Dez GW de eólicas sobre o mar vão gerar 95 mil empregos diretos, a maioria “altamente qualificados”

Wavec estima que as futuras 650 turbinas instaladas ao longo da costa poderão gerar até 75% da energia consumida e gerar empregos "altamente qualificados", que é crucial para reter mão de obra.

Caso o Governo consiga concretizar a instalação dos dez gigawatts (GW) previstos no primeiro leilão eólico offshore, Portugal poderá ver nascer ao longo da sua costa cerca de 650 turbinas eólicas, todas elas com uma distância mínima entre si de dois quilómetros e com até 15 megawatts (MW) de potência.

“Quando a pá de uma turbina de 15 megawatts passa na vertical, atinge uma altura superior à Torre Eiffel. Em boa verdade, estamos a falar de cerca de 650 “torres Eiffel” a flutuar na costa portuguesa”, detalha Marco Alves, CEO do centro de investigação português Wavec Offshore Renewables ao Capital Verde, estimando que a instalação de dez GW de aerogeradores poderão criar cerca de 95 mil postos de trabalho diretos, e outros 95 mil postos indiretos em Portugal. “Estamos a falar de quase 200 mil postos de trabalho, cerca de 20 mil [empregos] por GW”, acrescenta o responsável.

Segundo o Marco Alves, estas vagas representam 165% dos postos de trabalho no setor da eletricidade, gás e água que existem atualmente, com as posições na área da engenharia a representar a maioria das oportunidades que serão criadas em resultado do leilão. A primeira fase concorrencial, a ser lançada até ao final deste ano, vai começar por licitar até cerca de dois gigawatt (GW) de capacidade distribuídos por quatro lotes (cada um com 500 MW), entre Viana do Castelo e Sines, sendo que a ambição do Governo é chegar a 2030 com uma potência instalada de eólicas offshore de dez GW.

“Estamos a falar de muitos empregos, independentemente do grau de qualificação. Ainda que seja importante sublinhar que falamos, em grande parte, de empregos altamente qualificados“, refere o líder da consultora especializada em energias renováveis sobre o mar.

Para Marco Alves, este volume de postos de trabalho, especialmente os mais qualificados, será “importante” não só para “chamar mão de obra estrangeira”, mas, sobretudo, “para reter a nossa” que regista níveis altos de emigração. Este aspeto tem a sua relevância, explica o líder do centro de estudos, dado que, tipicamente, as indústrias emergentes como as eólicas offshore “precisam muito mais de mão de obra altamente qualificada na fase inicial, do que quando chegam ao patamar de maturação”.

Além do emprego, os dez GW que se irão materializar, na sua grande maioria, em parques flutuantes, terão ainda capacidade de produzir anualmente 35 terawatts-hora (TWh) e evitar 16 milhões de toneladas de CO2 equivalente, por ano, prevê a Wavec.

“Para a maioria das pessoas, dez GW diz pouco, e 35 TWh ainda menos. Mas se dissermos que esse valor é equivalente a 650 turbinas eólicas que terão uma capacidade de produzir 75% do consumo elétrico do país, já diz muito“, aponta, referindo que estes aerogeradores irão cortar 30% das emissões de dióxido de carbono a nível nacional por ano.

Ao todo, os dez GW poderão representar um investimento estrangeiro anual de cinco mil milhões de euros, “cerca de 80% do investimento direto estrangeiro” que Portugal recebe anualmente, estima o centro de estudos. Estas estimativas aproximam-se da previsão avançada pelo ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, que indicava que o setor das eólicas sobre o mar poderia atrair um investimento de até 40 mil milhões de euros, até 2030.

Além de Viana do Castelo e Sines, o primeiro leilão colocará a concurso dois lotes na Figueira da Foz e outros em Sines, ainda que esta última localização esteja pendente de confirmação. A proposta será conhecida no relatório final elaborado pelo grupo de trabalho responsável e que estava previsto para ser divulgado até 31 de maio. Mas 21 dias depois, os promotores ainda aguardam por saber quais serão as “regras do jogo”.

Apesar do atraso, Marco Alves rejeita que isso descredibilize o leilão, sublinhando que “os promotores não ficam preocupados por atrasos ligeiros“.

Os quatro lotes de 500 MW vão ser preenchidos com facilidade“, garante o responsável pela Wavec, adiantando que as solicitações de apoio e consultoria de promotores interessados em participar no leilão “têm-se intensificado nos últimos seis meses”, a grande maioria sendo pedidos de “empresas internacionais, algumas com parcerias nacionais”.

Nos últimos meses, várias empresas portuguesas têm unido forças com entidades internacionais para explorar potenciais oportunidades naquele que será o primeiro leilão de eólicas sobre o mar. Como é o caso da Galp que fechou acordo com a francesa TotalEnergies, a Hyperion que se aliou à australiana Corio e a Greenvolt que assinou uma parceria com a espanhola Bluefloat Energy.

Ao todo, o Governo deverá colocar a concurso, até 2030, oito áreas de norte a sul do país (duas das quais se destinam à instalação de aerogeradores com bases fixadas no fundo do mar, ao invés de plataformas flutuantes) com um total de 3.200 quilómetros quadrados destinados à instalação de dez GW.

O lançamento dos gigawatts seguintes deverá seguir o modelo deste primeiro concurso e manter-se faseado, seguindo um calendário próprio, tal como já tinha adiantado a secretária de Estado de Energia, Ana Fontoura. Para a Wavec este modelo é chave para que a própria cadeia de abastecimento “possa ir ganhando maturidade à medida que a potência instalada vai crescendo”, pois, caso contrário, será “impossível” dar resposta. “Mesmo com a ajuda de fora, neste momento, nós não temos capacidade para dar resposta a dez GW do dia para a noite”, vinca Marco Alves.

A Wavec aponta que as principais dificuldades residem na falta de infraestrutura nos portos (embarcações, cabos elétricos, subestações e infraestrutura de rede) e no fornecimento de turbinas eólicas (aço e matérias-primas raras). “O acesso às embarcações vai ser o mais complicado. Nós, por exemplo, vamos ter que ter uma frota alocada às nossas necessidades quase a tempo inteiro. Essas frotas não existem. Têm de ser chamadas e há muita concorrência, há muitos países com [leilões] semelhantes“, alertou o responsável.

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