Ativista climática pede transição “radical” para uma economia circular. “Levantar cartazes não faz a mudança”, diz Sage Leiner

Nomeada uma das 10 líderes da próxima geração pela revista Time, Sage Leiner desvaloriza o impacto dos protestos radicais, argumentando serem apenas "pequenas inconveniências" para os visados.

A jovem ativista e fundadora da organização sem fins lucrativos Sustainable & Just Future rejeita que os protestos radicais pelo clima sejam considerados “violentos“, dizendo que as ações levadas a cabo recentemente, em Portugal e no mundo, são apenas “pequenas inconveniências” sobre as pessoas visadas. Apesar de desvalorizar os impactos que estas ações podem ter sobre os alvos, Sage Leiner considera que, de forma geral, os protestos têm “poucos efeitos práticos”.

“É aceitável que as empresas e políticos desalojem povos indígenas e destruam florestas inteiras para fazerem exploração de petróleo, e que isso não seja considerado ação violenta, mas cortar pneus já é? [Essas ações] são pequenas inconveniências para as pessoas. Elas ficam bem“, respondeu numa conferência de imprensa, esta quinta-feira, na Web Summit.

A ativista norte-americana de 24 anos, distinguida este ano pela revista Time como uma dos 10 líderes da próxima geração, considera que embora as manifestações sejam um bom veículo para chamar atenção para a causa — e admita sentir empatia por aqueles que saem às ruas — alerta que não são esses momentos que produzem efeitos práticos.

“Sinto orgulho por aqueles que fazem protestos, eu também os faço, mas não é o meu foco principal. Não estou a dizer que não há valor em levantar um cartaz mas não faz a mudança. O que estamos a pedir, e o que é necessário fazer, é uma mudança radical do sistema“, acrescentou, urgindo as empresas e os líderes políticos a liderarem esse caminho por considerar que nem a própria, nem a geração que se manifesta em nome do clima, têm “poder institucional”.

O apelo também foi feito na sua estreia enquanto oradora na edição desta ano da Web Summit. Leiner aproveitou os seus 10 minutos no palco da feira tecnológica para defender que o atual modelo da economia mundial é a principal causa da crise ecológica, defendendo a necessidade de se transitar para uma economia circular para garantir sustentabilidade ambiental e equidade social.

De acordo com Sage Lenier, o sistema económico atual é baseado na extração, processamento e venda de recursos escassos por parte das grandes empresas num “ciclo vicioso” que destrói ecossistemas, contribui para o crescente aquecimento do planeta e cria problemas sociais.

As maiores corporações do mundo, a indústria da moda, da tecnologia e as empresas petrolíferas estão a construir um futuro que inclui sofrimento em massa para os humanos e outras espécies“, advertiu. A título de exemplo, a jovem ativista fez referência à realidade vivida atualmente na República Democrática do Congo. Naquele país, a expansão das minas de cobalto e cobre à escala industrial — dois minerais importantes para a produção de baterias para carros elétricos — tem levado nos últimos meses à expulsão forçada de comunidades inteiras e a graves violações dos direitos humanos.

“Muitas das coisas que vemos hoje como boas para o planeta são só menos más do que a alternativa. Os carros elétricos, por exemplo, que usam materiais como o cobalto estão no centro da crise dos direitos humanos no Congo, país que tem as maiores das reservas desse minério “, disse Sage Lenier, apontando a reutilização e reciclagem destas matérias-primas, já em fim de vida, como uma das soluções mais relevantes para uma economia mais circular.

O próximo passo e acelerar a reciclagem de matérias-primas críticas para que se reduza a mineração“, defendeu, referindo que também a industria tecnológica deve procurar adotar a mesma ordem de pensamento uma vez que descarta, todos os anos, 40 mil milhões de toneladas de lixo eletrónico.

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