Turismo impulsiona economia mas dependência “acarreta riscos”
"É verdade que não devemos ambicionar que a nossa economia se especialize excessivamente em turismo", consideram economistas.
O turismo tem vindo a ganhar uma importância cada vez maior para a economia portuguesa, mas isso “acarreta riscos”, apontam economistas, trazendo também pressão sobre as populações, que em muitos países se começaram a manifestar.
“Portugal tem condições naturais e apetência para o turismo, e seria um erro não aproveitar essa oportunidade, mas também há que reconhecer que uma dependência excessiva num setor em particular, e o turismo não é exceção, acarreta sempre riscos de vária ordem”, destaca Ricardo Amaro, economista da Oxford Economics, à Lusa. Estes riscos são “para o crescimento económico, mas também para o desemprego, finanças públicas e balança comercial”, áreas que “têm beneficiado da forte performance do turismo e seriam prejudicadas por um arrefecimento do mesmo”.
Foi o que se verificou na pandemia, quando os confinamentos e restrições provocaram uma quebra no turismo, que acabou por ser responsável por 75% da contração de 7,6% do Produto Interno Bruto (PIB) registada em 2020, segundo dados do INE. Agora, o setor já recuperou dos impactos da covid-19 e em 2023 contribuiu para quase metade do crescimento do PIB.
Como destaca à Lusa, por sua vez, Ricardo Ferraz, investigador no ISEG e professor na Universidade Lusófona, “estima-se que o contributo anual direto e indireto do turismo para a economia portuguesa ascenda a quase 34 mil milhões de euros, o que equivale a cerca de 13% do PIB”.
Apesar de fazer “todo o sentido aproveitarmos os pontos fortes do nosso país enquanto destino de excelência”, assume o economista, “também é verdade que não devemos ambicionar que a nossa economia se especialize excessivamente em turismo”. “A par de uma economia que saiba aproveitar os seus pontos fortes enquanto destino de excelência, precisamos também de uma economia mais moderna e evoluída tecnologicamente que consiga acompanhar os grandes motores da Europa”, defende o investigador.
Algumas organizações internacionais têm também vindo a alertar que, apesar do “papel fundamental na promoção do desenvolvimento económico”, os impactos do turismo “são muitas vezes económica, social e ambientalmente desequilibrados, e os benefícios nem sempre revertem a favor das comunidades locais”, como se lê num relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.
As populações em várias cidades europeias têm-se começado a manifestar perante estes efeitos. É o caso de Amesterdão, Praga e também várias regiões em Espanha, onde o turismo de massas tem sido alvo de protestos: Málaga, Barcelona, Palma de Maiorca e ilhas Canárias. Espanha é o segundo destino turístico do mundo, depois de França, e recebeu 86 milhões de visitantes estrangeiros em 2023, segundo estatísticas oficiais.
Apesar do peso na economia, as populações de regiões espanholas com mais turismo têm-se manifestado nos últimos meses por causa daquilo que consideram ser uma saturação da atividade, com esgotamento de recursos ou impactos graves no mercado da habitação.
Em Portugal, já se realizaram manifestações em Sintra, onde foram colocadas faixas de protesto nas janelas e varandas e cartazes nas montras de lojas, restaurantes e cafés, em que se lê, por exemplo, “trânsito caótico a todos prejudica, residentes e visitantes” e “Sintra ≠ Disneyland”, exigindo ao município medidas contra o “turismo de massas e caos no trânsito”.
Ricardo Amaro destaca que “em termos teóricos, sendo o turismo benéfico em termos líquidos para a sociedade na sua totalidade, é possível criar mecanismos que beneficiem os prejudicados por essa atividade”, mas assume que “nem sempre é óbvio que medidas de compensação funcionam na prática”.
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