Empresas viram-se para os mercados nórdicos para diversificar exportações
As exportações para os mercados nórdicos têm vindo a crescer nos últimos anos. Apesar de ainda terem um peso pequeno nas vendas para fora, empresas veem potencial de crescimento nestes países.
A crise em França e na Alemanha e, mais recentemente, a política comercial norte-americana, têm forçado as empresas a explorar novas soluções. Os países nórdicos, para onde o volume de exportações tem vindo a aumentar nos últimos anos, estão no radar de setores como o têxtil, o calçado ou a indústria. Embora não tenham dimensão para compensar as quebras para as principais economias europeias, países como a Suécia, Finlândia, Dinamarca e Noruega têm potencial para continuar a reforçar o seu peso nas vendas ao exterior.
As exportações para a Suécia, Noruega, Finlândia, Dinamarca e Islândia atingiram os 2.352,37 milhões de euros em 2024, o que representa um aumento de cerca de 10% face aos 2.142,25 milhões de euros registados em 2023. As vendas para estes mercados, apesar de ainda representarem uma fatia reduzida das exportações nacionais (em torno de 3%), têm mantido uma tendência de crescimento nos últimos anos. E a expectativa é que os números continuem a evoluir positivamente.
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“A geopolítica tenderá a ganhar maior influência no comércio internacional como é já visível. Nesse sentido, haverá uma oportunidade para países que façam parte da União Europeia – como a Suécia, Dinamarca e Finlândia -, e países que embora não façam parte da União Europeia partilhem os valores essenciais da União Europeia, fortalecerem as relações comerciais com Portugal“, explica Luís Miguel Ribeiro. “Aliado a isso, o dinamismo de várias economias nórdicas e o seu elevado poder de compra representam uma excelente oportunidade para as empresas com maior orientação exportadora venderem bens mais sofisticados, em linha com um dos objetivos nacionais – que a AEP também defende –, a de exportar com mais valor”, acrescenta o presidente da AEP.
Há um potencial enorme para elevar o peso ainda pouco expressivo das exportações portuguesas para os mercados nórdicos. A concretizar-se, será uma oportunidade para mitigar, em parte, os obstáculos tarifários colocados pelo mercado americano.
Dito isto, o responsável argumenta que há “um potencial enorme para elevar o peso ainda pouco expressivo das exportações portuguesas para os mercados nórdicos. A concretizar-se, será uma oportunidade para mitigar, em parte, os obstáculos tarifários colocados pelo mercado americano”, remata.
Em termos de setores com maior presença nestes mercados, Luís Miguel Ribeiro realça que “entre os setores que mais exportam para os países nórdicos estão o setor automóvel, têxtil, calçado, alimentar e os vinhos. Além disso, destacam-se também os valores assinaláveis exportados de produtos minerais e metais comuns“, detalha.
O setor têxtil e do vestuário, que registou uma descida de cerca de 4% das exportações para cerca de 5,6 mil milhões de euros em 2024, exporta entre 4% e 5% deste valor para os mercados nórdicos, segundo explica a ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal. “São mercados pequenos em termos absolutos, com limitações evidentes de escala, e não podem substituir, nem em valor nem em volume, mercados como os EUA, França ou Alemanha”, refere a associação, ao ECO.
Apesar de não representarem, “por si só, uma alternativa capaz de compensar perdas significativas noutros mercados de maior dimensão”, são “mercados exigentes e com poder de compra, que valorizam atributos como sustentabilidade, inovação e design — áreas em que a indústria portuguesa tem provas dadas” e “têm potencial para nichos específicos de valor acrescentado, mas exigem investimento continuado, relações de confiança e apoio institucional consistente”.
A associação que representa o têxtil e vestuário, que tem sido pressionada pelo abrandamento dos principais mercados europeus e pela forte concorrência chinesa, reconhece que “muitas empresas estão a explorar novas geografias”. Mas, “num setor que opera com ciclos longos, produtos técnicos e exigências rigorosas, conquistar a confiança de um novo cliente pode demorar meses — ou mesmo anos”.
