Portugal tem “um défice” de empresas a concorrer ao BEI, diz o novo presidente do comité de auditoria do banco
“Existe, neste momento, um novo plano estratégico para o BEI a ser discutido, que tenta, justamente, entrar em novas áreas e desenvolver novos produtos financeiros", diz Nuno Fernandes.
“Temos um grande défice de empresas portuguesas a concorrer a projetos financiados pelo Banco Europeu de Investimento (BEI) comparados a outros países semelhantes a Portugal em termos de dimensão”, defende Nuno Fernandes que é, desde esta segunda-feira, presidente do comité de auditoria do Banco Europeu de Investimento (BEI).
Em entrevista ao ECO, o especialista em finanças e governança, admite que há espaço para que a relação de Portugal com o BEI possa aumentar. Em 2023, Portugal caiu uma posição no ranking dos principais beneficiários do apoio do Grupo BEI em termos de Produto Interno Bruto, apesar de o nível de financiamento ter aumentado mais de 25% face ao ano anterior.
Mas tudo está dependente da “existência de projetos que sejam elegíveis, em primeiro lugar, e, em segundo, tenham interesse económico/financeiro, solvabilidade económica/financeira, capacidade de criação de valor, de repagar os empréstimos e, por outro lado, tenham um impacto a nível da coesão e do desenvolvimento nacional”, defende o responsável.
Nuno Fernandes foi presidente do conselho de auditoria do Banco de Portugal, de 2018 a 2023, o seu “primeiro grande desafio, primeiro grande cargo em termos de um conselho de administração, como não executivo”.
Na altura, os “grandes desafios” foram “os anos realmente conturbados, quer em Portugal por questões de sistema financeiro que sabemos, quer a nível internacional, pelas questões do quantitative easing, da Covid e resposta à crise europeia. Foram anos em que o balanço do Banco de Portugal mais do que duplicou e isso trazia riscos acrescidos e, portanto, exigia uma monitorização e um controlo muito mais adequado. Foi um desafio de crescimento e de grande volatilidade externa nos mercados”, recorda Nuno Fernandes.
Agora no BEI considera que os desafios são semelhantes no facto de “a envolvente externa ter muita volatilidade e incerteza, o que causa grandes disrupções para os mercados financeiros, neste caso internacionais”. Mas acresce ainda “toda a questão da União Europeia, da insegurança e da potencial guerra às nossas portas e toda a questão do desenvolvimento económico no espaço europeu, com a economia a crescer muito menos e com problemas económicos”.
Nuno Fernandes considera, por isso, que “o papel do BEI torna-se cada vez mais relevante, porque deve ajudar a UE a implementar as suas políticas e vem com desafios grandes de manter o seu impacto e adicionalidade que, com as alterações todas que existem nos mercados, não é um dado garantido”.
“Existe, neste momento, um novo plano estratégico para o BEI a ser discutido, que tenta, justamente, entrar em novas áreas e desenvolver novos produtos financeiros. Mas quando se desenvolve e há inovação obviamente isso acarreta riscos adicionais e é preciso controlar bem, para garantir a solidez financeira do banco e, em última análise, o dinheiro dos contribuintes, que é um banco que é de todos os países da União Europeia”, e um banco com rating AAA, que “é preciso manter”, afirma Nuno Fernandes.
Sem revelar o que está a ser negociado, o novo presidente do Comité de Auditoria do BEI recorda apenas aquilo que já é público, ou seja, que o BEI tem vindo a apostar muito na questão climática – “renomeou-se como climate bank –, tendo atingido os objetivos definidos muito antes do prazo estabelecido.
“Agora temos novas realidades como a questão da segurança e da defesa na Europa. Podem ser novas aberturas e novos produtos oferecidos nessa área. E depois podem ser mesmo novos produtos estruturais. O BEI foi o primeiro banco a nível mundial, a emitir um Green Board em 2007”.
Há “tantos outros produtos que podem ser iniciados nos mercados de capitais com caráter inovador, mas que têm de ter também escalabilidade e adicionalidade”, explica Nuno Fernandes. “Se for um produto apenas para o BEI, não faz muito sentido. Agora, criar produtos novos que desenvolvam mercados e soluções inovadoras de financiamento. Esse é o objetivo verdadeiro do BEI”, conclui.
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