Novos destinos e menos sazonalidade. Turistas procuram mais que sol e praia em Portugal
A aposta em turismo de natureza, turismo religioso e enoturismo contribuíram para reduzir a sazonalidade e dispersar os turistas por todo o território.
Responsável por 12% do Produto Interno Bruto (PIB) e por mais de 400 mil empregos, o turismo continua a crescer em Portugal. A evolução recente do setor deve-se a uma redução da sazonalidade e a uma maior repartição no território nacional, mostram os mais recentes dados do “Boletim Económico” do Banco de Portugal.
“A oferta combinada de cultura, gastronomia, bons hotéis, rotas culturais, tem permitido essa dessazonalização, ou seja, uma distribuição melhor no tempo e no espaço”, explica ao ECO Cristina Siza Vieira, vice-presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), destacando que o país “tem uma oferta de produto turístico interessante em todo o território nacional ao longo de todo o ano”.
“A quebra da sazonalidade e a descentralização é uma realidade porque as zonas que tinham mais sazonalidade, como o Algarve, apostaram em produtos fora da época e a descentralização em regiões que eram menos visitadas há alguns anos, como por exemplo a região Centro ou o Alentejo, desenvolveram imensas atividades desde gastronomia ao turismo da natureza e conseguiram atrair mais pessoas descentralizando-as dos destinos Algarve e Madeira”, explica ao ECO Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal.
A quebra da sazonalidade e a descentralização é uma realidade porque as zonas que tinham mais sazonalidade, como o Algarve, apostaram em produtos fora da época e a descentralização em regiões que eram menos visitadas há alguns anos, como por exemplo a região Centro ou o Alentejo, desenvolveram imensas atividades desde gastronomia ao turismo da natureza e conseguiram atrair mais pessoas.
Siza Vieira considera que as regiões que mais ganharam com esta descentralização “foram aquelas que partiam de menor procura turística”, como o Norte, Centro e Alentejo.
Diversos fatores estarão a contribuir para a redução da sazonalidade, como a “alteração do perfil etário dos turistas, a maior facilidade de conjugar trabalho remoto com viagens, a possibilidade de beneficiar de preços mais competitivos na época baixa ou uma maior procura de destinos que combinam atrações urbanas com o apelo tradicional do sol e mar”, assinala o BdP.
O peso das dormidas de não residentes nos meses de junho a setembro diminuiu de 48,4% em 2014 para 45,5% em 2019 e 44,1% em 2024. O Banco de Portugal assinala que “Portugal apresenta um perfil menos sazonal face a outros países da Europa mediterrânica: o peso dos meses de junho a setembro em 2024 foi de 46,7% em Espanha, 54,9% em Itália, 55,5% em França e 74,9% na Grécia”.
Em termos de regiões de destino, o regulador detalha que o “peso do Algarve reduziu-se de 36,9% em 2014 para 32,4% em 2019 e 28,4% em 2024. Em sentido oposto, aumentou o peso da região Norte (de 9,3% em 2014 para 13,2% e 15,7% em 2024) e, em menor escala, o dos Açores”.
Quando tomou posse em 2023, o presidente do Turismo do Algarve disse, em entrevista ao ECO, que um dos objetivo do seu mandato seria dissociar o Algarve de destino de sol e praia, uma meta que parece ter alcançado já que a “região tem crescido mais na época baixa do que na alta”.
André Gomes contabilizou que de janeiro e abril de 2024 a região algarvia cresceu em média cerca de 20% e entre outubro e dezembro avançou cerca de 18%, ambas em comparação com o período homologo. “Estes crescimentos estão a refletir-se também este ano”, disse o líder da entidade.
“O Algarve, que era e ainda é um grande destino de sol e mar, fez outro tipo de investimentos, nomeadamente nos congressos e no golfe”, afirma ao ECO Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP).
Para além do Algarve, que está a captar grandes eventos internacionais, como o eventual regresso de Fórmula 1 à região algarvia, Francisco Calheiros enumera ainda o turismo religioso e constata que desde o voo direto de Seul (Coreia do Sul) para Lisboa que “o turismo em Fátima tem crescido”.
“A Coreia é um país com muitos milhões de católicos e a maior parte dos coreanos não vão para Lisboa ou para Algarve, seguem diretamente para Fátima e ficam na zona centro – que tem imensas atrações para além de Fátima, nomeadamente Óbidos, Nazaré, Peniche”, diz o líder da Confederação do Turismo de Portugal.
Ainda na região Centro, o líder da Confederação do Turismo de Portugal enumera o investimento de 25 milhões de euros em Óbidos na primeira piscina de ondas para surf em Portugal. “Este equipamento vai atrair surfistas durante todo o ano”, destaca Calheiros.
Portugal perto de entrar no top 10 do ranking do turismo
“O setor turístico português é competitivo à escala mundial”, lê-se no mais recente boletim Económico do Banco de Portugal. No índice de desenvolvimento do turismo do World Economic Forum, Portugal ocupava em 2024 a 12.ª posição em 119 países (uma melhoria face à 15.ª posição de 2019).
