Os 5 municípios que refletem os resultados nacionais
Localidades no Oeste têm vindo a mostrar resultados semelhantes ao cenário nacional. Legislativas de 2024, marcadas por uma queda na abstenção, têm menor alinhamento.
O Oeste tem mostrado ser um “mini Portugal”, espelhando as principais tendências políticas nacionais nas eleições dos últimos anos, mas nas legislativas de março acabou por não estar tão alinhado. Há várias regiões do país que têm revelado a predominância de alguns partidos ao longo do histórico das votações, sendo que o Norte, por exemplo, é mais associado ao PSD e o PCP predominava no Alentejo. Num cenário mais geral, é possível verificar que nas eleições realizadas nos últimos cinco anos, os municípios com resultados mais semelhantes ao nacional se situam na região Oeste.
As conclusões são de um cálculo feito por João Cancela, professor do Departamento de Estudos Políticos da NOVA FCSH, que quis procurar quais os municípios ou regiões com resultados mais parecidos com os totais nacionais. A partir de uma análise com base nas eleições dos últimos cinco anos, excluindo as autárquicas, concluiu que se destacavam municípios do Oeste, nomeadamente Torres Vedras, Óbidos, Bombarral e Peniche.
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Apesar das conclusões deste exercício, o especialista aponta ao ECO que “os resultados do Oeste parecem menos alinhados em 2024 com os totais nacionais do que em anos anteriores”. “Só estudos mais aprofundados confirmariam estas hipóteses e poderiam também explicar porque é que terá mudado algo na última eleição”, indica, o que poderá também estar relacionado com a “descida da abstenção”.
A verdade é que a participação nestas eleições foi muito mais elevada, com a taxa de abstenção a ser a mais baixa desde 1991, sendo que este facto terá beneficiado o Chega. Mesmo com esta ressalva, verifica-se que, segundo os dados do Ministério da Administração Interna para estas legislativas, nos concelhos de Torres Vedras, Óbidos, Bombarral e Santarém venceu a AD, com o PS em segundo lugar, sendo o mesmo verdade para Viana do Castelo e Braga.
Nos outros países, existem também regiões consideradas como um barómetro para como será o cenário final. Nos Estados Unidos, é o estado de Ohio que é conhecido como um indicador de como vão correr as eleições. Apesar de nem sempre se verificar (como nas últimas eleições presidenciais, com Trump a vencer no estado mas não a nível nacional), a verdade é que foram apenas três as vezes em que “errou” a determinar a tendência.
Como explicou o The Economist, esta região atua como um barómetro porque “contém um pouco de tudo que é americano – parte nordeste e parte sul, parte urbana e parte rural, parte pobreza miserável e parte subúrbio em expansão”.
Por cá, a região do Oeste também poderá ter um conjunto de características que representam várias partes diferentes de Portugal. Situa-se próximo da Área Metropolitana de Lisboa, bem como de várias estradas nacionais, mas tem também uma fatia mais rural, com um setor agrícola relevante, com destaque para as hortícolas — desde a pera-rocha à maçã de Alcobaça.
É também desta região que origina o famoso “Zé Povinho”, personagem criada por Rafael Bordalo Pinheiro para representar o povo português. Caldas da Rainha encontra-se em 23º no ranking dos municípios elaborado pelo politólogo.
Como salienta João Cancela, o facto de ter encontrado uma maior proximidade com os resultados nacionais “pode ser uma coincidência estatística” mas também podem “haver algumas características (peso entre população urbana e rural, condições económicas e estrutura etária) semelhantes ao agregado nacional”.
A zona de Santarém sobressai também neste exercício. Segundo uma análise da Intrapolls, um projeto voluntário, “o histórico de Alcanena mostra uma grande proximidade com os resultados finais de quase todos os distritos. Sendo um dos municípios que acerta no vencedor desde 1975″. Este ano, em Alcanena (que se situa no distrito de Santarém) também foi a AD vencedora (ainda que faltem os resultados dos círculos do estrangeiro para dizer com certeza o cenário final).
Arruda dos Vinhos e Santarém destacam-se nas sondagens à boca das urnas
As freguesias mais usadas nas sondagens à boca das urnas também podem ser uma indicação desta proximidade com os resultados nacionais, ainda que tenham existido flutuações nos últimos anos. António Gomes, diretor geral da GfK Metris, explica ao ECO que nas sondagens pré-eleitorais, o objetivo é obter uma amostra representativa da sociedade, mas para as chamadas exit polls tenta-se, efetivamente, encontrar aquelas com uma melhor relação com os resultados nacionais.
Se formos ver as freguesias mais usadas para empresas de sondagens à boca das urnas, destaca-se Arruda dos Vinhos (que tanto em 2022 como 2024 teve três empresas de sondagens presentes), bem como Vila do Conde, Santarém e Barcarena.
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António Gomes explica que “quando se vai atrás de uma freguesia tipo, quer-se perceber de que forma acompanha as variações da votação nacional“. Mas há dois caminhos: ou a relação entre freguesia e votação nacional, ou freguesia que representa total do distrito, isto no caso em que um distrito pode ter importância relativa. “Há empresas que vão atrás do total nacional e outras atrás do distrital”, sendo também possível um “mix”.
Dantes, existiam freguesias conhecidas como tendo esse poder preditivo, nomeadamente em Lisboa e no Porto, mas “ao longo dos anos, pelos agrupamentos de freguesias e pelas alterações demográficas, foram perdendo poder representativo”. Agora, as empresas responsáveis pelas sondagens procuram “aquelas que são as melhores dentro de uma escolha que não é perfeita”.
No Oeste, não destaca nenhuma correlação óbvia mas admite que possa estar numa fase circunstancial em que tem algum grau de relação, tendo também o benefício de que há freguesias mais pequenas onde é mais fácil obter resultados rapidamente — o que ajuda à elaboração das sondagens no dia das eleições.
Mas o modelo de previsão deve ser composto por uma combinação de freguesias fáceis, médias, difíceis e muito difíceis. O especialista salienta assim que não se podem ignorar as freguesias mais urbanas, mesmo que sejam maiores, nomeadamente porque “têm um padrão de representação de tendência”. “Os partidos que foram crescendo e têm agora representação parlamentar são de matriz urbana, não rural”, aponta, como é o caso da Iniciativa Liberal ou do Livre.
Mas nem todos os casos são iguais, justificando a necessidade de uma amostra diversificada. O Chega, por exemplo, “começa por ser uma votação maior nas zonas da periferia da grande Lisboa”, nomeadamente concelhos como Almada, Montijo, Barreiro, Vila Franca de Xira, Loures, Amadora, mas agora está mais espalhado pelo país e conseguiu até vencer no Algarve.
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