Estas empresas vão manter semana de quatro dias
Após teste de seis meses à semana de quatro dias, empresas têm estado a ponderar se mantêm este modelo inovador ou não. Duas adiantam ao ECO que vão manter semana mais curta.
O teste à semana de trabalho de quatro dias promovido pelo Governo terminou, mas há empresas já decidiram que vão manter esse modelo inovador. Garantem que a produtividade não foi afetada, que a motivação entre os trabalhadores aumentou e que os clientes até elogiam a decisão.
Na Crioestaminal, por exemplo, de duas em duas semanas, folga-se um dia a mais do que o comum, isto é, neste banco de células estaminais localizado em Coimbra desde junho que se alterna entre uma semana de cinco dias (40 horas) e uma semana de quatro dias (32 horas). E assim vai continuar, avança a empresa ao ECO.
“Vamos continuar a trabalhar uma média de 36 horas por semana. Depois de seis meses a participar no projeto-piloto do Governo, e apesar de não termos a análise final dos resultados dos questionários realizados aos nossos colaboradores pela equipa organizadora do projeto, considerámos que possuíamos dados suficientes para avançar para uma nova etapa“, sublinha a diretora de recursos humanos.
Alexandra Mendes considera que o piloto foi “muito bem organizado”, que os coordenadores estiveram “sempre disponíveis para dar ideias para resolver os desafios que foram surgindo” e que, portanto, as dificuldades (como a conciliação das férias com a organização dos esquemas de trabalho) foram sendo ultrapassadas com sucesso. “Os colaboradores gostaram, de uma forma geral, desta forma de trabalhar e a produtividade não reduziu“, salienta a responsável.
Os colaboradores gostaram, de uma forma geral, desta forma de trabalhar e a produtividade não reduziu durante o projeto-piloto. Vamos continuar a trabalhar uma média de 36 horas por semana.
Do setor da saúde para a comunicação, também a agência Onya Health participou no projeto-piloto promovido pelo Governo e adianta ao ECO que já decidiu manter o modelo.
“O balanço que fizemos foi muito positivo e, por não encontrarmos desvantagens, decidimos adotar permanentemente a semana de trabalho reduzida“, indica a diretora-geral, Vânia Lima.
Também no caso desta empresa, o modelo escolhido foi o rotativo, isto é, de duas em duas semanas, trabalha-se um dia a menos (quatro, em vez dos tradicionais cinco) por semana. Ao ECO, a diretora-geral adianta que, além do feedback dos funcionários, perceberam que “existe um trabalho mais fluído“ desde que esse modelo foi adotado.
“As pessoas estão mais motivadas, felizes e produtivas. Além disso, não podemos esquecer que estamos a falar de uma agência de comunicação, ou seja, esta diminuição das horas de trabalho permite que haja mais tempo para incentivar a criatividade da nossa equipa“, assinala Vânia Lima.
Coincidentemente, a diretora de recursos humanos da Crioestaminal também destaca a motivação e felicidade dos trabalhadores, quando questionada acerca das vantagens da semana de trabalho mais curta.
“As pessoas precisam de tempo para si mesmas. Este esquema permite que os colaboradores tenham mais tempo para dedicar às suas vidas pessoais, o que consequentemente os torna mais motivados e produtivos no trabalho. As empresas não podem esperar que o ambiente de trabalho seja o único centro de interesse dos colaboradores. Este modelo proporciona um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional, resultando em colaboradores mais felizes e motivados“, explica Alexandra Mendes.
Os resultados preliminares apresentados em dezembro pelos coordenadores do piloto já davam sinais nesse sentido: o índice de ansiedade caiu em 21%, o de fadiga recuou em 23%, o de insónia ou problemas de sono diminuiu em 19%, o de estados depressivos decresceu 21%, o de tensão melhorou em 21% e o de solidão encolheu em 14%. Ou seja, “a frequência de sintomas negativos a nível de saúde mental diminuiu significativamente”, realçavam os coordenadores no relatório.
