Miguel Garcia: “Eu faço restaurantes para os portugueses”

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  • 8:00

Do Copacabana Palace ao Café de São Bento, Miguel Garcia, CEO do grupo São Bento, fala no 42.º episódio do podcast E Se Corre Bem? sobre liderança, falhas e o desafio de empreender em Portugal.

Aos 41 anos, Miguel Garcia, CEO do grupo São Bento, decidiu largar a gestão de 11 hotéis — incluindo o Tivoli em Portugal — para perseguir o sonho de ter o seu próprio negócio.

“O facto de ter vivido fora fez crescer o meu lado empreendedor e, por todos os lugares por onde passei, sempre tive uma forma de olhar para as coisas como o dono do negócio [mesmo não sendo] e como empreendedor”, conta o empresário, que viveu 10 anos no Brasil e três a Suíça.

A sua carreira começou cedo, logo após concluir o curso na Escola de Hotelaria da Suíça, quando foi convidado a integrar a abertura do Four Seasons Hotel Des Bergues, em Genebra, como assistente de empregado de mesa. De regresso a Portugal, liderou a área de food and beverage do Tivoli Avenida, mas foi no Brasil que a sua visão de liderança e gestão se transformou. “Muitos amigos dizem que eu fui uma pessoa e regressei outra. O Brasil fez-me muito bem. É uma forma de estar na vida mais alegre e leve.” Esta experiência marcou profundamente a sua forma de trabalhar em Portugal, sobretudo no contraste com a falta de positivismo que ainda sente por cá. No entanto, acha que este tipo de mentalidade já está a mudar. “Estamos a tornar-nos mais leves e lentamente a aceitar a falha para conseguirmos progredir. Ainda existe o estigma de que não se pode falhar.”

No Brasil, Miguel Garcia liderou o icónico Copacabana Palace, que define como tendo sido “uma grande operação, que parecia que estava dentro de um filme”. Quando regressou a Portugal assumiu a gestão de três hotéis Tivoli, que rapidamente se multiplicaram até chegar a 11 unidades. “Eu tinha 11 hotéis com sete diretores gerais. Era uma grande operação, com uma grande ambição de crescimento durante quatro anos. Até que houve alguma coisa que começou a falar comigo”, explica.

"Eu acho que o Café de São Bento, uma marca com um legado histórico na nossa cidade de Lisboa, tem que ser passado para pessoas que vão dar continuidade àquilo que realmente é”

Miguel Garcia, CEO do grupo São Bento

Foi nesse momento que largou tudo para lançar o seu projeto, aos 41 anos, mesmo estando ciente que “não é fácil lançar um negócio em Portugal e fazer a empresa crescer”. Quando questionado sobre como é ser empresário no país, diz que “há um sentimento em que estamos praticamente sozinhos”.

A entrada no Café de São Bento foi um passo estratégico. “Já tinha posto no radar começar o meu negócio comprando um negócio existente. E a razão era muito simples, eu tinha algum capital para investir junto com o banco e gostava de investir num negócio onde já existisse uma plataforma que gerasse um IBITA, que fosse capaz de pagar a dívida que eu ia contrair.” Sobre a aquisição do espaço, conta: “Senti abertura e a primeira conversa foi ótima. Eu acho que o Café de São Bento, uma marca com um legado histórico na nossa cidade de Lisboa, tem que ser passado para pessoas que vão dar continuidade àquilo que realmente é”, afirma.

Para Miguel Garcia, negócios com este tipo de identidade não devem ser descaracterizados. Prefere afastar-se de espaços feitos apenas para serem “instagramáveis”. O que valoriza é o equilíbrio entre local, comida e serviço. “Acho que a razão das pessoas irem almoçar ou jantar fora não é só porque se come bem. Tenho que dar um conforto superior àquele que têm em casa. Para mim, a melhor recomendação, aquela que está muito acima de qualquer selo que tenhamos à porta ou prémio que se possa ganhar, é o boca a boca e sempre será.”

O erro, para si, também tem um papel construtivo. “Acho que nunca se lida bem quando se quer excelência, não é? Mas acho que a falha é um momento de oportunidade, de progredir e este momento também é onde provamos em que nível é que estamos a trabalhar”, diz.

A estratégia de Miguel Garcia passa por colocar os portugueses no centro da sua restauração. “Eu faço restaurantes para os portugueses. Primeiro, porque gosto de ter os portugueses nos restaurantes, mas também pela visão estratégica – eu quero que os turistas possam vir por consequência do sucesso com os portugueses.” Na sua perspetiva, esta é a base de um turismo qualificado e sustentável, assente na recomendação genuína.

No que toca às tendências, acredita que iremos regressar aos clássicos, razão pela qual aposta em projetos como o Bougain, dedicado à cozinha mediterrânica, ou o Café de São Bento, que combina pratos típicos portugueses com especialidades italianas e francesas. “Nós temos que ter uma forma de estar com uma base de hospitalidade e criar memórias à volta da mesa. Queremos fazer parte das memórias das pessoas quando passam nos restaurantes”, conta.

Ainda assim, reconhece que o recrutamento é uma das maiores dificuldades do setor. “Eu diria que é a maior dificuldade. Mas não deixa de ser o ponto mais importante na gestão, que são as pessoas. Aquilo a que damos mais valor é a hospitalidade e a forma como as pessoas pensam sobre os clientes”, diz.

Este podcast está disponível no Spotify e na Apple Podcasts. Uma iniciativa do ECO, na qual Diogo Agostinho, COO do ECO, procura trazer histórias que inspirem pessoas a arriscar, a terem a coragem de tomar decisões e acreditarem nas suas capacidades. Com o apoio do Doutor Finanças e da Nissan.

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