Exclusivo Donos do Natixis avaliam compra do Novobanco

O Groupe BPCE tem negócios de retalho em França e está a explorar a oportunidade avançar para a aquisição do Novobanco. Instabilidade dos mercados reforça via da venda direta a outro banco.

O grupo francês BPCE, ao qual pertence o banco de investimento Natixis, está a avaliar a compra do Novobanco, apurou o ECO junto de duas fontes que conhecem o dossiê. O Groupe BPCE tem negócios de retalho em França e tem estado a explorar a oportunidade de investir em Portugal através da aquisição do Novobanco. Contactada, fonte oficial do Groupe BPCE responde que “não comenta rumores de mercado“.

Apesar de o fundo Lone Star garantir que continua a preparar a entrada do Novobanco em bolsa, tem suscitado interesse de investidores internacionais que acreditam que o atual contexto dos mercados financeiros, marcado por instabilidade, reabre a porta a um processo de venda a outro banco, ou seja, está a trabalhar no chamado ‘dual track’, a dispersão em bolsa e uma operação de Mergers and Acquisitions (M&A) na instituição bancária.

Fundado em 2009, o Groupe BPCE é composto pelo Natixis – que em Portugal opera através de um centro de inovação tecnológica – e outros bancos, como Banque Palatine, Caissed’Épargne, Banque Populairee LeCréditCoopératif.

O ECO apurou que existe pelo menos mais um grupo financeiro internacional interessado, não espanhol, que contratou advogados em Portugal para explorar este negócio, embora o seu nome se mantenha em segredo. Mas também é público e notório que o Caixabank, dono do BPI, o BCP e a CGD, não excluem a possibilidade de entrarem nesta corrida. “Estamos a analisar essa hipótese”. Paulo Macedo, presidente da CGD, foi o mais claro dos banqueiros quando questionados sobre o Novobanco, o que motivou até uma declaração de “estranheza” do presidente do Santander Portugal, Pedro Castro e Almeida.

Na segunda-feira, o Novobanco confirmou que mantém o plano de avançar com uma oferta pública inicial (IPO – Initial Public Offering), ainda que a definição do momento exato para a operação continue “a depender das condições de mercado”. No entanto, os analistas de mercados consideram que é imprudente que o banco liderado por Mark Bourke avance para um IPO perante a volatilidade das bolsas.

Para o responsável de Trading do Banco Carregosa, “colocar em pausa uma operação de IPO não seria sinal de fragilidade, mas antes uma decisão de prudência estratégica”, até por causa do historial de reestruturação e recapitalização, que “continua a ser um elemento sensível em qualquer operação de colocação no mercado”, especialmente “num ambiente onde os investidores privilegiam previsibilidade e estabilidade regulatória”.

“A instabilidade dos mercados, as possíveis descidas das taxas de juro reais, por estagnação ou recessão económica, e as tensões comerciais globais — como a recente vaga de tarifas que ameaça travar o investimento — criam um ecossistema onde o custo de oportunidade de ‘esperar por melhor janela’ pode compensar largamente o risco de avançar num momento desfavorável”, defende João Queiroz, em declarações ao ECO.

"O custo de oportunidade de ‘esperar por melhor janela’ pode compensar largamente o risco de avançar num momento desfavorável”

João Queiroz

Head of Trading do Banco Carregosa

Na perspetiva do analista Henrique Silva, da ActivTrades Portugal, os planos do Novobanco de entrar em bolsa no segundo ou terceiro trimestre “podem ser postos em causa” se houver um “agravamento adicional dos fundamentos de mercado”.

“O sucesso de uma entrada em bolsa depende não só dos fundamentos da empresa, mas também do apetite dos investidores pelo risco, que, no atual contexto de incerteza, será bastante reduzido. Os investidores estão hoje focados na preservação de capital, não na tomada de novas posições com risco acrescido”, diz o trader da ActivTrades Portugal, admitindo que possa fazer sentido “adiar até que haja maior estabilidade e maior previsibilidade sobre o impacto da atual guerra de tarifas”.

"O sucesso de uma entrada em bolsa depende não só dos fundamentos da empresa, mas também do apetite dos investidores pelo risco, que, no atual contexto de incerteza, será bastante reduzido.”

Henrique Silva

Analista da ActivTrades

A opinião é partilhada por Henrique Tomé da XTB: “Face ao atual enquadramento de mercado, é expectável que algumas empresas optem por adiar ou suspender os IPO previstos, uma vez que as condições de mercado não se afiguram particularmente favoráveis à maximização do interesse dos investidores, sobretudo no que diz respeito ao apetite pelo risco”.

O analista da XTB acrescenta que a a bolsa portuguesa tem demonstrado um comportamento lateralizado nos últimos 12 meses, apesar de uma tentativa recente de atingir novos máximos relativos a 7 de abril.

"As condições de mercado não se afiguram particularmente favoráveis à maximização do interesse dos investidores, sobretudo no que diz respeito ao apetite pelo risco”

Henrique Tomé

Analista da XTB

Certo é que o Novobanco tem tido um “percurso recente de recuperação sustentada e resultados robustos”, tendo em conta que em 2024 registou lucros recorde de 744,6 milhões de euros, um crescimento expressivo da rentabilidade (RoTE de 17,4%) e consolidou a sua posição de capital, destacou o analista do Banco Carregosa.

Maio era o mês previsto para a Lone Star lançar processo de venda do Novobanco, caso tudo corresse como planeado: publicar o relatório financeiro anual e garantir a autorização do Banco Central Europeu (BCE) para distribuir dividendos de 224,6 milhões de euros, dos quais 30,4 milhões de euros revertem para o Fundo de Resolução e 25,7 milhões de euros para o Estado português.

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