Conversas com energia. A aula de Moedas contra o pessimismo
Moedas fala em tom descontraído com alunos do 11º ano sobre a importância da sustentabilidade energética. Nesta “aula” promovida pela Fundação EDP, o presidente de Lisboa faz apelos à nova geração.
Apresentando-se como um contador de histórias, foi assim que Carlos Moedas deu início à “aula” de abertura do programa “Conversas com Energia”, realizado esta quinta-feira pela Fundação EDP, no museu Maat. O presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML) tomou palco no seio de um auditório onde duas frentes de alunos do Agrupamento de Escolas D. Filipa de Lencastre, em Lisboa, se fitaram diretamente prontos para o debate. Contudo, no lugar do confronto, Moedas deixou antes uma mensagem solidária e de esperança para com as gerações mais novas.
Num ambiente marcado pela organização, mas também por um tom pessoal, Carlos Moedas considera que os jovens são hoje “inundados com o pessimismo”, em não menor parte pelas advertências e preocupações pelos seus pares. Em mensagem de solidariedade contra este pessimismo, Moedas invoca a era Obama para destacar que o período atual, em termos de tecnologia e na medicina, representa o melhor período existente na história do Homem, pelo que os jovens, num cenário hipotético, não iriam escolher outro período para viver.
Para o dirigente da CML “a pandemia aconteceu no momento certo” pois desde o aparecimento dum novo tipo de vacinas em 2014, “hoje não há vacina que não se consiga fazer para esta nova doença”, esclarece. Em seguida, Moedas passa o holofote para os mais jovens e admite que esta inovação é hoje representada pelas novas gerações.
Apontando o medo paralisador que considera ser incutido aos jovens de hoje, Moedas sublinha que existem formas de combater atualmente as mudanças climáticas sem ceder ao pânico, mas sublinha que para isso é preciso entender o que está em causa e arranjar soluções além das avançadas pela tecnologia, nomeadamente nos hábitos das pessoas.
O presidente da CML sublinha que pouco adianta falar de mudanças climáticas sem “falar do concreto”, e destaca como o conceito de neutralidade carbónica perde o seu sentido se a sua relevância não estiver clara para os jovens. Neste sentido, Moedas apontou ainda para uma das suas apostas junto da União Europeia, um concurso para definir as cem cidades a liderar na descarbonização europeia até 2030.
Moedas destaca que Lisboa concorreu e venceu, garantindo um lugar neste grupo de cem cidades a liderar, pelo exemplo, na neutralidade carbónica, mas para o responsável isto só foi possível através de medidas concretas. O presidente da CML dá como exemplo a troca das 70 mil lâmpadas que iluminam Lisboa, “se eu mudar as lâmpadas todas para lâmpadas LED, eu vou poupar 80% da energia”, garante, tendo sido este o primeiro projeto avançado.
O projeto, diz Moedas, representa uma mudança impactante que cada jovem pode fazer em sua casa, mas não é o único esforço possível. Apontando agora para o esforço energético gasto no tratamento de água potável, o presidente da CML considera não fazer sentido gastar os mesmos recursos no tratamento de água destinada à lavagem das ruas ou para rega. Como tal, o responsável avançou com um sistema de rega, destinado a uma área de 30 hectares no norte do Parque das Nações, através do uso de uma “água inferior”, de modo a poupar energia no seu tratamento.
Para o líder da CML, a identidade política dos jovens já não se distribui entre esquerda e direita, avançando que estes se questionam primeiro sobre “quem está a salvar o planeta?” Neste sentido, medidas como os transportes gratuitos para cidadãos jovens e mais velhos, representam “medidas que vocês percebem”, diz Moedas. Ao incentivar os transportes coletivos e “unirmos toda a gente”, a notícia desta medida tornou-se “imediatamente europeia”, garante o presidente da CML, pelo que é assegurado um exemplo junto dos jovens eleitores.
Em debate com os alunos
Em sessão de perguntas e respostas, o debate ganha contornos práticos com os jovens a apontar para a importância da luta alinhada com a preocupação social. Para o dirigente da CML esta é uma questão essencial, a qual deve estar assente na aposta tecnológica e nas cidades.
Caracterizando o que chama de “estado social local”, Moedas destaca a importância de complementar a proteção social que o Estado já não consegue dar. Para este fim, o responsável aponta para a utilização de energia solar no edifício da CML, e o envio do excedente para os bairros sociais lisboetas, onde residem 60 mil dos mais de 540 mil habitantes de Lisboa; mas também destaca a concessão de alojamento às forças policiais, e professores, de modo a estes conseguirem viver em Lisboa no caso de se deslocarem de outras partes do país.
Notando o interesse na política por parte dos jovens presentes, as questões dirigidas a Moedas centraram-se ainda no uso excessivo de plásticos. Para o dirigente da CML, a pandemia gerou um “retrocesso” nos esforços para a redução do uso do plástico, mas mantém que quem o usa deve ser penalizado, e apela aos jovens a recusarem produtos com este recurso. Sublinhando que os plásticos são uma preocupação pessoal, Moedas apelou aos jovens “recusem palhas de plástico”, um apelo que garantiu sorrisos de parte da plateia.
Por outro lado, confrontado com críticas à qualidade dos transportes públicos, Moedas é direto, e sublinha a necessidade de investir mais em autocarros elétricos e a gás. O responsável político reconhece que “Lisboa tem uma rede muito pobre em transportes”, mas para a sua melhoria, Moedas aposta na utilização de fundos europeus, e de um investimento ainda superior.
No entanto, o presidente da CML também reconhece que embora possa parecer paradoxal, o apoio descontado ao estacionamento em Lisboa, para os seus residentes, trata-se de uma medida necessária, e dirigida principalmente a idosos. “A ideia de fechar todas as ruas de Lisboa não vai acontecer”, esclarece Moedas, mas o motivo disto prende-se com a necessidade da população idosa necessitar de maior flexibilidade e qualidade no transporte, garante.
A reação
Foi a primeira vez que Matilde, Ana Maria, e Carolina, parte do grupo de alunos presente na conversa desta quinta-feira, tiveram uma conversa direta com responsáveis políticos. As três consideram positivo o tema apresentado, e destacam especialmente a forma inovadora de abordar este tema junto dos jovens. Para as alunas, o discurso de Moedas ficou marcado por uma falta de alarmismo no tom do orador, uma característica que consideraram comum nas discussões relativas às mudanças climáticas. Entre todas as medidas ouvidas, agradou em particular ao trio de alunos a gratuidade dos transportes públicos, pois consideram que “esta é a medida que mais nos afeta”, sublinhando o seu carácter positivo.
Já Isabel Ribeiro, professora do Agrupamento de Escolas D. Filipa Lencastre, confessa que as expectativas relativamente à “conversa” foram ultrapassadas. Para a professora a sessão beneficiou de uma interação “muito agradável” entre os alunos e o responsável da CML, e manifestou ainda o interesse no envio de uma carta à câmara com sugestões, por parte dos alunos, para intervenções sustentáveis na cidade.
Isabel Ribeiro admite também que o interesse dos alunos neste tema nasce em parte do projeto do grupo Erasmus, Acting Out For The Future, um programa no qual é incentivada a interação dos jovens na vida civil, nomeadamente na sustentabilidade. Já a caminho da saída, a professora considera que o evento está “de parabéns” e manifesta o expresso interesse na próxima sessão.
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