Indústria do aço exige resposta firme às tarifas e Governo pede equilíbrio
Empresários alertam para perdas com as novas regras europeias, enquanto o ministro da Economia garante que Portugal não será “passivo” em Bruxelas.
A indústria metalúrgica e metalomecânica portuguesa apresentou esta quarta-feira, no evento “Aço, Quotas e Competitividade”, organizado pelo ECO com o apoio da AIMMAP, um diagnóstico claro: as novas tarifas e quotas no aço estão a criar um cenário de risco real para as exportações nacionais. Ao longo de uma manhã marcada por preocupações partilhadas, empresários e decisores concordaram ser preciso garantir, na Europa, equilíbrio entre proteger a siderurgia e não sufocar os transformadores.
Na abertura, o diretor do ECO, António Costa, lembrou que o setor bateu “um novo recorde de exportações”, vendendo ao estrangeiro “mais de 24 mil milhões de euros”, num contexto que descreveu como “tão difícil e quanto incerto”. As tarifas, sublinhou, estão a afetar profundamente a competitividade das empresas.

No primeiro painel de debate, dedicado ao tema “Matéria-prima, tarifas e sobrevivência competitiva”, António Pedro Antunes, CEO da Metalogalva, lamentou o grau de incerteza que se vive na compra de matéria-prima. “Não sabemos em que dia vai chegar [a matéria-prima aos portos]. Se chegar antes do fim do trimestre, ótimo; se não, pagamos 25% de tarifas”, apontou. Já Paulo Sousa, CEO da Colep Packaging, alertou para o erro de colocar “barreiras à entrada”, quando o que deveria acontecer “era um aumento de competitividade”. Lembrando a experiência norte-americana, avisa que “a indústria do aço dos Estados Unidos está destruída” e que é importante para a Europa não repetir os mesmos erros.
Os números apresentados pela AIMMAP ajudaram a enquadrar a dimensão da ameaça, com Rafael Campos Pereira, Vice-Presidente Executivo da AIMMAP, a assinalar que a indústria transformadora do aço representa “4 biliões de euros de volume de negócios”, enquanto a siderurgia vale apenas “200 mil milhões”. O responsável defendeu que o Governo português deve “deixar-se de hesitações e tomar uma posição” antes que seja tarde.
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Painel de debate “Matéria-prima, tarifas e sobrevivência competitiva”, com António Pedro Antunes, CEO da Metalogalva; Paulo Sousa, CEO da Colep Packaging; e Rafael Campos Pereira, Vice-Presidente Executivo da AIMMAP -
António Pedro Antunes, CEO da Metalogalva -
Paulo Sousa, CEO da Colep Packaging -
Rafael Campos Pereira, Vice-Presidente Executivo da AIMMAP
No segundo painel, o debate focou-se na “Cadeia de valor, investimento e modernização industrial”, e repetiram-se avisos sobre a importância da modernização do setor. Vítor Neves, presidente da AIMMAP, defendeu que a Europa não conseguiu cumprir a meta de ter a indústria a representar 20% do PIB e avisou que o problema não desaparece apenas com slogans. “A Europa não tem nenhuma estratégia relevante do ponto de vista da industrialização”, lamentou, sublinhando ainda que Portugal “tem vindo a acumular défices de investimento” e que só uma aposta consistente permitirá manter a produtividade e as exportações.
Pedro Dominguinhos, presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR, preferiu focar nos sinais positivos, lembrando que já estão no terreno vários projetos que começam a mostrar impacto. “A Bosch vai exportar cerca de 100 milhões de euros de uma bomba de calor desenvolvida a partir de uma agenda mobilizadora”, afirmou, defendendo que o PRR criou condições para inovação e para reforçar o elo entre as empresas e o sistema científico. No entanto, alertou que, sem planeamento contínuo, o país arrisca um “tombo em 2027” quando cessarem os fundos extraordinários.
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Painel de debate “Cadeia de valor, investimento e modernização industrial”, com Vítor Neves, Presidente da AIMMAP; e Pedro Dominguinhos, Presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR -
Vítor Neves, Presidente da AIMMAP -
Pedro Dominguinhos, Presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR
Eliminar os desequilíbrios na economia europeia
Manuel Castro Almeida, que encerrou o evento, começou por reconhecer o contexto sensível “marcado por desafios de competitividade, pela transição energética e por uma sobrecapacidade global”. O ministro da Economia assinalou que Portugal tem defendido uma posição “de equilíbrio e de prudência, não de passividade” nas negociações em Bruxelas, identificando o ponto crítico. “A competitividade das indústrias transformadoras depende do acesso a matérias-primas em condições estáveis, previsíveis e a um preço competitivo”, reconheceu.
O ministro descreveu ainda uma fileira industrial “dual, mas profundamente interdependente”, e não esqueceu que “um país que não produz aço fica extremamente vulnerável” ao contexto global. Num setor transformador que emprega cerca de 250 mil pessoas, o responsável pela Economia garantiu que a resposta política deve evitar “desequilíbrios dentro da própria economia europeia” e avaliar de forma rigorosa os impactos das novas medidas.

Para os oradores que participaram na conferência do ECO e da AIMMAP é evidente que a indústria tem capacidade para investir e inovar, apostando na conquista de novos mercados. Mas também não duvidam que são necessárias condições mínimas de previsibilidade. O setor pede, por isso, urgência na ação política para ajudar as empresas a navegar entre a pressão das tarifas e a incerteza geopolítica.
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