“O presidente global da Mapfre quer estar no TOP3 em Portugal. E depressa!”

Luis Anula, CEO da seguradora Mapfre em Portugal, revela as ambições da seguradora espanhola e como está a ganhar com mais pessoas preocupadas com a suas futuras pensões de reforma.

Luís Anula, CEO da Mapfre em Portugal desde 2017, está com ambições especiais para a companhia em Portugal.Hugo Amaral/ECO

A seguradora espanhola Mapfre acaba de inaugurar uma nova sede em Portugal, um gesto que juntou António Huertas, presidente global da companhia a Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa, na cerimónia de inauguração. Huertas jurou ligação eterna a Portugal e desafiou Luis Anula, CEO em Portugal desde 2017, a tornar a companhia uma das três maiores seguradoras em Portugal.

A Mapfre no mundo tem uma vez e meia a dimensão de todo o mercado português, cerca de 23 mil milhões de prémios em 2023. Na península ibérica é a 2ª maior e em Portugal a 9ª maior de acordo com o ranking das seguradoras ibéricas elaborado por ECOseguros.

Luis Anula está animado com o desenrolar do ano 2025, espera prémios de 550 milhões de euros e tem bons resultados para apresentar para além da nova sede. Foi entrevistado por ECOseguros.

Como está a correr o ano?

Em seguros Não Vida terminámos o primeiro semestre com 6,3% de crescimento relativamente ao ano anterior e em Vida 38%. Mas, em Não Vida, os primeiros 15 dias de julho foram tão fabulosos que, se tínhamos terminado o primeiro semestre com um crescimento de 6,3%, já hoje estamos a dizer 22%. E, em Vida, também tivemos uma operação significativa nos primeiros 15 dias de julho.

Foi novo cliente?

Em Vida sim, foram novos clientes. Em Não Vida temos um acordo, o mais forte da Mapfre de Portugal, com a Galp, todo o negócio internacional da Galp, os grandes negócios, as grandes operações da Galp, está connosco a nível global. Portanto, estamos a segurar instalações da Galp em Portugal, em Espanha, no Brasil, em África, em vários países. Tudo concentrado, o centro das operações é aqui em Portugal e a renovação de uma operação das importantes que nós temos com a Galp aconteceu agora nos primeiros dias do mês de julho.

Qual será o crescimento no final do ano?

Já fizemos em junho uma primeira estimativa de fecho de 2025, a nossa primeira estimativa antes de entrar estas operações, e terminaremos o ano por volta dos 550 milhões de euros de prémios. Terminámos 2024 com 475 milhões, ainda com um crescimento importante. Faremos em setembro uma segunda estimativa que, imagino, vai superar os 550 milhões de euros. Será o nosso melhor ano de sempre, como já foi em 2024.

Qual a explicação para o crescimento de 38% no ramo Vida?

Há várias explicações. Primeira, o Bankinter Vida. Está a fazer um ano importante com uma transição de produtos, inclusive com vários produtos de prémios únicos e de Unit-linked, que estão a oferecer aos seus clientes do banco e que estão a ser muito bem acolhidos. Depois, a nossa rede própria tem tido um desempenho fantástico com produtos de poupança para os clientes, a todos os níveis, poupança a curto prazo, poupança para depois da velhice, e eu diria que a estrela são os produtos para preparar a reforma.

Os PPR? Quais PPR?

Fundamentalmente os PPR, nós estamos a crescer 140% em PPR. Com os tradicionais mas estamos a desenvolver novos produtos PPR, com novos fundos ligados a esses PPR, estamos a criar uma panóplia de produtos novos e interessantes, mas ainda as pessoas vão ao mais clássico, ao mais tradicional, e estamos a ter um sucesso, estamos a ter um sucesso importante.

Poderá a preocupação dos portugueses com as futuras pensões de reforma estar a despertar finalmente?

