formado por 37 países membros faz recomendações de políticas públicas para sustentar a recuperação económica e fortalecer a produtividade, as finanças públicas e os padrões de vida. Há ainda um capítulo dedicado ao setor de saúde, com propostas para melhorar a sua eficiência, resiliência e capacidade de resposta.

Eurogrupo debate euro digital

Esta quinta-feira, há também reunião dos ministros das Finanças da Zona Euro, presidida pelo irlandês Paschal Donohoe, seguida de reunião com a participação dos ministros dos 27 Estados-membros da União Europeia (UE). Os governantes fazem o balanço dos progressos do projeto do euro digital e debatem o desempenho dos mercados de capitais europeus, centrando-se também na supervisão pós-programa para a Grécia, Chipre, Irlanda, Portugal e Espanha. Portugal está representado pelos secretários de Estado dos Assuntos Fiscais, Nuno Félix, e das Finanças, João Nuno Mendes.

Como evoluem os novos créditos aos consumidores?

O Banco de Portugal (BdP) divulga dados sobre os novos créditos relativos ao mês de abril. As instituições financeiras concederam quase 2.000 milhões de euros em crédito ao consumo no primeiro trimestre deste ano, o que equivale a um salto de 4% comparativamente ao período homólogo de 2022 e representa o valor mais elevado desde, pelo menos, 2013. Esta evolução deveu-se, em particular, ao crédito automóvel e ao crédito concedido através do cartão de crédito e outras facilidades.

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Novobanco vende dívida de 37 milhões do hotel “Titanic” da Figueira da Foz

Exposição avaliada em 37 milhões ligada ao hotel Eurostars Oasis Plaza, na Figueira da Foz, esteve para ser vendida na carteira Harvey, mas Fundo de Resolução travou negócio. Está novamente à venda.

O Novobanco procura “desencalhar” uma dívida de cerca de 37 milhões de euros que está associada ao hotel Eurostars Oasis Plaza, também conhecido como “Titanic”, na Figueira da Foz, tendo colocado essa exposição à venda, de acordo com as informações recolhidas pelo ECO junto de várias fontes do mercado.

Não é a primeira vez que o banco liderado por Mark Bourke tenta desfazer-se desta dívida que tem como garantia o hotel figueirense, desenvolvido e detido pelo grupo Oasis Plaza, de capitais angolanos, sendo atualmente explorado pelo grupo hoteleiro espanhol Hotusa, que tem mais de duas dezenas hotéis no país.

Foi um dos créditos incluídos na carteira Harvey, que continha nomes de grandes devedores, como o grupo Lena ou o construtor José Guilherme, mas o negócio, que estava prestes a ser fechado com a venda à Deva e Arrow, não chegou a ser concluído, isto após o Novobanco ter sido travado na última hora pelo Fundo de Resolução, ao abrigo do acordo de capital contingente.

Não tendo conseguido vender o portefólio de single names, o banco está agora com várias operações individuais em andamento no mercado, incluindo a Heliportugal (no valor de 100 milhões) e as Farmácias GAP (no valor de 16,7 milhões).

O banco e o grupo Oasis Plaza não responderam até à publicação deste artigo.

Do lado da Hotusa, fonte oficial adiantou que o “grupo, através da sua divisão hoteleira, tem, por contrato com a sociedade Oasis Plaza, a gestão do hotel com a marca Eurostars” e que “não tem conhecimento ou participação em nenhum outro processo de entidades bancárias ou financeiras”.

Eurostars Oasis Plaza, Figueira da FozEurostars Oasis Plaza

Desencalhar processo de 37 milhões

Inaugurado em 2014, o próprio hotel assume que “parece adotar a forma de um cruzeiro encalhado na praia” devido à forma elíptica. Os locais até o apelidaram de “Titanic” por verem semelhanças com o navio que afundou no meio do oceano em 1902. Para o Novobanco, a ideia é mesmo desencalhar um processo que vem do tempo do BES.

O desenvolvimento do hotel, cuja localização na Avenida do Brasil privilegia a vista para o mar, coube à Oasis Plaza, constituída em 2013 e que tem atualmente Francisco Bandeira, ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos (CGD), como administrador único. De acordo com o portal InformaDB, a Oasis Plaza é detida pela Cyclonecipher, que é, por sua vez, controlada pela angolana Armangola.

O processo de construção do hotel não esteve isento de obstáculos, como relatam os meios locais. Aquando da inauguração, o jornal A Voz da Figueira lembrou que, “além do problema com um dos sócios que se encontra fugido à justiça, o outro promotor tem encontrado dificuldades junto da banca para financiar o restante investimento”. Dificuldades que estavam a ser ultrapassadas, com os bancos comprometidos a que a obra fosse concluída, segundo garantia a câmara municipal ao jornal naquela altura.

O hotel de 4 estrelas tem 160 quartos e dispõe ainda de 15 salas de reuniões com uma capacidade total para 700 pessoas, dois restaurantes, três zonas de bar, entre outro tipo de equipamento turístico e de bem-estar.

Banco reduz exposição ao imobiliário

Neste momento, o Novobanco tem várias operações em curso no sentido de reduzir a sua exposição ao setor imobiliário. No final do ano passado vendeu, juntamente com outros bancos, os fundos de reestruturação ECS, com alguns dos maiores hotéis em Portugal, ao fundo americano Davidson Kempner, num negócio avaliado em 800 milhões de euros.

Agora está a vender um conjunto de terrenos em Lisboa e no Algarve, incluindo o terreno da Artilharia 1 na capital portuguesa, com o Projeto Eleanor a ter um preço de mais de 350 milhões de euros.

Paralelamente, no âmbito do processo de insolvência do Invesfundo II, dezenas de lotes de terreno do Parque Marconi, na Amadora, e avaliados em 80 milhões de euros, foram colocados à venda numa operação que está a ser liderada pela consultora imobiliária JLL.

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