“Este ano não vai ser tão bom”. Líder do Porto de Sines culpa paragem de 22 dias e “algum conflito laboral”
Porto de Sines lançou um estudo de mercado para auscultar operadores privados sobre interesse na concessão do novo terminal Vasco da Gama, cujo concurso ficou deserto em 2019.
Depois de em 2024 ter registado o melhor ano de sempre na carga contentorizada, com uma movimentação de 1,9 milhões de TEU (unidade equivalente a contentor de 20 pés), o Porto de Sines deverá fechar 2025 com números mais baixos do que os registados no ano passado, após um primeiro semestre “muito difícil”.
Com um plano de investimentos de 1,2 mil milhões previsto no plano estratégico para os portos até 2035, dos quais 701 milhões se destinam ao novo terminal Vasco da Gama, a administração portuária lançou uma auscultação ao mercado para perceber se há interesse na nova concessão.
“Este ano não vai ser tão bom”, reconheceu Pedro do Ó Ramos, presidente da APS – Administração dos Portos de Sines e Algarve, durante uma intervenção na Porto Maritime Week, num debate dedicado ao tema dos portos marítimos. O responsável, que assumiu este ano a liderança do maior porto do país, atribui a quebra da atividade ao facto de a infraestrutura portuária ter tido 22 dias sem operação por questões “climatéricas” e também por causa de “algum conflito laboral”.
No dia em que arrancou uma greve parcial marcada pelos trabalhadores do porto, o líder da administração portuária fala numa adesão “muito fraca” — “e ainda bem”, completou. Garantiu que a empresa tem “acompanhado com muito rigor toda esta questão”, mostrando-se confiante de que “vão ser ultrapassadas estas questões” que têm afetado a atividade operacional.
“Nos contentores tivemos um primeiro semestre muito difícil, mas está a recuperar paulatinamente”, acrescentou Pedro do Ó Ramos.
O Sindicato das Indústrias, Energia, Serviços e Águas de Portugal (SIEAP), que cita dados preliminares referentes aos primeiros dois turnos, diz que a greve parcial dos trabalhadores da PSA Sines e Labor Sines está a afetar “cerca de 50% das operações”. Ou seja “das 12 gruas a operar, seis estão paradas”, disse o secretário-geral Cláudio Santiago.
Em declarações à agência Lusa, o dirigente sindical sublinhou “a mobilização significativa dos trabalhadores”. “Gostaríamos que fosse mais elevada, mas sabemos perfeitamente que as greves são momentos dinâmicos e a adesão pode variar. Mesmo assim há uma mobilização significativa que dá visibilidade às reivindicações dos trabalhadores”, realçou.
Apesar desta desaceleração no arranque do ano, o líder da APS mostra-se otimista para o futuro do maior porto português, lembrando que “o que se perspetiva para 2035 são 3,2 milhões de TEU“, o que “faz com que o Porto de Sines continue a afirmar-se como um grande porto”, realçando ainda que, ao contrário de Leixões, o porto de Sines tem capacidade de expansão para continuar a crescer.
O responsável notou ainda que Sines começou como um porto de energia e a descarbonização é uma das prioridades. “Temos mais responsabilidade para ter esta transição verde, queremos antecipar metas ambientais e em 2045 ser autossuficientes com energia renovável“, adiantou Pedro do Ó Ramos.
“Numa reunião que tivemos recentemente, num fórum de simplificação portuária, que reativámos, foi mencionado que temos 20 mil milhões de euros de possível investimento em Sines, através de vários tipos de indústrias”, detalhou ainda, acrescentando que muitas destas indústrias têm projetos no âmbito do hidrogénio e do aço verde.
APS ausculta mercado sobre Terminal Vasco da Gama
A comentar a estratégia do Governo para os portos, o responsável sublinhou que, no caso de Sines estão em causa dois grandes investimentos: a expansão do Terminal XXI e a construção do Terminal Vasta Gama. Para que não se repita com o novo concurso para a construção do novo terminal de contentores o que aconteceu em 2019, a administração portuária está a realizar um estudo de mercado para auscultar o interesse dos operadores privados e o que esperam desta concessão.
“Em 2019, o lançamento desse concurso [para a construção do terminal] ficou deserto, muito fruto da pandemia, mas também da forma como foi lançada [a concessão e o que] exigia para os futuros concessionários ou candidatos a concessionários: um investimento muito forte. Tanto que foram aligeiradas as bases de concessão”, explicou o presidente da APS.
A construção do novo terminal Vasco da Gama, em Sines, vai custar 701 milhões de euros, sendo que vai ser lançada uma concessão de 560 milhões de euros para este projeto, que já chegou a ser lançado no passado, mas cujo concurso ficou vazio.
Questionado sobre se acredita que, desta vez, vai haver interessados na construção do novo terminal, o presidente da administração portuária acredita que a “localização de Sines” vai conseguir atrair interessados. “Neste momento temos mais de 20 rotas semanais para todo o mundo e isso é uma vantagem competitiva“, rematou.
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