85% dos trabalhadores apenas aceitaria mudar para uma empresa com um funcionamento a cinco dias, mediante um aumento salarial superior a 20%.
Além disso, os níveis de exaustão pelo trabalho reduziram em 19%, ao longo dos seis meses de teste. E a percentagem de trabalhadores que sente ser difícil ou muito difícil a conciliação entre trabalho e família desceu de 46% para 8%.
Mais, 85% dos trabalhadores que participaram no projeto-piloto já diziam que apenas aceitariam mudar para uma empresa com um funcionamento a cinco dias, mediante um aumento salarial superior a 20%, um dado relevante numa altura em que a escassez de mãos preocupa tanto os empregadores e a procura de talento tornou-se “uma guerra”, de acordo com os especialistas.
Nem tudo são rosas
Apesar de deixarem rasgados elogios à semana de trabalho mais curta, estas empresas não deixam de reconhecer os desafios nela encerrados.
Por exemplo, a Onya Health tentou inicialmente fechar a sua operação às sextas-feiras de duas em duas semanas, mas nesta nova fase decidiu que irá funcionar em espelho para garantir que os clientes têm sempre resposta. “Ou seja, metade da equipa não trabalha na sexta-feira e a outra metade não trabalha na sexta-feira seguinte. Isto permite manter o mesmo formato do projeto-piloto, mas com uma vantagem: a empresa não precisa de fechar em nenhum dia útil“, esclarece a diretora-geral, que assegura que até os clientes apoiam a decisão desta agência de comunicação de uma semana de trabalho mais magra.
Apesar das vantagens, decidimos também fazer alguns ajustes. Nesta nova fase, optamos por trabalhar em espelho, ou seja, metade da equipa não trabalha na sexta-feira e a outra metade não trabalha na sexta-feira seguinte.
“Esperamos continuar assim e, sempre que se justifique, estamos prontos para fazer certos ajustes. Para já, não está nos planos voltarmos à semana de 40 horas”, afirma Vânia Lima.
Já da parte da Crioestaminal, Alexandra Mendes admite que enfrentaram “dificuldades em equilibrar o número de dias livres entre os colaboradores” e que “foi difícil reduzir a duração e frequência de reuniões para as tornar mais produtivas“.
“No entanto, esses são desafios que podemos superar com tempo e esforço dedicados à adaptação e otimização do ambiente de trabalho”, acredita a responsável, que revela que o modelo passará agora a ser avaliado anualmente.
Além destas duas empresas, no teste promovido pelo Governo a partir de junho de 2023 participaram outras 19, que estão agora a analisar os resultados que têm sido recolhidos pelos coordenadores do piloto para decidirem se mantêm ou não o modelo.
Por exemplo, a creche Caminhos de Infância sinaliza ao ECO que só em abril será tomada a decisão, embora em janeiro e fevereiro a semana de trabalho mais curta se tenha já mantido (no modelo rotativo). Também a Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES) indica que a decisão ainda não foi tomada.
De resto, a apresentação do relatório final do projeto-piloto estava prevista para abril, mas o ECO sabe que está em cima da mesa a possibilidade de só ser finalizado em maio, já com um novo Governo no Ministério do Trabalho.
Na apresentação dos primeiros resultados do projeto-piloto à semana de quatro dias, o presidente do conselho diretivo do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) mostrou confiança neste modelo inovador. “Sem fazer futurologia, mais ano, menos ano, a semana de quatro dias será mais a regra do que a exceção“, atirou Domingos Lopes.
Lá fora, as empresas que testaram também têm mantido o modelo. No Reino Unido, das 61 empresas que participaram no piloto, 56 decidiram continuar com o modelo inovador, das quais 18 deram-no logo como permanente. Já do lado dos trabalhadores, 90% afirmaram taxativamente que o seu desejo é continuar com a semana de quatro dias.
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