Há uma mentalidade em Portugal de preocupação pela reforma que está cada vez mais claro. E nós estamos a ser, não quero dizer os únicos, mas um dos grandes especialistas em assessorar e acompanhar os clientes para preparar a sua reforma. Até parceiros como o ACP, especialistas toda a vida em seguros de automóvel, apanharam esta ideia da reforma, também estão a apresentar aos sócios do ACP e também estão a servir como um canal de distribuição para os PPR. Estamos a fazer o que é mais importante por todos os canais. Estamos a fazer com a nossa rede própria e estamos a fazer com acordos importantes como aquele que temos com ABanca.

“Enquanto, o segundo pilar (fundos de pensões através de empresas) neste país, como em tantos países da Europa, não está suficientemente desenvolvido, é a nível particular que os portugueses têm que se preocupar de preparar a sua reforma”.Hugo Amaral/ECO

Estão na bancassurance com Abanca a par com o Bankinter?

ABanca está a se tornar um player fundamental para a venda de produtos. O Bankinter está a trabalhar a nível de vida risco, a nível de produtos de poupança e prémio único e é espetacular o trabalho que eles fazem. Em reforma, estão agora a caminhar nessa direção, mas foram mais rápidos os colegas da Abanca, os “galegos”, foram mais rápidos a perceber a necessidade do cliente, em entender quem está preocupado com a reforma e apresentar soluções, que são soluções nossas a ser distribuídas pelo Abanca.

Acredita que os portugueses já estão mais conformados com a ideia de que não vai haver pensões estatais para eles?

Cada vez estão mais preocupados com isto, mais convencidos de que necessitam complementar e o PPR é um produto que parece que está nas preocupações da população. A mim faz-me especialmente satisfeito porque estou convicto que um dos pilares de futuro da indústria seguradora serão soluções para a reforma e conseguir complementar as pensões de reforma dos portugueses. E, por enquanto, o segundo pilar (fundos de pensões através de empresas) neste país, como em tantos países da Europa, não está suficientemente desenvolvido. É a nível particular que os portugueses têm que se preocupar de preparar a sua reforma.

Maiores incentivos fiscais ajudavam?

Ajudariam, claro. Parece que não é, por enquanto, a intenção dos governantes, mas estamos sempre a dizer que era importante ter mais uma provocação para os portugueses, ter um novo incentivo, uma nova motivação para começar a pôr aquelas moedas no mealheiro e criar a sua base para a reforma. Podem ser contributos mensais, não é aquele só one shot. É com entregas sucessivas para fazer poupança de uma maneira confortável, sem um esforço económico grande.

Nota-se muita subscrição de produtos de vida, mas também um elevado nível de resgates…Poderão as seguradoras estar a incentivar a troca de produtos velhos por produtos novos?

Não estamos nessa situação. Não estamos a incentivar os resgates, nem estamos a sofrer as solicitações anormais de resgate por parte dos clientes. Os produtos que temos estão a apresentar bons resultados, boa rendibilidade e os clientes estão insatisfeitos e, portanto, não estamos com esse problema.

A proteção familiar é fundamental. Se uma pessoa tem um acidente fica com uma pensão pública insuficiente e com as mesmas despesas que tinha o dia anterior. Há seguro para esse risco e é super económico.

Há outra lacuna de proteção a explorar no ramo Vida?

A proteção familiar. É um segmento em que estamos também muito empenhados e que aí a sensibilidade da população ainda não é tão clara como na reforma. A pessoa está a trabalhar, tem um ordenado, família vive confortável. Amanhã não estou, tive um acidente, tive uma doença. E a minha família como é que fica? Com uma pensão pública insuficiente e com as mesmas despesas que tinha o dia anterior. Com a renda de casa, o empréstimo, as compras, os estudos dos filhos. Há seguro para esse risco e é super económico.

Vai explorar os seguros Vida Risco puro?

A falta de consciencialização em Portugal e muitos países levam as pessoas a preocuparem-se em fazer o vida-risco quando fazem um contrato, uma hipoteca, um crédito de habitação com o banco, que o obriga a fazer o seu seguro de vida. Fora disso, ainda não existe a mentalidade de proteger a família independentemente de eu estar a comprar uma vivenda ou não. Eu tenho a minha equipa comercial com muito foco em alertar a sociedade que realmente deveria ser uma preocupação, que a solução é barata e que a solução resolve depois um grave problema até quando terminam os contratos que lhes deram origem.

