Portugal deve escapar a uma recessão técnica
Economistas estimam que o PIB cresça pouco acima da linha da água no quarto trimestre, exceto o BCP que projeta uma evolução negativa, de 0,1%. No conjunto do ano, 2023 deverá evoluir em torno dos 2%.
A economia portuguesa deverá escapar a uma recessão técnica, no quarto trimestre do ano passado, isto é, a uma segunda contração do PIB, depois de ter caído 0,2% em cadeia no período anterior, entre julho e setembro. Economistas consultados pelo ECO apontam para uma variação acima da linha de água, entre 0% e 0,6%. Só o BCP admite uma nova queda, de 0,1%. O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulga esta terça-feira os dados do último trimestre de 2023.
Entre outubro e dezembro de 2023, Portugal ainda terá sentido, por arrastamento, os impactos negativos da variação negativa do PIB do trimestre anterior, segundo as projeções dos economistas. “No seu conjunto, a economia portuguesa terá tido uma variação em cadeia entre 0% e 0,3% no quarto trimestre, o que permitirá evitar a chamada ‘recessão técnica'”, indica o Fórum para a Competitividade.
Para esta evolução, terão contribuído “múltiplos fatores, alguns extra-económicos até, que conduziram a uma incerteza muito elevada associada a este trimestre”, indica o diretor de gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade, Pedro Braz Teixeira. “O início da guerra em Israel, a demissão do Governo, a indefinição sobre a aprovação do Orçamento do Estado para 2024 e a paragem da Autoeuropa que afetou as exportações” terão influenciado o comportamento do PIB.
O economista ressalva, contudo, que “a partir de novembro, a Autoeuropa retomou a atividade, pelo que terá havido uma recuperação nas exportações, mas ficámos com a dúvida sobre o efeito no trimestre”.
Para o conjunto do ano de 2023, o Fórum perspetiva um crescimento da economia entre 2,1% e 2,2% do PIB, em linha com as estimativas do Governo demissionário de António Costa que inscreveu uma variação de 2,2% no Orçamento do Estado de 2024.
O BPI é um pouco mais otimista e antevê “um crescimento entre 0,3% e 0,6%, no quarto trimestre”, segundo a economista-chefe Paula Carvalho, do departamento de estudos do banco. Em relação ao mesmo período de 2022, a instituição espera uma variação entre 1,7% e 2%, contra um crescimento homólogo de 1,9% no terceiro trimestre.
Portugal terá conseguido evitar uma recessão técnica, que se verifica com dois trimestres consecutivos negativos, sobretudo por via da “resiliência do consumo privado, suportado pelo mercado de trabalho que permaneceu robusto e pelo aumento do rendimento disponível real das famílias”, justifica Paula Carvalho.
“O investimento tendencialmente deverá ter aumentado”, mas sendo uma componente muito volátil, “pode registar alguma correção” e “as exportações de turismo deverão ter suportado a parte externa ainda que seja incerto se serão suficientes para compensar o efeito do arrefecimento/estagnação dos parceiros europeus sob as restantes componentes das exportações”, destaca a economista.
A puxar para resultados menos positivos está “o agravamento dos fatores e riscos geoestratégicos globais, como a guerra Israel-Hamas, que poderá ter induzido alguma cautela”, sublinha. Por isso, e face à perspetiva de crescimento de 2,4% para o conjunto do ano – acima das projeções do Executivo –, o BPI admite que o PIB possa crescer menos, em torno dos 2,2%.
O Santander antecipa uma variação do PIB, no quarto trimestre do ano passado, de 0,2%, em cadeia, e de 1,5% em termos homólogos. O crescimento médio anual deverá atingir 2,1%, uma décima abaixo das estimativas plasmadas no Orçamento do Estado.
“Os principais fatores de influência são o crescimento suportado pela resiliência da procura interna, nomeadamente o consumo privado, e pelas exportações líquidas”, argumenta a instituição bancária.
O BCP é a única entidade, consultada pelo ECO, que perspetiva uma nova contração em cadeia do PIB, de 0,1%, no quarto trimestre, o que coloca Portugal em recessão técnica. “Representa uma queda adicional da atividade, após a contração de 0,2% observada no terceiro trimestre de 2023″, sublinha o banco, liderado por Miguel Maya.
“Em termos homólogos, espera-se uma desaceleração da taxa de crescimento do PIB de 1,9% para 1,2%”, de acordo com a nota do banco que aponta para uma variação média de 2,1% para o conjunto do ano.
O prolongamento da queda da atividade “deverá continuar a dever-se à fragilidade da procura externa, ainda que de forma menos acentuada que no trimestre anterior, em que o contributo da procura externa líquida para o crescimento do PIB foi de -1,5 pontos percentuais”, segundo a análise da instituição.
O banco salienta, contudo, o contributo mais positivo do consumo privado à boleia da “descida da taxa de inflação, a par com as perspetivas de redução das taxas de juro”.
“No que respeita ao investimento, a sua evolução deverá continuar a ser marginalmente positiva, à semelhança dos trimestres anteriores, num quadro de execução moderada dos fundos europeus e de incerteza económica”, alerta a instituição.
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