“Proibir utilizar ferramentas de IA é o equivalente a proibir a utilização da máquina de calcular”

IST criou comissão para responder ao desafio da IA no ensino. "Torna-se indispensável reforçar componente de avaliação o contacto direto com o estudante", admite Rogério Colaço, presidente do IST.

No Instituto Superior Técnico (IST) já se estuda o potencial impacto da Inteligência Artificial no ensino, tendo criado uma comissão, liderada por Arlindo Oliveira, um dos especialista em IA, para fazer recomendações ao conselho pedagógico da faculdade de engenharia. Rogério Colaço, presidente do IST, não tem dúvidas que estamos perante ferramentas com impacto profundo no ensino, mas que a proibição não é a melhor estratégia. “Proibir utilizar ferramentas de IA é o equivalente a proibir a utilização da máquina de calcular”, diz.

“Como professor, acho que as ferramentas de inteligência artificial terão um impacto profundo no ensino e na formação a todos os níveis, não só num futuro próximo, mas já“, começa por referir o presidente do IST.

“No Técnico, nomeamos uma Comissão para pensar nisso e propor algumas medidas. Essa comissão é presidida, pelo meu antecessor, Arlindo Oliveira, um dos grandes especialistas em inteligência artificial no nosso país. Agora mesmo, antes das férias, fez um documento para apresentou no Conselho Pedagógico, com a sua análise e dos seus colegas, com um conjunto de recomendações”, revela.

Rogério Colaço, presidente do Instituto Superior Técnico, em entrevista ao ECO - 11AGO23
Rogério Colaço, presidente do Instituto Superior Técnico, em entrevista ao ECOHugo Amaral/ECO

Uma das recomendações é que os alunos, em vez de serem proibidos sejam estimulados, as ferramentas devem ser exploradas e temos que ver o que podemos retirar delas em termos de formação e de preparação dos nossos alunos“, adianta.

Outra das recomendações incide sobre a avaliação. “Torna-se, neste momento, indispensável, reforçar na componente de avaliação o contacto direto com o estudante, quer seja através da avaliação escrita presencial, quer da avaliação oral presencial“, acrescenta.

“Essas são as principais notas que o Conselho Pedagógico do Técnico estará a trabalhar no sentido de fazer nos próximos tempos recomendações mais objetivas de funcionamento das unidades curriculares aos professores”, aponta.

Mas o maior desafio imposto pela IA poderá ser no próprio papel do docente. “Quando tomei posse como presidente do Técnico, a 2 de janeiro de 2020, logo a seguir houve a Covid, o grande desafio foi o ensino à distância, enquanto estávamos confinados. Nessa altura, alguém perguntou se o ensino à distância ia mudar de vez o ensino. Respondi que ainda era cedo para declarar a morte do ensino presencial. De facto, o que se veio a verificar, é que o ensino à distância é mais uma ferramenta adicional. O mesmo não consigo dizer sobre a inteligência artificial“, considera.

As ferramentas de IA enquanto entidades de ensino têm potencial para serem mais eficientes do que as entidades de ensino de carne e osso, os professores, desde que os conhecemos desde a Grécia Antiga.

Rogério Colaço

Presidente do Instituto Superior Técnico

“A IA irá introduzir mudanças profundas, num futuro não muito distante, na nossa forma de ensinar. Ter um professor que sabe tudo ou quase tudo tão bem como um professor humano, que nunca se chateia comigo, em que posso fazer-lhe 50 vezes a mesma pergunta que nunca se aborrece, é uma mais-valia para o aluno que o professor de IA tem face ao professor de carne e osso”, comenta.

Muitas vezes, quando exploramos os motores de inteligência artificial, ainda ficamos muito contentes porque se enganam em coisas muito simples. Mas no próximo ano não se enganam. Estão continuamente a aprender e, uma vez aprendido, não se esquecem. Também é uma vantagem face aos humanos. As ferramentas de IA enquanto entidades de ensino têm potencial para serem mais eficientes do que as entidades de ensino de carne e osso, os professores, desde que os conhecemos desde a Grécia Antiga”, considera. “Estamos no início de uma mudança profunda daquilo que será o ensino no futuro precisamente porque temos estas ferramentas completamente novas, ainda na sua fase de infância, que são as ferramentas de inteligência artificial“.

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