O índice global de Portugal é similar ao da média dos países mediterrânicos da UE (Espanha, França, Itália e Grécia), destacando-se a posição mais favorável no subíndice de segurança e proteção.
A análise do “Boletim Económico” de outubro do BdP mostram que Portugal já não está longe da meta que o Governo definiu: colocar Portugal no 10.º lugar no ranking do turismo do Fórum Económico Mundial.
“Hoje, estamos em 12.º lugar e o nosso objetivo é crescer, melhorar, criar um turismo cada vez mais sustentável e mais rentável. É preciso gerar riqueza, pôr mais dinheiro no bolso das pessoas e o turismo tem um papel fundamental”, disse o ministro da Economia e Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida, o mês passado.
“O ano de 2024 foi o melhor de sempre no turismo em Portugal e o primeiro semestre de 2025 está a superar todos os indicadores de 2024. Provavelmente, 2025 vai ser o melhor ano de sempre”, disse Castro Almeida.
Portugal atrai cada vez mais turistas norte-americanos
Outro fator que se destaca é a alteração da origem dos turistas que visitam Portugal, com uma diminuição da importância dos tradicionais países emissores europeus. O Reino Unido perdeu peso, de 23% em 2014 para 19,1% em 2019 e 18,1% em 2024, mas manteve-se como o principal mercado emissor. Nos últimos cinco anos, assinale-se também a redução do peso da França, Espanha e Alemanha.
Em contrapartida, observou-se um aumento significativo do peso dos turistas oriundos dos EUA (de 2,6% em 2014 para 5,5% em 2019 e 9,2% em 2024), que se tornou o quarto país emissor mais importante.
Comparativamente ao total de turistas estrangeiros, os turistas americanos concentram-se mais na região de Lisboa, pernoitam mais em alojamentos de categoria superior, mas a estadia média é mais curta.
O relatório do BdP mostra que ano passado, a estadia média dos turistas manteve-se inalterada face a 2019, em 3,1 dias, um valor inferior ao da maioria dos outros países mediterrâneos da União Europeia (2,6 dias em França), (3,4 em Itália), (4,1 em Espanha) e (4,7 na Grécia).
Em 2024, cerca de 50% das dormidas de turistas oriundos dos EUA localizaram-se na área metropolitana de Lisboa enquanto para o total de dormidas essa percentagem foi de cerca de 30%. No caso do Algarve, o peso era de 11% para turistas dos EUA e de 28% para o total de estrangeiros.
O peso dos hotéis de 5 estrelas nas dormidas de turistas provenientes dos EUA foi de 29%, comparando com 14% no total de dormidas de estrangeiros. Os turistas dos EUA apresentavam uma estadia média de 2,3 dias.
“Na hotelaria o mercado norte-americano é fortíssimo“, nota Cristina Siza Vieira, vice-presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), realçando que os EUA são o terceiro mercado em termos de hóspedes e dormidas para o setor.
Francisco Calheiro considera que os voos diretos dos EUA para Portugal (Lisboa, Porto e Algarve) ajudaram a atrair mais turistas norte-americanos para o país. “Um destino turístico para ser desenvolvido tem que ter voos diretos”, diz o líder da Confederação do Turismo de Portugal.
Lisboa é a porta de entrada dos turistas norte-americanos, mas depois da capital vão partir à conquista de todo o território.
Siza Vieira explica que “Lisboa é a porta de entrada” dos turistas norte-americanos, mas está confiante que “depois da capital vão partir à conquista de todo o território”. Uma opinião partilhada por Francisco Calheiros que acredita que os “americanos começam por Lisboa, mas que depois vão distribuir-se pelo resto do país”.
Exportações de turismo abrandam
Os dados do “Boletim Económico” de outubro do BdP mostram que “no primeiro semestre de 2025, as exportações portuguesas de turismo continuaram a abrandar, com um crescimento homólogo de 5,6% em termos nominais, que compara com 8,8% no ano de 2024″.
O BdP avança que “a desaceleração terá resultado da evolução em volume, observando-se um crescimento das dormidas de não residentes de 1%, após 4,8% em 2024. As dormidas de turistas europeus reduziram-se ligeiramente, enquanto os turistas norte-americanos e asiáticos mantiveram crescimentos acima da média. A variação homóloga dos preços no setor manteve-se elevada, em 4,7%. Esta evolução das dormidas de não residentes e dos preços foi comum à generalidade dos países da Europa mediterrânica”.

A porta-voz da Associação da Hotelaria de Portugal afirma que o setor já estava a contar com esta “desaceleração” e justifica que Portugal “não podia ter o mesmo crescimento que registou em 2023 e 2024, anos pós Covid, com um boom explosivo em termos de receitas, taxas de ocupações e dormidas”.
Apesar do turismo em Portugal continuar em rota de crescimento, o presidente da República defende que o turismo não pode ser encarado como “o principal motor” da economia, considerando que esse é um “afrontamento com a indústria, os serviços e o comércio”. Na conferência do Dia Mundial do Turismo, Marcelo Rebelo de Sousa recordou o impacto da atividade turística no custo da habitação.
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