Com os EUA a implementarem taxas aduaneiras mais elevadas — exportações europeias para os EUA já pagam tarifas de 15% desde o passado dia 7 de agosto — , cada vez mais empresários olham para outras alternativas dentro da Europa. “Os desafios vão ser muitos e o protecionismo traz a vantagem para quem produz localmente. A indústria na Europa vai ser cada vez mais importante. A não ser que a Europa se fragmente, nós acreditamos que a Europa é um mercado interno nosso, um mercado interno natural”, defendeu José Pinto, CEO da Procalçado, no passado mês de fevereiro, em Milão, na Micam, a maior montra de calçado do mundo. À semelhança de outros industriais do setor, a gigante do calçado, que detém a marca For Ever, está a olhar para os países nórdicos. Também Paulo Monteiro, diretor comercial da Fly London, admitia na mesma feira que, em 2025, iria “entrar em novos mercados, voltar à Ásia e à Escandinávia“.
A APICCAPS, a associação que representa o setor do calçado, reconhece que “depois de dois anos de exigência com um forte abrandamento dos principais mercados de destino do calçado português, o setor aponta baterias para recuperar em 2025, perspetivando que seja um ano particularmente importante para a indústria portuguesa de calçado”. À semelhança do que acontece com a maioria dos setores, os mercados alemão e francês são os mais importantes para o setor. “Para um setor como o calçado, que exporta praticamente 90% da sua produção para 170 países, em todos os continentes – não estando por isso dependentes de nenhum único mercado – a escolha de um novo mercado não pode ser tomada de forma aleatória”, refere a associação.
“O setor do calçado nunca escondeu a ambição de se transformar numa grande referência internacional ao nível da sofisticação e da criatividade e, por esse motivo, a quantidade de calçado adquirida num determinado país não pode ser considerado um indicador único para orientar os esforços comerciais de toda uma indústria”, explica fonte oficial da APICCAPS. “Do ponto de vista estratégico, considerando que o preço médio do calçado português é o segundo mais elevado à escala internacional, a procura de novas oportunidades comerciais tende a privilegiar mercados predominantemente dominados por consumidores com níveis de rendimento elevados (igual ou superior à mediana do PIB per capita dos países da OCDE, ou seja, cerca de 38.500 dólares)”, justifica.
Mas não é só no calçado e no têxtil que as empresas estão atentas às oportunidades nos mercados nórdicos. Também no setor da metalomecânica, o campeão das exportações portuguesas, as empresas olham com interesse para os países escandinavos, nomeadamente para oportunidades no setor da defesa.

A bracarense Promecel é uma dessas empresas. A comemorar 40 anos em 2025, a metalomecânica de Braga está a investir 2,5 milhões de euros numa nova linha de produção na área da ótica, que tem na mira um novo cliente nos países nórdicos. Com este novo projeto, a empresa de componentes prevê atingir uma faturação de 15 milhões de euros, no prazo de dois anos, acima dos 11 milhões previstos para 2025.
Este investimento na área da ótica — mais concretamente na produção de miras — para um cliente na Suécia, vai reforçar o peso deste mercado nórdico na carteira de vendas. Com um peso de cerca de 10% na faturação atualmente, “com este novo projeto a Suécia andará [numa representatividade] nos 35 a 40%“, podendo ultrapassar França, que hoje vale 40% do volume de negócios, como maior mercado, conforme explicou ao ECO José Manuel Silva, CEO da Promecel.
Com os EUA a carregarem nas tarifas às importações europeias, a diversificação de mercados apresenta-se para as exportadoras cada vez mais como uma necessidade. “A quebra de encomendas para os EUA deve ser mitigada, em parte, através da diversificação de mercados“, reconhece a AEP. E os mercados nórdicos, admite, têm potencial para reforçar o seu peso nas exportações nacionais.
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