IA mais sustentável é desafio para as organizações e para um Portugal com “caraterísticas únicas”

  • Tiago Alexandre Pereira
  • 13:27

Com a expansão da inteligência artificial no tecido empresarial, a sustentabilidade surge agora como um dos maiores desafios associados a uma tecnologia de elevado consumo energético.

A utilização da inteligência artificial tem crescido de forma exponencial nas últimas décadas, transformando diversos setores da economia e impactando profundamente a sociedade. Contudo, este avanço tecnológico acarreta um custo muitas vezes invisível: o elevado consumo de energia associado ao funcionamento e ao treino dos modelos de IA.

Este foi precisamente o tema em debate esta terça-feira, numa conferência organizada pelo Instituto Português de Corporate Governance (IPCG), com o mote “Governance: Inteligência Artificial e Sustentabilidade”. Os centros de dados, infraestruturas responsáveis por armazenar e processar a informação que alimenta estes sistemas, consomem quantidades expressivas de eletricidade, levantando questões sobre sustentabilidade, emissões de carbono e o futuro energético do setor digital.

Carlos Paulino, vice-presidente da Associação Portuguesa de Centros de Dados (Portugal DC), destacou que a evolução tecnológica dos últimos anos trouxe novos desafios ao nível energético. “Se entrarmos mais numa componente mais técnica, que é a social, e a necessidade de energia, isto vem de facto de um fenómeno no qual, durante 40 anos, os processadores aumentavam a capacidade, e a capacidade aumentava com o consumo. Agora, extraordinariamente, nos últimos quatro anos, temos capacidades de processamento incríveis, necessárias para processar melhor os dados”, explicou. Segundo Carlos Paulino, este aumento de capacidade implica uma maior necessidade de consumo, tornando os data centers um dos principais centros de custo das organizações.

Para ilustrar, Carlos Paulino fez uma comparação prática: “Fazer uma pergunta ao Google representa à volta de 0,02 W, enquanto fazer uma pergunta ao ChatGPT representa pelo menos dez vezes mais. Isto significa que as nossas organizações têm de aumentar o consumo, e é necessário garantir que a eficiência está presente em todos os mecanismos.” Apesar do aumento do consumo, Carlos Paulino sublinhou que a indústria tem vindo a evoluir em termos de eficiência, implementando boas práticas contínuas ao longo dos anos.

Conferência IPCG, Governance: Inteligência Artificial e Sustentabilidade, que decorreu no CCB, em Lisboa

O vice-presidente da Portugal DC realçou ainda os esforços globais e nacionais para tornar os data centers mais sustentáveis. “Há cerca de três anos, cerca de 100 data centers a nível global fizeram um pacto voluntário de neutralidade carbónica para o período 2020-2030. Nos Estados Unidos e na Europa, estas infraestruturas estão cada vez mais reguladas e existem incentivos para garantir a eficiência energética. Hoje em dia, através da Energy Efficiency Directive, os data centers reportam cerca de 19 mil indicadores que permitem melhorias significativas na eficiência”.

Em Portugal a grande vantagem está na localização geográfica, sendo o país um hub de ligações de cabos submarinos, e também no clima, já que Portugal consegue produzir a grandes quantidades de energia vinda de fontes renováveis. “Em Portugal temos características absolutamente únicas, o que nos permite estar entre os grupos líderes de inteligência artificial na Europa”, concluiu Carlos Paulino.

“Temos que ter consciência de que cerca de 60% a 70% da energia é desperdiçada”

Gabriel Longo, Data Center Strategic Account Manager da Schneider Electric, sublinhou que é necessário utilizar a tecnologia de forma sustentável e que as organizações necessitam de ter preocupação com este tema. O executivo afirmou que a sustentabilidade é uma das bases da Schneider Electric, sendo esta alavancada por duas transições fundamentais. “Uma delas é digital e, portanto, recomenda-se que se tomem dados e se tomem decisões baseadas em dados. Portanto, transição digital para a eficiência. E a segunda é a eletrificação. A eletrificação é fundamental para a descarbonização, mas também é fundamental para a eficiência, porque a energia elétrica é uma das mais eficientes que existe no mercado”, explicou.

Segundo Gabriel Longo, estas duas transições permitem também acalmar algumas preocupações sobre o elevado consumo energético dos data centers. “É verdade que os data centers representam cerca de 1,5% do consumo de energia, e a Agência Internacional da Energia estima que este valor poderá duplicar passando para 3% até 2030. Por um lado, temos esse crescimento; por outro, temos que ter consciência de que cerca de 60% a 70% da energia é desperdiçada”, sublinhou.

O responsável destacou ainda o papel da aplicação de sistemas digitais e da inteligência artificial na redução do consumo energético. “Com a aplicação destas tecnologias conseguimos, em média, poupar cerca de 20% a 25% do consumo energético de uma empresa. Portanto, mesmo que haja um aumento de 1,5% [na utilização de data centers], conseguimos compensar com poupanças significativas, impactando positivamente a sociedade como um todo”, afirmou Gabriel Longo.

O executivo da Schneider Electric enfatizou ainda a posição privilegiada de Portugal no contexto energético europeu, com uma elevada taxa de fontes renováveis. “Em Portugal, só para se ter uma ideia, em 2024, 70% da energia consumida foi fornecida por fontes renováveis, enquanto a média da Europa está abaixo dos 50%. Isto posiciona-nos num ponto muito importante para combinar inovação tecnológica, eficiência e sustentabilidade”, concluiu Gabriel Longo.

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