E em seguros de saúde é para continuar a apostar?

É uma preocupação máxima em Portugal e em todos os países da Europa, eu diria a todo mundo. O ponto de situação na Mapfre é: Somos uma marca de confiança, estamos a crescer mais com o mercado, estamos com uma sinistralidade controlada e estamos com um projeto superambicioso para 2026 de desenvolver mais soluções próprias de saúde para o mercado, para além da parceria que temos agora com a Médis.

Em seguros Não Vida muito do negócio da Mapfre está em obrigatórios: Automóvel e Acidentes de Trabalho…

Nós estamos com o multirrisco tradicional da PME, mas também grandes riscos de Portugal como Galp, EDP, Repsol, Amorim, e outros grupos empresariais fortíssimos, em que estamos a segurar os seus riscos nacionais e internacionais. No pacote de multirriscos, praticamente metade são grandes riscos e metade são riscos pequenos.

No ramo automóvel não há peças, não há mão de obra nas oficinas e os tempos de reparação aumentaram. Não só aumenta a frequência, como aumenta o peso dos sinistros graves dentro dos sinistros que nós temos

No ramo automóvel já se vende mais danos próprios ou continua a ser responsabilidade obrigatória?

Cada vez mais danos próprios. O seguro automóvel teve um comportamento desigual no 2024 e um pouco mais homogéneo em 2025. O ano de 2024 foi um ano de guerra de preços, em que todas as companhias sabiam que as tarifas eram insuficientes para dar resposta no momento do sinistro aos clientes, mas as companhias queriam ser muito competitivas e não queriam aumentar os preços. Os aumentos foram feitos cada ao ritmo de cada companhia, nós aumentámos logo em 2024. Este ano há uma subida de preços geral no mercado que nós, felizmente, não precisámos de fazer, já tínhamos feito em 2024, e a nossa proposta de qualidade está igual, mas mais competitivos em preço porque estamos menos preocupados com a sinistralidade que o resto do mercado.

E a sinistralidade automóvel?

O mercado está super preocupado com a frequência que aumentou, com o custo de sinistro que aumentou e com os tempos de reparação dos carros que aumentaram. Não há peças, não há mão de obra nas oficinas e os tempos de reparação aumentaram. Não só aumenta a frequência, como aumenta o peso dos sinistros graves dentro dos sinistros que nós temos. Eu ainda não consigo fazer um diagnóstico mas pode ser velocidade excessiva, qualidade da manutenção dos carros, dos pneus, situações climatéricas porque este ano choveu mais do normal, mas a verdade é que estamos com mais sinistros graves.

Como está a operação em acidentes de trabalho?

Não temos nenhuma oscilação na sinistralidade nem no rácio combinado. Eu acho que somos a companhia de Portugal que melhor está a gerir o ramo de acidentes de trabalho. O rácio combinado deve estar agora em 88% ou 89%. Era um grande problema. Quando cheguei a Portugal em 2017, encontrei o ramo com 140% de rácio combinado.

A propósito disso, a estratégia, nessa altura era reforçar a rede de mediação própria…

Quando eu cheguei estávamos com 60 lojas em todo o país, exclusivas, que trabalhavam em exclusivo com a Mapfre. Agora estamos com as 115 e temos um projeto em que eu estou especialmente dedicado em ter mais 30 lojas exclusivas nos próximos 3 anos.

Isso é converter à Mapfre mediadores que já existem?

Hoje 85% dos novos delegados procedem de um programa que nos chamamos APM, Agente Profissional Mapfre. Recrutamos uma pessoa, nem tem de ser um comercial, entra em um programa de formação muito completo, quando termina o programa vai trabalhar para uma loja nossa, onde temos uma equipa comercial potente, que faz um acompanhamento pessoal dessa pessoa durante três, quatro anos. É acompanhado, por quem ensina a profissão, a analisar um risco, a assessorar os clientes, é um programa formativo em aula e formativo em rua para dominar a profissão. Quando consideramos estar pronto para o desafio, abrimos uma loja, colocamos o nosso reclame e aquele profissional fica à frente do negócio.

