Refinaria de lítio em Montalegre conta estar em operação em 2028
Os problemas financeiros da empresa de baterias Northvolt ou o cancelamento da refinaria de lítio pela Galp não altera os planos da Lusorecursos, que pretende arrancar a refinação em 2028.
A Lusorecursos, empresa que detém a concessão para explorar o lítio da mina de Montalegre, afirma que os planos de extração e refinação do minério se mantêm, depois de a Galp cancelar os seus planos para construir uma refinaria em Setúbal. Esperam iniciar a extração em 2027 e começar a entregar o produto da refinação em 2028, a clientes com os quais a empresa está agora em conversações.
“Estamos a desenvolver as medidas requeridas na declaração de impacto ambiental. Temos muitos trâmites administrativos que foram atrasando, mas estamos a prever iniciarmos a exploração em 2027, e termos hidróxido ou carbonato de lítio [produtos da refinação] para 2028“, afirma Ricardo Pinheiro, gestor e administrador da Lusorecursos.
A Lusorecursos obteve, em setembro de 2023, uma declaração de impacto ambiental (DIA) favorável para o projeto, um investimento de 650 milhões de euros, embora condicionada ao cumprimento de várias condições. Nessa altura, já a empresa estimava que a extração de lítio se iniciasse em 2027.
Estão identificadas e certificadas 15 milhões de toneladas no pegmatito do Romano, a estrutura rochosa de onde extrairá o lítio, e o objetivo é a cada ano extrair um milhão e meio de toneladas. Depois da refinação, estes volumes traduzem-se em 17.000 toneladas anuais de lítio (mais precisamente Lithium Carbonate equivalent, ou LCE, o lítio que se usa no fabrico de baterias).
Este produto ainda não tem destino fechado, mas está em discussão. O gestor indica estar em conversações com clientes a nível europeu, preferindo não avança nomes. Avança apenas que está a falar tanto com fábricas de baterias que têm a capacidade de “ativação de materiais”, um passo necessário para que o lítio possa ser usado nas baterias, como com agentes focados nessa ativação de materiais. Em todo o caso, não se tratam de “projetos novos”, e sim empresas “com negócio estável”, avalia.
Não temos qualquer problema relativamente à viabilidade económica. O produto tem valor acrescentado, é aceite no mercado, estamos a negociar com clientes e temos uma mina consciente.
Confrontado com o recente abalo da Northvolt, a promessa europeia das baterias elétricas que entregou um pedido de proteção de credores e cujo CEO e fundador abandonou “o barco”, Ricardo Pinheiro desvaloriza o impacto deste desfecho no mercado. “Queriam estar em todo o lado e mais algum. Mas o dinheiro não é infinito. E é preciso viabilidade técnica”, critica. Acredita também que “o mercado está a ajustar-se. É normal haver muitos projetos e que haja uma seleção natural do que sobrevive. Há 20 refinarias planeadas para a Europa, nem todas vão sobreviver“.
BMW, Volkswagen, Volvo, todas estas empresas tinham contrato com a Northvolt, para que esta as fornecesse de baterias. “Há mercado. Não foi por causa do que aconteceu com a Northvolt que já não há cadeia. Pode continuar-se com outros projetos exequíveis e credíveis”, comenta. Ainda assim, reconhece que estes acontecimentos têm consequências na confiança que existe no setor e no desenvolvimento da cadeia de valor das baterias, no que toca os mercados financeiros.
Sobre a Lusorecursos, não assinala quaisquer problemas semelhantes. “Não temos qualquer problema relativamente à viabilidade económica. O produto tem valor acrescentado, é aceite no mercado, estamos a negociar com clientes e temos uma mina consciente”, remata.
Já em relação à Galp, que desistiu do projeto de refinaria que tinha para Setúbal em parceria com a Northvolt, avaliado em 1.100 milhões de euros, o gestor da Lusorecursos afirma que “nunca esteve em cima da mesa” a hipótese de esta refinaria ser um dos destinos do material extraído na mina de Montalegre.
Apesar de confiante no futuro do negócio que gere, Ricardo Pinheiro reconhece que há desafios neste setor que a Europa deve endereçar, se pretender reindustrializar. Defende que é necessário “implementar o mais rapidamente possível” o Plano Draghi, no qual Mario Draghi aponta a cadeia de valor do lítio como “crucial” para o futuro do Velho Continente, mas também o Regulamento das Matérias-primas Críticas.
“Os envolvidos têm de sentir que estas medidas são aplicadas no terreno. Porque quanto mais tarde, mais difícil é combater a ofensiva chinesa“, afirma Pinheiro, referindo-se à dominância que a China tem de momento nesta área, e que pode continuar a construir.
Turbulência sente-se no mercado
As questões sobre a saúde deste setor começaram a surgir quando, a 21 de novembro, a fábrica sueca de baterias de lítio Northvolt apresentou um pedido de proteção contra credores nos Estados Unidos, depois de ter falhado um acordo com investidores para salvar a empresa de baterias, que já contou com uma injeção de capital superior a 14 mil milhões de euros.
Já esta semana, na terça-feira à noite, a Galp anunciou que vai cancelar o projeto Aurora, a refinaria de lítio que previa instalar em Setúbal através de uma parceria com a Northvolt. A decisão surge depois de a Northvolt ter travado o investimento no projeto conjunto com a petrolífera portuguesa, uma vez que se encontra com graves problemas financeiros, justificou a petrolífera.
Neste contexto, a Lifthium Energy, empresa criada pela Bondalti e José de Mello para atuar na área do lítio, afirma-se “empenhada” em avançar com o seu projeto de refinaria, mas não tem, para já, qualquer decisão final quanto a este investimento.
Por seu lado, Savannah Resources, empresa que tem a concessão da exploração do lítio no Barroso, em Portugal, afirma que o seu caminho é “independente” do da Galp e diz estar a discutir a possibilidade, com o parceiro AMG e outros, de se construírem mais refinarias na Península Ibérica.
Esta quarta-feira, no rescaldo do anúncio da Galp, a consultora Mckinsey afirmou que via a cadeia de valor dos veículos elétricos como uma oportunidade chave para uma reindustrialização em Portugal, apesar do recente revés protagonizado pela petrolífera. “Acreditamos que Portugal pode ter um papel muito importante nessa indústria” mas é necessário “garantir que os projetos têm as condições para avançarem”, referiu André Anacleto, sócio da Mckinsey, na apresentação do Índice de Industrialização e Transição Energética criado pela consultora.
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