Consumidores da Zona Euro antecipam nova escalada de preços

O pessimismo recresce na Zona Euro, com os consumidores a anteciparem um aumento da inflação para perto dos 3% e uma contração da economia nos próximos 12 meses.

Os europeus tornaram-se mais pessimistas sobre a inflação para os próximos meses, segundo o mais recente inquérito do Banco Central Europeu (BCE) às expectativas dos consumidores, divulgado esta sexta-feira. As famílias da Zona Euro antecipam agora que os preços vão subir mais do que inicialmente previsto, uma tendência preocupante numa altura em que o banco central procura manter a estabilidade de preços.

A mediana das expectativas de inflação para os próximos 12 meses aumentou para 2,8%, contra 2,6% em julho, ultrapassando claramente a meta oficial do BCE de 2%. Os consumidores portugueses estão entre os mais pessimistas, antecipando uma taxa de inflação de 4,9% nos próximos 12 meses (face a 4,8% em julho).

Ainda mais significativo é o facto de as expectativas para os próximos cinco anos terem aumentado ligeiramente para 2,2%, “atingindo o valor mais elevado observado desde agosto de 2022”, como sublinha o comunicado do banco central.

No capítulo dos rendimentos, os dados trazem algum otimismo. As expectativas de crescimento do rendimento nominal dos consumidores para os próximos 12 meses aumentaram para 1,1% em agosto, contra 0,9% em julho. Contudo, este aumento não se traduziu numa alteração das expectativas de consumo, que “permaneceram em 3,3% em agosto, inalteradas face a julho”.

Esta divergência sugere que as famílias europeias estão a preparar-se para um ambiente em que, apesar de perspetivarem ganharem mais, não planeiam gastar proporcionalmente mais, possivelmente antecipando pressões inflacionistas que podem corroer o poder de compra.

O pessimismo estende-se às perspetivas económicas gerais. As expectativas de crescimento económico para os próximos 12 meses mantiveram-se estáveis em -1,2%, sinalizando que os consumidores continuam a antecipar uma contração da economia.

O pessimismo estende-se às perspetivas económicas gerais. As expectativas de crescimento económico para os próximos 12 meses mantiveram-se estáveis em -1,2%, sinalizando que os consumidores continuam a antecipar uma contração da economia, e “as expectativas para a taxa de desemprego para os próximos 12 meses aumentaram para 10,7% em agosto, contra 10,6% em julho”.

O BCE destaca ainda as desigualdades sociais nestas expectativas. “As famílias de rendimentos mais baixos esperam a taxa de desemprego mais elevada daqui a 12 meses (12,6%), enquanto as famílias de rendimentos mais elevados esperavam a taxa mais baixa (9,3%)”.

O mercado imobiliário permanece uma fonte de pressão sobre a economia doméstica. Os consumidores esperam que o preço da sua habitação aumente 3,4% nos próximos 12 meses, subindo face aos 3,3% de julho. Esta escalada dos preços habitacionais contrasta com a estabilidade das expectativas sobre as taxas de juro dos créditos hipotecários, que “permaneceram inalteradas face a julho, em 4,5%”, segundos as perspetivas dos consumidores da Zona Euro.

Com a inflação atual na Zona Euro a situar-se nos 2% em agosto, alinhada com a meta oficial, as expectativas crescentes dos consumidores relativamente à subida dos preços sugerem que a batalha contra a inflação pode estar longe do fim.

Também aqui se manifestam as assimetrias de rendimento. O BCE nota que “as famílias de rendimentos mais baixos esperam taxas de juro hipotecárias mais elevadas daqui a 12 meses (5,2%), enquanto as famílias de rendimentos mais elevados esperavam as taxas mais baixas (4,1%)”.

O comunicado do BCE refere ainda que “os inquiridos dos quintis de rendimentos mais baixos continuaram a reportar, em média, perceções de inflação e expectativas de curto prazo ligeiramente mais elevadas do que aqueles dos quintis de rendimentos mais elevados”, uma tendência observada desde 2023.

Estes resultados colocam o BCE numa posição delicada. Com a inflação atual na Zona Euro a situar-se nos 2% em agosto, alinhada com a meta oficial, as expectativas crescentes dos consumidores relativamente à subida dos preços sugerem que a batalha contra a inflação pode estar longe do fim.

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