Nos promete “retorno” nos 1.500 milhões que já investiu, mesmo com 5G gratuito

Forte investimento na expansão "acelerada" do 5G está na base do desempenho da Nos no móvel, com CEO a garantir que a estratégia já está a gerar retorno, apesar de oferecer gratuitamente aos clientes.

O CEO da Nos NOS 1,08% garantiu esta quarta-feira que o investimento de 1.500 milhões de euros em 5G ao longo dos últimos três anos está a gerar retorno, apesar da decisão de oferecer a tecnologia a todos os clientes móveis tomada em janeiro deste ano. A empresa está a subir mais de 6% em bolsa após revelar que obteve lucros de 181 milhões de euros em 2023.

Questionado por um analista sobre os avultados investimentos que a operadora tem vindo a fazer para expandir a sua rede móvel de quinta geração, depois de ter adquirido licenças à Anacom em 2021, Miguel Almeida admitiu que a Nos decidiu oferecer definitivamente o 5G aos clientes sem encargos adicionais para se manter alinhada com a prática das duas outras operadoras concorrentes, Meo e Vodafone.

“Isso não retira o enorme potencial” que a Nos vê na tecnologia, disse o gestor, defendendo que a qualidade da rede móvel da operadora explica a subida de 3,2% no número de subscrições móveis em 2023 face ao ano anterior. “Está na base do nosso forte desempenho no mobile e, apesar de não haver um prémio específico pelo 5G, o investimento que fizemos no 5G está claramente a gerar retorno e vai continuar a gerar”, afirmou o CEO.

Pico do investimento “ultrapassado”

No relatório de resultados divulgado na terça-feira, a Nos declara que “o pico de implementação do 5G” já foi “ultrapassado”. No final do ano, a Nos cobria 94% da população portuguesa com quinta geração e, segundo dados da Anacom, era a operadora com mais antenas 5G em funcionamento no final de dezembro, num total de 4.235.

O fim do “ciclo” de desenvolvimento “acelerado” do 5G já se refletiu nas contas de 2023, com a Nos a registar uma redução de 22% no investimento em telecomunicações, que se cifrou em 367,8 milhões de euros no ano todo, e de de quase 53% analisando apenas a expansão das redes.

Feitas as contas, a Nos lucrou 181 milhões de euros no ano passado, montante que pode ser analisado de vários prismas. À primeira vista, é uma queda de quase 20% face ao ano anterior, mas, em 2022, a Nos tinha tido mais-valias extraordinárias com a venda de torres de telecomunicações. É também um resultado muito superior aos 141,34 milhões que previam os analistas.

Há que ter ainda em conta que a Nos recebeu em 2023 15,6 milhões de euros de um total de 38,5 milhões que prevê receber por causa de uma “decisão judicial favorável relativa a um pedido de liquidação de Taxas de Atividade”, que também teve um impacto extraordinário nos resultados. Em causa está um processo envolvendo a Anacom, confirmou esta quarta-feira o administrador financeiro da Nos, José Koch Ferreira. O ECO pediu mais detalhes à Nos e encontra-se a aguardar resposta.

Esta quarta-feira, às 13h37, as ações da Nos avançavam 6,62% para 3,51 euros cada.

Evolução das ações da Nos na bolsa de Lisboa:

Digi pode ser ameaça

O CEO da Nos escreve, numa nota que acompanha os resultados, que a empresa entra agora numa “trajetória sólida de free cash flow” que, aliada à “solidez” do balanço, “apoia a manutenção de retornos atrativos para os acionistas”. A administração vai propor engordar o dividendo de 27,8 para 35 cêntimos.

Os mercados apreciaram e os analistas também: “A boa evolução dos resultados, especialmente no negócio de telecomunicações, junto com o anúncio de um dividendo atrativo, deveria ser bem recebida pela cotação, que aliás encontra-se em níveis muito baixos”, lê-se num research da Intermoney Valores, cedido ao ECO pela analista Virginia Pérez.

António Seladas, analista da AS Independent Research, também considera que os resultados da Nos foram “positivos”, com as “receitas a beneficiarem da inflação e volumes e custos muito controlados”. “Em 2024, o desempenho deverá manter a matriz, [com os] custos controlados e receitas a beneficiarem da inflação, mas [em] valores inferiores. Em termos de geração de cash, esta deverá manter a dinâmica positiva, devido a boa execução operacional e menor investimento. Em resumo, o dividendo proposto em 2024 deverá manter-se ou crescer”, vaticina.

No entanto, a entrada dos romenos da Digi no mercado português é um risco que paira sobre o setor como um todo, devido à política de preços mais baixos e menores fidelizações praticada pela concorrente em Espanha. Interrogado sobre este ponto, Miguel Almeida afirmou não ter “nada de inteligente para dizer”, por não estar na posse de nenhuma informação sobre a Digi além da que é pública.

Para os analistas do Goldman Sachs, é um risco evidente para as operadoras já estabelecidas, incluindo a Nos: “Daqui em diante, notamos que a estratégia competitiva do novo entrante Digi, que planeia lançar serviços em 2024 (ainda que o lançamento tenha sido adiado várias vezes), continua a ser uma incerteza para o mercado português de telecomunicações”, escrevem, numa nota de research.

Para já, os preços mais altos deverão ajudar a suportar um crescimento nas receitas. A Nos, à semelhança das concorrentes, subiu as mensalidades em até 4,3% no passado dia 1 de fevereiro, depois de um aumento de até 7,8% realizado um ano antes.

(Notícia atualizada a 7 de março, às 11h52, com mais informação)

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