Inteligência artificial facilita “casamento” entre talento e empregos
Empregadores já estão a usar inteligência artificial para agilizar recrutamento de talento. Mas a tecnologia também pode ser usada pelos próprios candidatos para selecionar um trabalho mais adequado.
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A inteligência artificial (IA) já está a facilitar os “casamentos” entre o talento e os empregos. E desengane-se quem pense que essas ferramentas tecnológicas servem apenas para os empregadores escolherem melhor e de forma mais rápida os profissionais que querem encaixar nas suas equipas. Os próprios candidatos podem usar a IA para, por exemplo, filtrar e organizar as oportunidades divulgadas, otimizar o currículo ou até simular entrevistas.
Esta transformação dos processos de recrutamento é apenas um dos vários impactos que esta tecnologia já está a ter no mundo do trabalho, numa altura em que diversos estudos alertam que, a par dessas mudanças, é preciso apostar na qualificação (e requalificação) dos trabalhadores, de modo a garantir a sua empregabilidade futura.

Mas comecemos pelo recrutamento. “A inteligência artificial está, sem dúvida, a transformar a forma como os profissionais encontram oportunidades”, assegura Nuno Ferro, brand leader da consultora de recursos humanos Experis. “Desde logo, através de plataformas que recorrem a algoritmos, como o LinkedIn ou o Gloat, já é possível filtrar e organizar oportunidades de forma mais eficaz, com base nas preferências e competências de cada candidato”, indica o especialista.
Estas plataformas baseadas em IA conseguem recomendar “ofertas ajustadas” e, nalguns casos, até comparar propostas em termos de salário, condições, benefícios, cultura organizacional ou possibilidades de progressão. “Além disso, oferecem uma personalização em escala, ao fornecer sugestões de emprego alinhadas com o perfil de cada candidato, em setores e empresas que estes poderiam até, inicialmente, não ter considerado”, acrescenta Nuno Ferro.
"A inteligência artificial está, sem dúvida, a transformar a forma como os profissionais encontram oportunidades. (…) Através de plataformas que recorrem a algoritmos, como o LinkedIn ou o Gloat, já é possível filtrar e organizar oportunidades de forma mais eficaz, com base nas preferências e competências de cada candidato.”
Mas a utilidade da IA para os candidatos não se fica pela identificação de vagas. Modelos de linguagem em grande escala (LLM, na sigla em inglês) como o ChatGPT já conseguem ajudar os candidatos na preparação dos processos de candidatura e recrutamento, desde a otimização dos currículos à simulação das entrevistas, frisa o brand leader.
São os mais jovens os candidatos mais abertos a estas ferramentas, ainda que haja também profissionais mais sénior já atentos às potencialidades da tecnologia, “especialmente quando procuram mudar de carreira ou enfrentam mudanças significativas no trabalho”, aponta.
Do outro lado do processo de recrutamento, muitas já são as empresas que também admitem usar a IA na seleção de candidatos. A Caixa Geral de Depósitos, por exemplo, diz estar a testar “a reformulação automática de descrições de função, a criação dinâmica de questões de entrevista ajustadas ao perfil dos candidatos e o apoio à triagem inicial de candidaturas”. “Numa evolução futura, prevemos a introdução de assistentes virtuais com IA que permitirão uma interação mais direta, fluida e personalizada com os candidatos, reforçando a experiência de quem nos procura”, salienta fonte oficial.
"A análise automatizada de currículos (…) permite-nos acelerar a fase inicial de seleção, identificando rapidamente os candidatos que correspondem melhor ao perfil pretendido, de forma objetiva e eficiente. Ao mesmo tempo, liberta a nossa equipa de recursos humanos para se focar nas etapas mais humanas e qualitativas do recrutamento, como as entrevistas ou a avaliação do fit cultural dos candidatos.”
Já a Yunit Consulting começou a explorar o potencial desta tecnologia, “principalmente através da análise automatizada de currículos”, adianta Bernardo Maciel. “Esta abordagem permite-nos acelerar a fase inicial de seleção, identificando rapidamente os candidatos que correspondem melhor ao perfil pretendido, de forma objetiva e eficiente. Ao mesmo tempo, liberta a nossa equipa de recursos humanos para se focar nas etapas mais humanas e qualitativas do recrutamento, como as entrevistas ou a avaliação do fit cultural dos candidatos”, conta o CEO.
Formar sobre IA para dar asas aos da “casa”

O “European AI Barometer 2025” da EY defendia que a adoção da IA pelos empregadores “não deve ser encarada apenas como uma questão de investimento em tecnologia”, mas como uma transformação que exige a formação contínua dos empregados, qualificando-os e preparando-os para estas novas ferramentas.
“Os empregados precisam de formação feita à medida das suas necessidades e funções”, sublinha a consultora, no estudo que concluiu que a maioria dos trabalhadores europeus (e portugueses, em concreto) diz não estar a receber formação suficiente para usar esta tecnologia.

Vejamos, então, no terreno o que está a ser feito. No caso do retalho, na MC, o primeiro passo foi a dinamização de sessões de sensibilização, nas quais o conceito de IA foi “descomplicado”. “O objetivo não é formar especialistas em tecnologia, mas, sim, promover literacia digital nessa área e uma visão crítica e informada sobre o tema”, argumenta Sara Dias, talent acquisition leader da dona do Continente.
"O objetivo não é formar especialistas em tecnologia, mas, sim, promover literacia digital nessa área e uma visão crítica e informada sobre o tema.”
Já na tecnologia, a Closer Consulting também tem promovido programas de literacia digital e workshops (e não apenas para os seus empregados com perfil técnico), para que os trabalhadores compreendam o “potencial e os limites da inteligência artificial”.
“Além disso, investimos na formação contínua dos nossos cientistas de dados e engenheiros, com cursos avançados em machine learning, IA generativa e temas emergentes como AI ops e responsible AI”, afirma o CEO, Fernando Matos. O objetivo, garante, é que esta tecnologia seja utilizada de forma ética e estratégica pelo talento.
IA ajuda a encontrar emprego? Alguns cuidados a ter
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• Exemplos concretos de experiência continuam a ser valorizados pelos empregadores, afirma Nuno Ferro, brand leader da Experis. IA pode ajudar a construir currículos e cartas de apresentação, mas é importante sentido crítico e alguma personalização;• Garantir exatidão (e ir atualizando) nos dados colocados nas plataformas;
• Atenção à privacidade. “Os candidatos devem procurar verificar como os seus dados vão ser usados, se existe partilha com terceiros e como são realizados os processos de seleção”, aconselha Nuno Ferro.
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