BRANDS' CAPITAL VERDE “Encontramos algumas evidências que as preferências de investimento ESG estão a ter impactos reais”

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  • 15 Maio 2024

Pedro Matos, professor da Darden School of Business, esteve na Nova SBE para falar sobre as tendências da sustentabilidade, no âmbito do Simpósio Internacional Sustainability and Green Transition.

O Simpósio Internacional Sustainability and Green Transition é a primeira iniciativa da Catédra de Sustentabilidade que junta o novobanco e a Nova SBE. O programa contou com a presença de Pedro Matos, especialista em gestão de ativos da Darden University, para abordar o caminho percorrido em matéria de ESG (critérios ambientais, sociais e de governança, em português) e separar o trigo do joio. “A prioridade é perceber se, de facto, estamos ou não a fazer progressos com a adoção do ESG. O problema é que há muito greenwashing e entusiasmo em torno deste tema e nem tudo o que é medido está realmente a acontecer”, alertou.

Pedro Matos, Universidade da Virgínia - Darden School of Business
Pedro Matos, Universidade da Virgínia – Darden School of Business

Mas, afinal, há ou não razões para estar otimista ao nível da sustentabilidade? O académico acredita que sim e destaca que “estamos a desenvolver a energia solar, eólica e as baterias mais rápido do que o previsto”. Os dados apontam ainda para que a utilização do carvão esteja a cair, assim como o custo das baterias, e, em sentido oposto, a mobilidade elétrica levantou voo: na China já são vendidos mais veículos elétricos do que a combustão, a Europa está a seguir esse caminho e, mais atrás, os Estados Unidos.
Pedro Matos assinala a importância de considerar os critérios ESG para a avaliação do risco de um determinado investimento, já que as escolhas a este nível podem, e vão, impactar “o retorno dos investimentos”. “O mercado de capitais global representava, no final de 2023, qualquer coisa como 230 triliões de dólares. Se olharmos apenas para os fundos ESG, são cerca de 2,7 triliões de dólares. E, destes, a maior parte está na Europa”, continua.

Do ponto de vista do verdadeiro impacto das medidas ESG, Pedro Matos encontra uma diferença grande entre a Europa e os EUA. Do outro lado do oceano, há, de forma geral, uma “desconexão maior entre os compromissos ESG e os portefólios. Fora dos EUA, há um maior alinhamento entre as palavras e as ações”, conclui. Mas há outras formas de calcular o verdadeiro valor do investimento ESG, pelo que, assegura Pedro Matos, o maior desafio é aferir esse montante com exatidão. Os 2,7 triliões de dólares podem ser 30 triliões, se forem considerados fundos de pensões, soberanos e de seguros que incluam princípios de ESG. Porém, o valor pode atingir os 100 triliões, caso se tenha em consideração os ativos geridos pelos signatários dos Princípios de Investimento Responsável (PRI, em inglês), uma iniciativa que conta com o apoio da ONU. “O investimento em ESG é de 100 triliões? Ou é de 2,7 triliões? Esta deve ser a questão de partida”, enuncia o académico.

Futuro da sustentabilidade à lupa

Enquanto a manhã foi dedicada à visão transversal sobre sustentabilidade e a aplicação real dos critérios ESG, bem como da sua relação com os investimentos financeiros, o período da tarde do Simpósio Internacional Sustainability and Green Transition debruçou-se sobre os esforços académicos para aprofundar conhecimento com utilidade prática para esta jornada. Melissa Prado, coordenadora da Cátedra de Sustentabilidade e professora catedrática de finanças na Nova SBE, tem elevadas expectativas para esta iniciativa, que pretende que venha a ajudar a “encontrar soluções inovadoras para promover um futuro mais sustentável”.

Melissa Prado, Professora Catedrática de Finanças na Nova SBE
Melissa Prado, Professora Catedrática de Finanças na Nova SBE

À distância, por videochamada, o investigador Lakshmi Naaraayanan, da London Business School, apresentou um artigo científico “Investimentos que tornam as nossas casas mais verdes: o papel da regulação”. Neste trabalho, o especialista analisou o impacto da legislação do Reino Unido sobre o mercado de arrendamento para perceber se as obrigações legais potenciaram o aumento da eficiência energética nos edifícios residenciais, que, segundo o autor, representam 22% do consumo de energia e 17% das emissões de CO2. “A regulação parece ser importante para incentivar alguns destes investimentos”, conclui.

Daniel Streitz, professor e investigador na Universidade de Jena

Seguiu-se o estudo “Pobre demais para ser verde? Os efeitos da riqueza no aquecimento residencial”, apresentado por Daniel Streitz, da Universidade de Jena. “Queremos perceber o que está a impedir as pessoas de se tornarem mais sustentáveis”, resume o académico, que procura uma relação entre a “riqueza doméstica” e a adoção de equipamentos energeticamente mais eficientes. “É importante compreender se as condições financeiras domésticas influenciam realmente a adoção de tecnologias mais verdes e, se sim, em que medida e que motivações estão na sua origem desse investimento”, diz.

A programação terminou com “Os efeitos globais do investimento socialmente responsável: uma abordagem sensorial remota”, por Melissa Prado. A coordenadora da Cátedra de Sustentabilidade explica que “a questão que se coloca é se o dinheiro faz realmente diferença”, nomeadamente para perceber “como é que o investimento socialmente responsável afeta a atividade poluidora de multinacionais industriais. Queremos ver se há melhorias ou regressões quando entra capital mais verde e sustentável”, perspetiva. Uma das conclusões deste trabalho – que continua em aprofundamento – prende-se com noção de que existe uma melhoria no desempenho ambiental das áreas junto a instalações de produção nos países da OCDE, por via do investimento verde e da regulação, mas que, pelo contrário, fora da OCDE verifica-se uma deterioração.

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