E como retém? Não há risco dele ir trabalhar para um concorrente?

A verdade é que não está a acontecer. Provavelmente a forma como transmitimos os nossos princípios, a nossa cultura, a nossa estratégia, o acompanhamento que fazemos muito direto, impede que não fiquem órfãos em nenhum momento da sua vida profissional. Eu levo 38 anos nesta casa e estes princípios, fazem com que hoje eu continue cá.

Mas parte do negócio de mediadores ainda provém de profissionais multimarcas?

Trabalhamos cada vez com multimarcas mais fiéis, mais fidelizados, que fazem uma parte importantíssima do seu negócio com a Mapfre, porque acreditam prioritariamente na Mapfre.

Em relação a capital de solvência da Mapfre em 2024, em vida está muito acima de 200% em não vida, mais entre 150% e 170%. Está a otimizar a rentabilidade do capital da acionista?

“O Presidente global da Mapfre, lançou o desafio: Quer ver a Mapfre entre as três maiores seguradoras em Portugal e o mais rápido possível. Eu não me quero reformar sem conseguir isso”.Hugo Amaral/ECO

Tentamos estar sempre dentro desses limites para dar resposta ao acionista e ao mesmo tempo ter a garantia que não há risco de dar resposta a qualquer sinistro que podamos sofrer. O presidente da Mapfre esteve em Portugal recentemente e está contente. Publicou nas suas redes sociais que o edifício onde está a nova sede, não é só uma declaração de intenções, relativa ao nosso compromisso com o país, como também com o futuro da Mapfre em Portugal.

Em resseguro a Mapfre Portugal só trabalha com a Mapfre Re?

Continua a ser a Mapfre Re o principal ressegurador, mas podemos falar com outros.

A tempestade DANA em Valência, em fim de outubro de 2024, teve consequências para a Mapfre em Espanha?

O impacto foi forte, mas a resposta da Mapfre foi tão espetacular, tão demonstrativa das nossas capacidades, que está provocar um aumento da contratação de seguros Mapfre muito superior à que tínhamos e já era acima dos 20% do mercado naquela zona. Em fevereiro já tínhamos sofrido, na mesma região, em Campanar, a destruição total de um edifício de 138 apartamentos em 14 andares que provocou 10 mortes. Este era um risco 100% Mapfre e um prejuízo estimado de 26 milhões de euros. Estamos a reconstruir de raiz o prédio para realojar as mesmas pessoas.

Quais os grandes objetivos para a Mapfre em Portugal?

António Huertas, o Presidente global da Mapfre, lançou o desafio: Quer ver a Mapfre entre as três maiores seguradoras em Portugal o mais rápido possível. Eu não me quero reformar sem conseguir isso.

Para esse objetivo são precisas aquisições?

Não temos ainda nenhum objetivo claro, estamos a analisar várias situações. É verdade que a nossa prioridade é crescer organicamente, como fizemos até agora e tentar complementar com alguma aquisição. Estamos tão convencidos das nossas capacidades que o foco é continuar a desenvolver a nossa rede própria, os nossos acordos, fazer acordos cada vez maiores, mais relevantes, com maior volume de negócio e, entretanto, encontrar alguma oportunidade que nos permita dar um maior passo em frente.

O alinhamento internacional é importante? A Mapfre envia oportunidades de negócio para Portugal?

Espanha envia empresas espanholas, empresas espanholas que já são clientes da Mapfre em Espanha e procuram resposta para a empresa, para a família, para o carro, saúde… Também há um perfil cada vez mais significativo que reformados. Eu diria que não só espanhóis, reformados de toda a Europa que vivem cá e aí aproveitamos a notoriedade global da Mapfre.

Atualização desta notícia em 1 de agosto: Foi Carlos Moedas que esteve presente na inauguração da nova sede da Mapfre e não Marcelo Rebelo de Sousa, como erradamente referimos inicialmente.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

“O presidente global da Mapfre quer estar no TOP3 em Portugal. E depressa!”

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião